16 Março 2018
É difícil não defini-lo, ao menos, como desordem. O escritório de imprensa da Santa Sé omitiu da carta do Papa emérito Bento XVI uma frase que soa como tomada de distância de seus livros teológicos, e projeta alguma sombra na relação entre os dois.
A reportagem é de Massimo Franco, publicada por Corriere della Sera, 14-03-2018. A tradução é de Ramiro Mincato.
Monsenhor Dario Viganò, o homem da comunicação de Francisco, havia lido a parte em que Bento sublinha uma "continuidade interna" com seu sucessor; elogiava a iniciativa dos onze livros apenas publicados, o esforço teológico de Jorge Mario Bergoglio.
Já a mensagem em si parecia incomum: como se Francisco quisesse uma legitimação doutrinal de Bento, grande teólogo, para apresentar seu esforço editorial. A ocasião do quinto aniversário da eleição era um bom motivo para justificá-la. Ontem, no entanto, vazou que Viganò não lera a mensagem completa. O blog Settimo Cielo, muitas vezes crítico com Francisco, revelou a falta do último parágrafo, sete linhas surpreendentes.
Percebe-se que houve um pedido de "recensão", ao qual, o emérito pontífice, parece ter rejeitado, chamando-os de "pequenos volumes". A frase omitida, não por acaso filtrada pelas instâncias vaticanas, recita textualmente, depois de muitos elogios a Francisco e à iniciativa: "Não tenho vontade de escrever uma página teológica curta e densa sobre eles, porque em toda a minha vida sempre foi claro que eu escreveria e me expressaria somente sobre livros que eu tivesse realmente lido”.
E nas linhas finais, no contexto do que aconteceu, os opositores do Papa, provavelmente, encontrarão novas saídas: "Infelizmente, mesmo por razões físicas", escreve Bento, "eu não estou em condições de ler os onze volumes em futuro próximo, tanto mais que me aguardam outros compromissos já assumidos". Sabemos que Bento XVI é particularmente frágil, que diminuiu não apenas seus poucos compromissos, mas também as caminhadas nos jardins do Vaticano. Mas, impressiona um pouco, que ponha por escrito que não terá tempo para ler a suma teológica de Bergoglio. Um detalhe: a carta a Viganò é de 7 de fevereiro, em resposta a uma carta ao prefeito para comunicação de 12 de janeiro e tornada pública apenas em 12 de março. Parcialmente.
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Uma frase de Bento omitida na carta a Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU