09 Janeiro 2018
“Ver a estrela”, não as luzes deslumbrantes do sucesso, do dinheiro, da carreira e dos prazeres. Esses são “meteoritos”, adverte o papa em sua homilia na missa da Epifania na Basílica vaticana, “brilham por um momento, mas logo caem e seu esplendor desaparece”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 06-01-2018. A tradução é de André Langer.
Depois “caminhar”, isto é, mover-se e “libertar-se do peso inútil e da magnificência pesada, que são um obstáculo”, aceitando “os acontecimentos imprevistos que não aparecem no mapa de uma vida tranquila”. Finalmente, “oferecer”, no sentido de “fazer o bem sem cálculos” aos pobres, aos doentes, a alguém que nos tenha ofendido, “mesmo quando ninguém nos pede, mesmo quando não ganhamos nada com isso, mesmo quando não gostamos disso”.
Para o Papa Francisco, estes três verbos-chave que resumem os gestos cumpridos pelos Reis Magos “orientam o nosso caminho de encontro ao Senhor, que hoje se manifesta como luz e salvação para todas as pessoas”.
“Ver a estrela é o ponto de partida”, disse Bergoglio aos numerosos fiéis, sacerdotes, bispos e cardeais que encheram a Basílica de São Pedro. “Mas por que, poderíamos nos perguntar, apenas os Reis Magos viram a estrela? Talvez porque poucas pessoas olhavam para o céu. Muitas vezes, na vida, nos contentamos em olhar para o chão: a saúde, um pouco de dinheiro e um pouco de diversão são suficiente”.
A questão, portanto, é: “Nós ainda sabemos como levantar a nossa vista ao céu? Sabemos sonhar, desejar a Deus, esperar por sua novidade, ou nos deixamos levar pela vida como um ramo seco ao vento?” Os Três Reis Magos “não se conformaram com fugir, viver um dia após o outro. Eles entenderam que, para viver realmente, necessita-se de um objetivo alto e é por isso que é preciso olhar para cima”.
E por que tantos, que talvez tenham olhado várias vezes para o céu, não seguiram aquela estrela? “Talvez – reflete o Papa Francisco – porque não era uma estrela chamativa, que brilhasse mais que outras”. A estrela de Jesus, de fato, “não cega, não atordoa, mas convida gentilmente”.
E nós, “que estrela escolhemos na vida? Há estrelas deslumbrantes, que despertam fortes emoções, mas não orientam no caminho”, disse o Pontífice. “Isso é o que acontece com o sucesso, o dinheiro, a carreira, as honras, os prazeres procurados como finalidade na vida. São meteoritos: eles brilham por um momento, mas logo caem e seu esplendor desaparece. São estrelas cadentes que, em vez de orientar, despistam. A estrela do Senhor, no entanto, nem sempre é deslumbrante, mas está sempre presente: segura-te pela mão e te acompanha. Não promete recompensas materiais, mas garante a paz e dá, como aos Magos, uma imensa alegria”.
Pede-nos, no entanto, para caminhar. Uma ação “essencial” para encontrar Jesus que “exige a decisão do caminho, o esforço diário da marcha; pede-nos que nos livremos do peso inútil e da magnificência pesada, que são um obstáculo, e que aceitemos os acontecimentos imprevistos que não aparecem no mapa de uma vida tranquila”.
“Jesus se deixa encontrar por aqueles que o procuram, mas, para encontrá-lo é preciso mover-se, sair. Não esperar; arriscar. Não ficar parado; avançar”, disse o papa. “Jesus é exigente: para aqueles que o procuram, ele propõe que deixe a poltrona dos confortos mundanos e o calor agradável das suas estufas. Seguir a Jesus não é como um protocolo de cortesia que deve ser respeitado, mas um êxodo que deve ser vivido”. Porque Deus “dá liberdade e distribui alegria sempre e apenas no caminho”. Em outras palavras, “para encontrar Jesus, devemos abandonar o medo de se envolver, a satisfação do sentimento chegado, a preguiça de não pedir nada para a vida”. É necessário “arriscar-se” simplesmente conhecer um menino. “Mas vale muito a pena”, porque “ao encontrar esse Menino, descobrindo sua ternura e seu amor, encontramos a nós mesmos”.
Atenção com a tentação de ter “medo das novidades de Deus”. A tentação de Herodes, a tentação de toda Jerusalém que “prefere que tudo permaneça como está, sempre foi feito assim e ninguém teve a coragem de ir”. A tentação, ainda mais sutil, dos sacerdotes e dos escribas. A tentação daqueles que acreditaram há muito tempo: discute-se sobre a fé como de algo que já se sabe, mas não se arrisca pessoalmente pelo Senhor. Fala-se, mas não se reza; há queixas, mas não se faz o bem”. Os Magos falam pouco e caminham muito, “embora não conheçam as verdades da fé, estão ansiosos e a caminho”.
Como eles, o papa convida, por último, a “oferecer”. Os três Reis do Oriente oferecem a Jesus que “está ali para oferecer vida” seus valiosos bens: ouro, incenso e mirra. “O Evangelho se realiza quando o caminho da vida chega ao dom – ressalta o papa. Dar gratuitamente, pelo Senhor, sem esperar nada em troca: este é o sinal seguro de que Jesus foi encontrado”.
O bem é, portanto, feito “sem cálculos”, sem que ninguém o peça, “mesmo quando não ganhamos nada com isso, mesmo quando não gostamos”. “Deus quer isso”, diz o Bispo de Roma. “Ele, que se fez pequeno por nós, nos pede para oferecer algo para seus irmãos mais pequeninos. Quem são? São precisamente aqueles que não têm nada para trocar, como o necessitado, o faminto, o estranho, o prisioneiro, o pobre”.
“Oferecer um dom gratuito a Jesus é cuidar de uma pessoa doente, dedicar tempo a uma pessoa difícil, ajudar alguém que não é interessante para nós, oferecer o perdão a quem nos ofendeu. São dons gratuitos, não podem faltar na vida cristã”. Do contrário, “se amamos aqueles que nos amam, nós fazemos como os pagãos”.
Portanto, o papa conclui: “olhemos nossas mãos, muitas vezes vazias de amor”, e tentemos pensar hoje, na solenidade da Epifania, “em um dom gratuito, sem nada em troca, que podemos oferecer”. Junto com isso, levantemos os olhos e coloquemo-nos a caminho.
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Francisco. “Dinheiro e carreira são como meteoritos que logo se apagam” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU