15 Fevereiro 2018
Um escândalo envolvendo uma agência de caridade antipobreza britânica no Haiti trouxe impactos à CAFOD, a Agência Católica para Cooperação Internacional da Inglaterra e País de Gales.
A reportagem é de Charles Collins, publicada por Crux, 13-02-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Uma série investigativa publicada pelo jornal inglês The Times revelou que funcionário da Oxfam contratou prostitutas em festas sexuais dignas de "Calígula", enquanto davam suporte no Haiti em 2011. O jornal alega que algumas prostitutas podem ser menores de idade.
A Oxfam é uma agência de apoio internacional global fundada em Oxford em 1942. Hoje, compõe-se de 19 comitês internacionais e é uma das maiores federações mundiais de apoio.
Foi revelado que uma das pessoas acusadas de má conduta sexual mais tarde começou a trabalhar para a CAFOD nas Filipinas, depois de deixar a Oxfam.
"A CAFOD tem uma abordagem de tolerância zero a má conduta que viola o nosso Código de Conduta, como fraude, abuso, intimidação e outros atos", disse Chris Bain, diretor da agência católica.
Ele declarou, em um comunicado, que a CAFOD tem “políticas e práticas robustas de proteção e delação em vigor para garantir que as pessoas vulneráveis sejam protegidas", mas disse que a organização está empenhada em "revisar os nossos procedimentos regularmente".
A crise atingiu a Oxfam com força: Penny Lawrence, vice-presidente executiva da Oxfam, demitiu-se depois de declarar que tomou "total responsabilidade", mas a agência enfrenta ameaças de cortes de financiamento do governo do Reino Unido. A União Europeia também afirmou que seu financiamento à agência de caridade pode estar em risco se não forem postas em prática novas políticas de proteção, e doadores corporativos também estão questionando a agência de auxílio.
Desde sexta-feira, o The Times tem publicado relatórios diários sobre a história, observando que, na sequência do devastador terremoto de 2010 do Haiti, o diretor da Oxfam para o país, Roland van Hauwermeiren, usou sua mansão - alugada pela Oxfam - para festas sexuais com prostitutas, envolvendo outros funcionários da Oxfam.
O jornal alega que a agência de caridade tinha sido informada das alegações de que Van Hauwermeiren teria cometido falta grave, liderando uma missão na nação africana do Chade, em 2006, antes de ser encarregado de operações no Haiti.
"Naquela época, a contratação de prostitutas não era explicitamente contrária ao código de conduta da Oxfam - mas levar a Oxfam ao descrédito por abusar de pessoas que poderiam ser beneficiárias certamente era”, disse à BBC Mark Goldring, diretor executivo da Oxfam da Grã Bretanha. "Houve uma exploração sobre como a organização deveria responder, mas não agimos a respeito."
O The Times relatou, em 10 de fevereiro, que um atual funcionário da CAFOD havia sido citado como membro da equipe da Oxfam que tinha trabalhado no Haiti em 2011 e foi acusado de má conduta.
Bain disse que a CAFOD não tinha conhecimento sobre as alegações contra o funcionário, e que ele recebeu duas cartas de referência no momento de sua contratação.
"Na sequência das preocupações levantadas neste artigo, o funcionário está de licença enquanto examinamos as questões levantadas e seguimos o protocolo do nosso Código de Conduta para determinar os próximos passos", disse Bain.
Bain disse que a CAFOD está aderindo a uma iniciativa com outras agências de desenvolvimento internacionais com sede no Reino Unido e a Comissão Caritativa, o departamento do governo que regula as instituições de caridade registradas na Inglaterra e no país de Gales, para reforçar o compartilhamento de informações trans-setorial e a proteção de pessoas vulneráveis.
Esse compartilhamento de informações é especialmente importante no setor do auxílio internacional. Muitas ONGs trabalham em áreas de desastre e financiam projetos de curto prazo, o que significa que pode haver flutuação de funcionários, que mudam de agência para agência. Diferentes grupos de auxílio muitas vezes dependem muito de cartas de recomendação recebidas de empregadores anteriores para tomar decisões de contratação.
"É desanimador que as ações de alguns funcionários inescrupulosos possam minar a confiança no trabalho para salvar vidas realizado pelo desenvolvimento exterior e pelas agências humanitárias, como a CAFOD, que trabalha lado a lado com algumas das comunidades mais pobres e ajuda-as a viver ao máximo", disse Bain. "Nosso compromisso com elas é inabalável, e continuaremos cuidadosamente prevenindo que abusos aconteçam por parte de funcionários de ajuda humanitária e garantindo ação rápida quando questões forem levantadas."
Outra agência católica de auxílio internacional, a Trócaire, na Irlanda, disse que ficou "horrorizada" com os recentes relatórios do Haiti.
"A Trócaire tem uma abordagem de tolerância zero à exploração sexual e ao abuso de qualquer pessoa", disse Niamh McCarthy, oficial de comunicações da agência.
Ela contou ao Crux, por e-mail, que todos os funcionários são obrigados a assinar políticas de proteção e informados da obrigação de relatar qualquer incidente ou alegação de exploração ou abuso, e que a Trócaire realiza auditorias, formação e acompanhamento regularmente.
McCarthy observou que os trabalhadores humanitários muitas vezes se colocam em grande risco para fazer o seu trabalho e são "motivados por um desejo de ajudar as pessoas em situações de crise".
"Esperamos sinceramente que a confiança do público na esmagadora maioria das pessoas que se dedicam a este trabalho de salvar vidas com profissionalismo e coragem não diminua", disse ao Crux. "Seria um resultado terrível para os milhões de pessoas em todo o mundo que enfrentam a crise e dependem de ajuda externa".
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Agência católica de auxílio do Reino Unido suspende funcionário envolvido no escândalo sexual da Oxfam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU