04 Janeiro 2013
Como renovar o rosto da nossa Igreja, para que os que estão fora, sem ser dos nossos, encontrem na nossa fé a realização deles próprios e não um juízo severo para o qual a nossa suficiência tem sempre tendência a condenar os erros? Como reencontrar essa simplicidade de coração que nos permite fazer crescer nas outras pessoas um pouco da sua generosidade e da seu coragem para exorcizar essa tentação incessante de ricos que nos leva a sufocar e a matar nosso Salvador por ter querido monopolizá-lo e possuí-lo?
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do Domingo da Epifania (6 de janeiro de 2013). A tradução é de Susana Rocca.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1a leitura: Isaias 60,1-6
2a leitura: Ef 3,2-3.5-6
Evangelho: Mt 2,1-12
A Epifania, que significa revelação, manifestação de Deus aos humanos, é a segunda festa de Natal: o Natal da Igreja Oriental. Esta festa nos fala da universalidade da salvação: a salvação não está reservada só aos judeus! É um convite à modéstia nas nossas certezas: ninguém é possuidor de Deus. É um convite a estarmos atentos às surpresas do Espírito de Deus: Deus está além das nossas previsões. A Epifania nos fala, ao mesmo tempo da identidade do A Epifania, que significa revelação, manifestação de Deus aos humanos, é a segunda festa de Natal: o Natal da Igreja Oriental. Esta festa nos fala da universalidade da salvação: a salvação não está reservada só aos judeus! É um convite à modéstia nas nossas certezas: ninguém é possuidor de Deus. É um convite a estarmos atentos às surpresas do Espírito de Deus: Deus está além das nossas previsões. A Epifania nos fala, ao mesmo tempo da identidade do Menino de Belém, pelos presentes que lhe são oferecidos: o ouro para mostrar a sua realeza, o incenso para mostrar a sua divindade e a mirra para mostrar a sua humanidade. A ciência da astrologia se aproxima da cultura religiosa bíblica; A Epifania, que significa revelação, manifestação de Deus aos humanos, é a segunda festa de Natal: o Natal da Igreja Oriental. Esta festa nos fala da universalidade da salvação: a salvação não está reservada só aos judeus! É um convite à modéstia nas nossas certezas: ninguém é possuidor de Deus. É um convite a estarmos atentos às surpresas do Espírito de Deus: Deus está além das nossas previsões. A Epifania nos fala, ao mesmo tempo da identidade do Menino de Belém, pelos presentes que lhe são oferecidos: o ouro para mostrar a sua realeza, o incenso para mostrar a sua divindade e a mirra para mostrar a sua humanidade. A ciência da astrologia se aproxima da cultura religiosa bíblica; Jerusalém, cidade luz, é substituída pela aldeia de Belém, a casa do pão, e o Messias é acolhido por aqueles que não estavam naturalmente dispostos a acolhê-lo. No entanto, ele foi rejeitado por aqueles que estavam inicialmente predispostos. O que acontece hoje? Deixemos que os textos bíblicos nos inspirem!
1. A fé: uma certeza ou uma esperança?
O que sempre nutriu a fé é a certeza daqueles que acreditam na verdade sobre Deus e sobre o mundo. Quantos sofrimentos infringidos às pessoas por causa destas falsas certezas? Quantas ilusões tomadas por realidades? Quantas condenações e exclusões em nome de uma pseudoverdade? Parece-me que os textos bíblicos desta festa da Epifania nos ensinam que a fé não é jamais uma certeza, mas um caminho de esperança que devemos empreender a cada dia, um caminho que não é traçado previamente, e não sabemos aonde ele nos conduzirá.
Não é mesmo o convite do profeta Isaias (o Dêutero-Isaias) que, após as grandes decepções da volta do Exílio, tenta novamente dar ao povo judaico, que permaneceu fiel ao Deus de Israel, um vislumbre de esperança, a condição que ele se abra a universalidade da luz do Senhor que se levanta sobre Jerusalém: “Sob a luz de você caminharão os povos, e os reis andarão ao brilhodo seu esplendor” (Is 60,3). Terminou o tempo do elitismo, de se fechar sobre si próprio... É necessário abrir-se ao mundo, pois Deus não fica reservado a alguns; a sua luz ilumina toda a humanidade.
Imaginem! Esse texto, escrito no século VI a.C., não foi compreendido. Quantas religiões, ainda hoje, assumem o poder do povo de Israel, e têm a certeza de estar na verdade? Todos esses crentes se acham proprietários de Deus! Quantas guerras, conflitos e massacres foram e são ainda provocadas pelo integrismo religioso que acredita ser possuidor da verdade? E ainda, se a fé não fosse uma esperança, o que de fato ela é, ela se abriria necessariamente ao outro, ao estrangeiro, ao desconhecido, ao inesperado... A sua única certeza seria acreditar que amanhã vai ser melhor que hoje, pois, quando caminhamos juntos sobre os caminhos da esperança, sempre avançamos.
2. A fé exige o respeito das nossas diferenças
Em sua carta aos Efésios, no extrato que temos hoje, São Paulo fala do mistério de Cristo que a sua fé lhe fez descobrir: a salvação de Deus se inscreve em todas as culturas para todos os homens: “Em Jesus Cristo, por meio do Evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa” (Ef 3,6). O que acontece, hoje, na nossa Igreja? Quem são esses novos pagãos que rejeitamos, excluímos, condenamos?
Há alguns anos, numa comédia humorística de final de ano, na Rádio Canadá, o humorista Pierre Verville, imitando o arcebispo emérito de Montreal, o cardeal Jean-Claude Turcotte, oferecia seus melhores votos por ocasião do Ano Novo a todos, menos aos divorciados, às mães não casadas, aos homossexuais, aos médicos que praticam o aborto, às crianças não batizadas, às pessoas que acreditam na teoria da evolução, aos que usam preservativos, às mulheres que tomam anticoncepcionais, mas a todos os outros, caso ficasse alguém... Bom e Feliz Ano Novo! Podemos dizer que se trata claramente de uma caricatura sarcástica e exagerada, mas essa caricatura exagera simplesmente a realidade. Isso quer dizer que, como Igreja, temos uma ampla batalha para nos tornarmos modelo de abertura, de acolhida e de respeito ao outro. E ainda, o evangelho nos interpela bastante nesse sentido...
3. A fé é desestabilizadora
No evangelho de hoje, nesta narrativa, que somente Mateus relata, podemos verdadeiramente dizer que a fé é desestabilizadora: os estrangeiros, os magos, os astrólogos, na busca do Messias de Deus, colocam-se a caminho, pois eles viram a estrela. Eles se detêm em Jerusalém, a cidade luz por excelência onde residem Herodes e os grandes especialistas da Bíblia, da religião. Herodes não vê nada, muito ocupado e enceguecido pelo poder, ele não se movimenta. Quanto aos sacerdotes e aos especialistas das Escrituras, eles sabem demasiado para serem capazes de ver uma estrela; eles também não se mexem. Somente os estrangeiros, os magos escutam a palavra do profeta Miqueias que Mateus nos traz: “E você, Belém, terra de Judá, não é de modo algum a menor entre as principais cidades de Judá, porque de você sairá um Chefe, que vai apascentar Israel, meu povo” (Mt 2,6), e eles estão atentos aos sinais dos tempos e continuam seu caminho, a sua direção...
Retomando o caminho em direção a Belém, eles voltam a ver a estrela que lhes precedia. É, então, que eles se tornam crentes: “Ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria” (Mt 2,10). A mesma alegria que as mulheres sentiram na manhã da Páscoa, quando elas foram ao cemitério para descobrir que Cristo estava vivo. Elas se puseram logo a caminho: “As mulheres saíram depressa do túmulo; estavam com medo, mas correram com muita alegria para dar a notícia aos discípulos” (Mt 28,8). Da mesma forma, os magos foram transformados pela alegria pascal: “Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, partiram para a região deles, seguindo por outro caminho” (Mt 2,12), não o caminho da religião traçado previamente, mas um caminho novo, um caminho de esperança.
Para terminar, o teólogo francês Louis Sintas escreveu: “Certamente é preciso dizer corajosamente que, sem o profeta de Israel, a longa caminhada dos magos teria fracassado. Porém, sem a sua própria estela, eles não teriam começado nunca a caminhada... Mas como renovar o rosto da nossa Igreja, para que os que estão fora, sem ser dos nossos, encontrem na nossa fé a realização deles próprios e não um juízo severo para o qual a nossa suficiência tem sempre tendência a condenar os erros? Como reencontrar essa simplicidade de coração que nos permite fazer crescer nas outras pessoas um pouco da sua generosidade e da seu coragem para exorcizar essa tentação incessante de ricos que nos leva a sufocar e a matar nosso Salvador por ter querido monopolizá-lo e possuí-lo? Que pena que tantas pessoas sinceras, mais do que entrar nas nossas maneiras de servir a Deus, prefiram, como os magos e sob a inspiração do alto, voltar para as suas casas por caminhos diferentes aos nossos”. Eu acrescentaria que o problema não está do lado deles, mas do nosso lado...
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