19 Março 2018
“Não é impossível encontrar razões para se encontrar”, diz o Papa Francisco em uma carta enviada a todos os argentinos através do presidente da Conferência Episcopal, Oscar Ojea, bispo de San Isidro. Na nota, que, por sua vez, responde à saudação que um grande grupo de argentinos e argentinas de diferentes procedências políticas, sociais, religiosas e profissionais lhe fez chegar dias atrás e por ocasião do quinto aniversário do seu pontificado, Bergoglio destaca que “a unidade é superior ao conflito” e expressa sua satisfação com o fato de que “nesta carta uniram-se pessoas de diferentes procedências religiosas, políticas e ideológicas”.
A reportagem é de Washington Uranga, publicada por Página/12, 18-03-2018. A tradução é de André Langer.
A nota à qual o Papa faz referência traz assinaturas tão diversas quanto a do vice-presidente Gabriel Michetti, líderes políticos da oposição, de organizações sociais e populares. A iniciativa, de acordo com alguns dos mentores, nasceu do dirigente Juan Grabois, um dos signatários, e depois de vários ajustes, concensuou-se rapidamente um texto que permitisse uma expressão coletiva acima das diferenças.
Desta forma, uma versão original que se referia às resistências que Francisco encontra em parte de alguns argentinos, foi finalmente substituída por um parágrafo que afirma que “nós, argentinos, o amamos muito. Valorizamos muito seu tenaz trabalho pela paz e a justiça em todo o mundo, apesar das resistências que suscita entre aqueles que podem ver afetados interesses que não são legítimos”.
Francisco, questionado de diferentes lugares, mas especialmente pelo governo e por fileiras do partido no poder por seus gestos pastorais e porque não visita a Argentina, afirma em sua carta que “meu amor pela minha Pátria ainda é grande e intenso”. Também assinala que “rezo todos os dias por isso, meu povo que tanto amo” e “para aqueles que podem ter se ofendido com alguns dos meus gestos, peço-lhes perdão”.
Na nota que Francisco havia recebido anteriormente, os signatários manifestaram-lhe que “embora queiramos e ansiamos sua visita, aceitamos a espera, porque sabemos que ela acontecerá quando sentir que é a melhor hora e confiamos em você”.
Através da sua carta, embora sem fazer menção explícita, o Papa agora também vai ao encontro daqueles que o acusam de intenções políticas partidárias em suas ações. “Posso assegurar – ele diz – que a minha intenção é fazer o bem e que, nessa idade meus interesses têm pouco a ver comigo”.
Mas ele também lembra que hoje está comprometido com uma tarefa mais ampla e reconhece a possibilidade de seus erros: “embora Deus me tenha confiado uma tarefa tão importante e Ele me ajuda, Ele não me libertou da fragilidade humana. Por isso, posso cometer erros como qualquer pessoa”, escreveu.
Aqueles que frequentam o Papa garantem que Bergoglio vive com tristeza o fato de que líderes políticos e comunicadores sociais o apontem como responsável pelas divisões existentes entre os argentinos e o acusem de alimentar disputas entre seus compatriotas.
A carta, de apenas uma página, foi publicada no mesmo dia em que foi anunciada a notícia da nomeação de um bispo negro, León Kalenga Badikebele, de nacionalidade congolesa, como novo núncio do Vaticano (embaixador) na Argentina. A carta do Papa não só expressa seu sentimento afetuoso em relação à sua pátria e ao povo argentino, mas responde de maneira sucinta a muitas das críticas que vem recebendo ultimamente em seu país.
“Se alguma vez se alegraram pelas coisas que fiz bem, quero pedir-lhes para senti-las como suas”, diz Francisco. Porque “vocês são o meu povo, as pessoas que me formaram, me prepararam e me ofereceram para servir as pessoas”. E também concorda com a posição de que a atual liderança do Episcopado está destacando o significado de um argentino ocupar hoje o lugar da sucessão do apóstolo Pedro na Igreja. “Ainda não tivemos a alegria de estarmos juntos na nossa Argentina, mas lembrem-se de que o Senhor chamou um de vocês para levar uma mensagem de fé, misericórdia e fraternidade a muitos cantos da terra”, diz Bergoglio.
O Papa também eleva sua oração “por todos vocês” e “para que sejam canais do bem e da beleza, para que possam contribuir para a defesa da vida e da justiça, para que semeiem paz e fraternidade, para que melhorem o mundo com o seu trabalho, para que possam cuidar dos mais fracos e compartilhar com as mãos cheias tudo o que Deus lhes deu”, fazendo uma síntese que condensa os principais princípios de sua pregação habitual.
Francisco conclui sua carta aos argentinos com a saudação que tem sido característica desde o início do seu pontificado pedindo “aos que têm fé (...) para que rezem por mim e àqueles que não têm fé, peço-lhes que me desejem coisas boas”. Ele finaliza sua carta, dizendo: “com carinho de irmão e pai”.
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“A unidade é superior ao conflito”. Carta de Francisco aos argentinos, no quinto aniversário de sua eleição como pontífice - Instituto Humanitas Unisinos - IHU