28 Abril 2018
Alguns especialistas destacam que ao menos oito bispos da Igreja católica chilena poderão ser removidos e até receber sanções do Vaticano, na esteira dos escândalos de pedofilia e abusos sexuais.
A reportagem é de Fausto Triana, publicada por Prensa Latina, 27-04-2018. A tradução é do Cepat.
A data desta eventual sacudida de parte da hierarquia católica no Chile aponta para a terceira semana de maio próximo, quando o Papa Francisco convocou uma reunião com os bispos do país, em Roma.
O Sumo Pontífice, em um texto divulgado na Conferência Episcopal do Chile, reconheceu ‘graves erros de avaliação e percepção’ em relação aos casos denunciados de abuso sexual da Igreja católica.
Ao mesmo tempo, admitiu erros ‘por falta de informação verdadeira e equilibrada’, um assunto que prejudicou o impacto de sua visita ao país, em janeiro.
‘Desde já peço perdão a todos aqueles que ofendi e também espero poder fazer isso pessoalmente, nas próximas semanas, nas reuniões que terei com representantes das pessoas entrevistadas’, sustentou.
Inicialmente, esta espécie de mea culpa do Papa Francisco foi recebida com esperança e ceticismo, mas o inevitável vazamento de informações, junto a uma análise mais exaustiva do que foi escrito pela máxima figura do Vaticano, apostam em uma sanção sem precedentes.
Há vários anos, ministros da Igreja em numerosos países foram acusados de abusar sexualmente de seminaristas e seguidores da religião, atos de homossexualidade e práticas pedófilas.
Teresa Marinovic, licenciada em filosofia e católica praticante, revelou em um extenso comentário nas redes sociais que na carta do Papa Francisco há uma mensagem oculta, muito mais profunda do que parece. Segundo Marinovic, a renúncia de Bento XVI ao Vaticano teve ligação com a sua impotência ao não poder enfrentar as acusações de abuso sexual da Igreja em suas diferentes dioceses pelo mundo.
Ao mesmo tempo, elogiou a capacidade do Papa Francisco de se reinventar, quando, com efeito, as redes e mecanismos de investigação e informação da Igreja católica no Chile ocultaram ou distorceram fatos amplamente denunciados.
O sacerdote jesuíta Felipe Berríos disse receber com esperança a mensagem de Francisco, ainda que isto também pode confirmar a existência de uma máfia no interior do clero.
Em fevereiro, dom Charles Scicluna, bispo de Malta, visitou o Chile na qualidade de promotor do Vaticano para aprofundar as denúncias contra o bispo de Osorno, Juan Barros, acusado de cumplicidade com o defenestrado padre Fernando Karadima.
Karadima foi responsabilizado pelos atos de pedofilia e abuso sexual, enquanto testemunhas acusam Barros de não apenas ocultar o ocorrido, mas de também ter contribuído para isso.
O padre Berríos destacou que a carta do Papa ‘confirma muitas intuições que se tinha (...). Espero que, de agora até a viagem dos bispos (ao Vaticano), não prossiga esta máquina de desinformação que há na Igreja Católica’.
‘Acredito que há uma máfia. Não esqueçamos que o Papa Bento renunciou porque não pôde com isto, e disso é que tenho medo, que esta máquina continue funcionando com secretismos, influências subterrâneas, coisas desinformadas (...)’, acrescentou.
Juan Carlos Cruz, James Hamilton e José Andrés Murillo indicaram que avaliam de forma positiva a mensagem de Jorge Mario Bergoglio. São três das vítimas de abusos sexuais, atualmente profissionais que gozam de prestígio no Chile.
Finalmente, após uma reflexão conjunta, decidiram aceitar o convite do Vaticano para ir a Roma conversar sobre estes assuntos.
‘O dano cometido pela hierarquia da Igreja chilena, ao qual o Papa se refere, afetou muitas pessoas, não só a nós’, apontaram em um comunicado.
Cruz, Hamilton e Murillo, vítimas de Karadima, destacaram que o sentido de suas ações sempre apontou para o reconhecimento, o perdão e a reparação pelo que se sofreu.
‘E continuará sendo assim, até que a tolerância zero frente ao abuso e acobertamento na Igreja se torne realidade’, sentenciaram.
De acordo com fontes confiáveis, dom Scicluna apresentou ao Papa Francisco um contundente relatório com mais de 2.000 páginas e gravações de inúmeros depoimentos recolhidos em suas pesquisas no Chile.
Embora autoridades eclesiásticas tenham tomado o cuidado de não revelar detalhes do conteúdo do expediente aberto por Scicluna, é evidente que o receio é grande e os temores de que cabeças rodarão crescem a cada minuto.
Dois bispos que foram próximos a Karadima se desligaram de seu antigo mentor com diversas justificativas e outra personalidade importante, o arcebispo de Santiago do Chile, Ricardo Ezzati, foi pela primeira vez vertical seus comentários.
Ezzati afirmou, no encerramento de uma Assembleia Extraordinária de Presbíteros de Santiago, que sem dúvidas o bispo Juan Barros deve renunciar a seu cargo após a investigação aberta contra ele por denúncias de acobertamento de pedofilia.
Isaac Givovich, vítima e denunciante da congregação dos Irmãos Maristas, declarou que ‘tudo isso é uma luz de esperança. A vinda de Scicluna ao Chile abriu uma caixa de pandora do que é a Igreja Católica chilena’.
‘Pessoalmente, quando em uma parte fala da crucificação da infância, de como nos tiraram a infância, mexe muito comigo, porque é justamente nosso relato, o que entregamos a Scicluna’, disse, em referência ao texto do Bispo de Roma.
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Chile. Sacudida de bispos católicos pelo Vaticano? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU