11 Janeiro 2018
Um destacado jesuíta egípcio diz que os fundamentalistas querem causar discórdia entre muçulmanos e cristãos no Egito.
O Pe. William Sidhom disse que a Irmandade Muçulmana, movimento político islâmico conservador internacional fundado no Egito em 1928, quer “criar o seu próprio país religioso imaginário sobre sangue egípcio”.
A reportagem é de Nirmala Carvalho, publicada por Crux, 09-01-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O atua trabalha como secretário-geral para a Comissão “Justiça e Paz” da Associação da Hierarquia Católica do Egito.
Sidhom falou com o Crux após o mais recente ataque mortífero contra cristãos, ocorrido em 29 de dezembro, quando um militante abriu fogo do lado de fora de uma igreja no Cairo, matando, pelo menos, nove pessoas.
Um grupo militante filiado ao Estado Islâmico tem reivindicado a autoria pela maior parte dos ataques contra os cristãos no país, incluindo uma série de assassinatos que forçaram dezenas de famílias cristãs a abandonar, no ano passado, suas casas indo para na ilha de Sinai, ao norte do país.
No entanto, Sidhom disse que a Irmandade Muçulmana, que possui um forte seguimento popular no Egito, é a organização que está tentando criar problemas entre os membros das duas religiões.
“Eles querem tornar as coisas difíceis entre os muçulmanos e os cristãos egípcios para criar uma distorção, porque essa é a única maneira de romper o país”, disse o padre. “Porque o Egito é muito forte, e eles não tem outra opção para criar uma divisão entre o povo, exceto via fatores religiosos”.
Os cristãos – cuja grande maioria faz parte da Igreja Ortodoxa Copta – formam cerca de 10% da população do país, que tem cerca de 90 milhões de pessoas.
Depois dos protestos da Primavera Árabe, que derrubaram o presidente Hosni Mubarak em 2011, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, tornou-se o presidente em 2012.
Após uma série de decisões que os críticos diziam visar a concentração de poder em suas mãos, vários protestos ocorreram contra o seu regime. Morsi foi destituído em um golpe de Estado no dia 03-07-2013, com o apoio de importantes líderes cristãos e muçulmanos.
O ministro da Defesa e Comandante em Chefe das Forças Armadas Egípcias, Abdel Fattah el-Sisi, tornou-se o presidente no ano seguinte.
“A nossa posição agora não é a favor de Sisi, mas a favor do povo egípcio – muçulmanos e cristãos – e a favor do futuro dessas pessoas”, completou Sidhom.
Numa demonstração de solidariedade aos cristãos do Egito, no sábado Sissi fez uma aparição simbólica em uma missa natalina ortodoxa numa catedral nova enquanto milhares de soldados e policiais eram destacados para o lado de fora de igrejas no país antecipando-se a possíveis ataques por militantes islâmicos.
A maioria das igrejas ortodoxas, incluindo a Igreja Copta, celebraram o Natal no dia 7 de janeiro.
No Cairo e em grande parte do país de maioria muçulmana, soldados completamente equipados juntaram-se à polícia na proteção às igrejas, a maioria das quais hoje também equipadas com detectores de metal.
A nova catedral na qual a missa ocorreu – e que pode abrigar 9 mil fiéis e que seria a maior no Oriente Médio – chama-se Igreja da Natividade e localiza-se na nova capital administrativa do Egito, um projeto, ainda em construção, na casa dos 45 bilhões de dólares. A igreja fica a cerca de 45 quilômetros ao leste do Cairo.
A missa de Natal consagrou a nova catedral e marcou a primeira vez que essa liturgia não se realizou na Catedral de São Marcos, a sede da Igreja Ortodoxa na região central do Cairo.
“Nós, com a graça de Deus, estamos ofertando esta mensagem de paz e amor aqui, não apenas para os egípcios ou para a região, mas ao mundo inteiro”, disse Sissi à congregação, de pé e ao lado do Papa Teodoro II, líder da Igreja Ortodoxa Copta.
“Sempre digo e repito: destruição, ruína e assassinato jamais conseguirão derrotar a bondade, a construção, o amor e a paz. É impossível”, acrescentou o líder político. “Prestem atenção, vocês são a nossa família. Fazem parte de nós. Somos um e ninguém nunca irá causar discórdia entre nós”.
Sidhom falou que a maioria dos egípcios tem o mesmo sentimento expresso no sábado à noite pelo presidente.
“Alguns muçulmanos contaminaram-se com ideias terroristas da Irmandade Muçulmana, mas a maioria simpatiza com os cristãos, sendo contra o terrorismo e a violência. Todos nós, enquanto país, estamos sofrendo”, disse o padre.
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Jesuítas dizem que militantes querem construir um “país imaginário” sobre “sangue egípcio” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU