17 Março 2018
“Resistências. Francisco, como todos os papas, gerou resistências fora e dentro da Igreja. Por quê?” A pergunta é da mais importante revista do mundo dos jesuítas, a Civiltà Cattolica, fazendo um balanço, em um editorial, dos primeiros cinco anos de pontificado. Trata-se de um balanço longamente ponderado pelo grupo de escritores jesuítas da publicação quinzenal e, portanto, se fala de resistências, isso significa que se trata da realidade, e não apenas de invenções jornalísticas.
A reportagem é de Carlo di Cicco, publicada por Tiscali, 16-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas quais são os motivos mais importantes na origem de tais resistências, embora esteja claro que “a raiz profunda deste pontificado é a fé em que Deus está ativo e em ação no mundo”?
“Alguns acreditam que Deus se retirou, que o mundo já está nas garras do mal, e que a própria Igreja deve se retirar do mundo e do seu pó, para se manter pura e esplêndida”.
Um motivo ideológico, portanto, assim como é ideológica a convicção de outros, de que “o catolicismo deveria ser conservado por uma minoria de puros que preservem sua doutrina em um caixão e que não se contaminem no mundo, na história, na realidade”.
Todos estes temem que Francisco coloca a própria Igreja em risco, porque não vê hostilidades entre praça e Igreja, “para deixar as pessoas entrarem, sim, mas sobretudo para deixar Cristo sair, sem fechá-lo dentro a chave. À ideia de um cristianismo feito de grupinhos de puros, contrapõe-se a visão de Cristo que quer sair do Templo para sua missão”.
Para Francisco, de fato, “o Evangelho é o talento a ser gasto e frutificado. A Igreja deve sair às ruas, sujar-se e talvez se ferir. As resistências atacam e contrastam essa visão da Igreja, entendida também como ‘tocha’ que caminha e vai por toda a parte. Elas gostariam que ela fosse somente como um ‘farol’ que está parado onde está, na sua estaticidade: atrai e consola, mas não acompanha. As resistências a Francisco são as resistências ao Concílio”.
Resistências nada novas, que começaram de forma virulenta desde que São João XXIII anunciou a intenção de reunir um concílio para atualizar a Igreja e seu modo de estar no tempo presente. Contraste que continuou na resistência organizada, embora minoritária, durante os quatro anos do Concílio e que explodiu nos anos posteriores, até o cisma do bispo Lefebvre.
Essa resistência não venceu, certamente, mas condicionou muito a obra de atualização, atrasando-a e reduzindo-a. Mas agora há algo de novo na resistência a Francisco. Enquanto, até hoje, a oposição era, em síntese, “gramaticalmente correta”, isto é, “capaz de criticar ações do pontífice no cargo, salvaguardando, porém, sua figura e seu ministério, agora, em vez disso, ela muitas vezes parece ser totalmente ‘desgramatical’, isto é, incapaz de falar a linguagem eclesial, e até mesmo divisiva sobre questões decisivas como a autoridade eclesiástica ou a liturgia. Isso envolveu até mesmo altos prelados e também a intervenção da Sala de Imprensa da Santa Sé para corrigir interpretações erradas. Em um caso grave, o próprio pontífice teve que intervir”.
Soma-se a isso também “o uso de fake news espalhadas por uma densa rede de blogs e mídias sociais que também se declaram ‘católicos’. Basicamente, no julgamento sobre o papado de Bergoglio, reflete-se uma luta entre bem e mal que não deve surpreender, conclui a revista jesuíta, porque é expressão daquela luta mais geral entre Deus e o diabo que atravessa a história humana.
Nesse sentido, o fato é que o pontificado de Francisco também é “íntima e profundamente dramático”. Mas também se tem a certeza de que o papa jesuíta continua sendo um lutador que permanecerá fiel no campo de Deus.
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Resistências contra o Papa Francisco no Vaticano: o editorial da Civiltà Cattolica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU