25 Abril 2018
O equilíbrio da Igreja recorda o da bicicleta, que cai se estiver parada, mas “vai bem” se está em movimento. E é justamente contra o imobilismo, a rigidez do “sempre se fez assim”, que nos torna “prisioneiros das ideias”, as resistências ideológicas a toda mudança sugerida pelo Espírito, que o Papa Francisco advertiu nessa terça-feira, 24 de abril, durante a missa celebrada em Santa Marta.
Francisco convidou a pedir ao Senhor “que nos dê a graça de saber resistir àquilo que devemos resistir, àquilo que vem do maligno, àquilo que nos tira a liberdade”. E que “o Senhor nos dê a graça” de saber nos abrirmos “às novidades, mas apenas aquelas que vêm de Deus, com a força do Espírito Santo”, e “nos dê a graça de discernir os sinais dos tempos para tomar as decisões que nós deveremos tomar naquele momento”.
A reportagem é de L’Osservatore Romano, 24-04-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Quando, por causa da perseguição que irrompeu em Jerusalém, os discípulos se dispersaram e semearam a palavra de Deus – explicou o pontífice –, começou o diálogo entre eles e as pessoas que não eram de seu povo, pessoas com outra cultura, outro pensamento, outra filosofia, outra língua, mas eles seguiram em frente.”
Em particular, alguns discípulos “começaram a pregar o Evangelho a essas pessoas que não eram judias, do povo de Deus”, continuou. A pregação do Evangelho aos “pagãos era uma novidade: uma das primeiras novidades da Igreja”, observou Francisco, ressaltando: “Nós sabemos que Deus é o Senhor das novidades e sempre vem ao nosso encontro com algo novo, nunca se repete, nunca, é original em si mesmo”.
“Diante das novidades de Deus, há atitudes diferentes”, reconheceu o papa. “Nós, na liturgia de hoje, vemos duas delas, ambas de resistência à novidade, de resistência às mudanças”, explicou. E assim, disse ele, referindo-se à passagem dos Atos dos Apóstolos (11, 19-26), “na primeira leitura, o fato de pregar Jesus Cristo aos pagãos é uma novidade e não entrava na cabeça do povo de Deus”. E, “por isso, aqueles de Jerusalém ficaram um pouco inquietos e enviaram Barnabé” para Antioquia “para ver um pouco”. Então Barnabé “fez uma visita canônica lá para ver como andava aquela Igreja”.
“Essa resistência à novidade, isto é, a pregar o Evangelho aos não judeus, também se vê no problema que Pedro teve quando foi ao encontro de Cornélio”, continuou o pontífice, citando outro episódio relatado nos Atos dos Apóstolos e recordando “o escândalo que, depois, aqueles de Jerusalém fizeram: ele teve que ir lá, explicar o que havia acontecido”. Mas, “depois do diálogo, sentiram que havia ali uma coisa de Deus; que era justamente o Espírito que os impulsionava para essa novidade: ‘Se eles, primeira regra, querem fazer parte de nós, que façam todos os ritos de iniciação judeus e depois farão parte de nós, e depois o Evangelho’”.
Assim, “rezaram, buscaram a luz do Senhor, souberam discernir os sinais dos tempos”, relembrou Francisco. E “talvez recordaram aquelas palavras de Jesus: ‘O Espírito Santo lhes ensinará tudo e lhes recordará’”. Então, prosseguiu o papa, “há o Espírito que lhes dava essa sabedoria nova e, assim, abriram-se ao Espírito Santo, e a Igreja seguiu em frente, e os pagãos foram admitidos na Igreja sem passar pelos ritos de iniciação judaica”. E “essa é a grande primeira novidade da Igreja, e eles conseguiram fazer a mudança”. Com “uma primeira resistência, mas aberta: isso é normal, é normal de acordo com Deus”.
Na realidade, “eles – afirmou o pontífice – permaneceram dóceis ao Espírito Santo para fazer algo que era mais do que uma revolução, uma mudança forte: no centro, estava o Espírito Santo, não eles; o Espírito Santo, não a lei”. Assim, “a Igreja era uma Igreja em movimento, uma Igreja que ia além de si mesma”. Então, “não era um grupo fechado de eleitos, mas uma Igreja missionária: de fato, o equilíbrio da Igreja, por assim dizer, está precisamente na mobilidade, na fidelidade ao Espírito Santo”.
“Alguém dizia que o equilíbrio da Igreja se assemelha ao equilíbrio da bicicleta: ela está firme e vai bem quando está em movimento; se você a deixar parada, ela cai”, disse o papa, afirmando que é “um exemplo bom”, porque nos lembra de “ir em movimento de acordo com o Espírito Santo”. E o Espírito, que é “o centro”, nos torna “livres, com a liberdade dos filhos de Deus: se aquela primeira resistência, que é uma coisa humana também, não é ruim, mas tem essa novidade, deve ser esclarecida no discernimento, na oração e depois é assumida e quer seguir em frente”. E “essa é uma primeira atitude diante das resistências”.
“O outro exemplo é a resistência dos doutores da lei, que se vê bem no início do Evangelho”, disse Francisco com referência ao trecho evangélico de João (10, 22-30) proposto pela liturgia. “Já no fim da vida, era inverno, Jesus caminhava no templo, no pórtico de Salomão”, explicou o papa. Então, “os judeus se aproximaram dele, e esse grupinho lhe dizia: ‘Até quando você vai nos manter na incerteza? Se você é o Cristo, diga-nos abertamente’. E Jesus os olhava e lhes respondeu: ‘Eu lhes disse e não acreditaram. As obras que eu faço’”.
Mas eles, continuou o papa, “voltam à mesma pergunta, são incapazes de sair daquele mundo fechado, são prisioneiros das ideias. Receberam a lei que era vida, mas a ‘destilaram’, a transformaram em ideologia e assim giram, giram e são incapazes de sair, e qualquer notícia para eles é uma ameaça”. E, “por isso, acabaram matando Jesus. Estão apegados à letra das coisas, estão apegados àquele fechamento que eles fizeram, ideologizando a lei do Senhor”.
“Essa resistência é tão difícil de curar, é preciso uma graça muito grande do Espírito Santo”, afirmou o pontífice. Tanto que, “depois de três anos”, passados “escutando a Jesus, discutindo com Jesus, vendo os milagres”, eles lhe perguntam: “Mas, então, até quando você vai nos manter na incerteza?”. Em suma, “não entenderam, não deixaram entrar nada de Jesus: fechados”. E “esse fechamento se torna rigidez, e eles não têm o Espírito Santo no centro. Não são livres filhos de Deus”: no centro, colocam “a si mesmos, fechados, rígidos”, vivendo “com aquele modo de defender a revelação de Deus que era ideológico e não estava aberto ao Espírito Santo que estava fazendo tantas mudanças”. Eram pessoas “que sempre voltavam ao mesmo, e nada as fazia felizes”.
A elas, Jesus, “com um pouco de ironia”, diz: “Mas vocês são como aquelas crianças sentadas na praça que dizem às outras: ‘Tocamos flauta para vocês, e vocês não dançaram, cantamos um lamento, e vocês não bateram no peito’. Mas nada está bom para vocês? Só a rigidez às ideias e o ‘sempre se fez assim’”.
“Essa é a ortodoxia dessa gente que fecha o coração às novidades de Deus, ao Espírito Santo”, insistiu o papa. “Essa gente – acrescentou – não sabe discernir os sinais dos tempos. Querem uma Igreja, queriam isso, uma sinagoga, uma Igreja fechada, rígida, não aberta às novidades de Deus”. Em vez disso, “a outra atitude, a dos discípulos, dos apóstolos, é uma atitude de liberdade, a liberdade dos filhos de Deus”.
Portanto, reconheceu o pontífice, “eles têm resistência no início”. Mas “isso não é apenas humano, é uma garantia de que não se deixem enganar por qualquer coisa e, depois, com a oração e o discernimento, encontram o caminho”. Porque “sempre haverá resistências ao Espírito Santo, sempre, até o fim do mundo”.
Em conclusão,
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Francisco, a Igreja e a bicicleta. "O equilíbrio da Igreja está precisamente na mobilidade, na fidelidade ao Espírito Santo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU