17 Setembro 2017
Jovens que participam de um seminário organizado pelo Vaticano em preparação ao próximo Sínodo dos Bispos pedem que o Vaticano e os próprios bispos estejam abertos a escutar as conversas dos jovens a fazer perguntas sobre amor, sexo e sexualidade.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 14-09-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Existe uma “grande lacuna” entre as preocupações que os jovens querem debater e os temas que a maioria dos bispos gosta de discutir, disse Therese Hargot, que se descreve como uma filósofa e sexóloga.
O Cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, disse que desejava ouvir do jovens e especialistas sobre os desafios que a juventude enfrenta na Igreja e na sociedade.
Vinte pessoas com menos de 35 anos, juntamente com 70 teólogos, padres e acadêmicos reuniram-se entre os dias 11 e 15 de setembro como parte do processo preparatório para o Sínodo dos Bispos 2018 sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
A secretaria-geral do Sínodo tem planejado uma dúzia de diálogos formais sobre variados assuntos, que incluem “a busca pela identidade”, o compromisso político, planejamento, tecnologia e transcendência.
Mas Hargot, que coordena um programa de educação sexual em escolas católicas de Paris, disse durante o encontro no dia 13: “É surpreendente estarmos olhando para a política, a economia, etc., mas não para sexualidade e a afetividade, que são tópicos muito importantes para os jovens”.
“Os jovens querem falar sobre sexualidade e amor”, disse ela ao Catholic News Service. “Eles adoram aprender sobre a teologia do corpo”, termo referente à abordagem de São João Paulo II ao sexo e sexualidade. “Não sei por que ninguém aqui está falando sobre o amor. É surpreendente”.
Ashleigh Green, delegada australiana no seminário, disse que, ao viajar pela Austrália em preparação para o Sínodo, descobriu que “muitos jovens se sentem como se não pudessem falar sobre assuntos que importam para eles” na maior parte dos ambientes católicos.
“É importante se abrir e conversar” sobre sexo, sexualidade e orientação sexual, disse ela. “E isso é central para a vocação”, que faz parte do foco do Sínodo.
Severine Deneulin, professora de desenvolvimento internacional da Universidade de Bath, na Inglaterra, disse que estava achando “difícil descobrir” o que o Vaticano quer com o seminário. “É para ouvir os jovens? Isso quer dizer que eles estão dispostos a mudar alguma coisa? Estão querendo mudar os critérios para o ministério?”
“É por isso que eu tenho uma carreira secular”, disse ela. Na academia, continuou, “sou aceita por quem sou e pelos meus talentos. Na Igreja, eu não seria. Se nos preocupamos com as lideranças na Igreja, por que ignoramos a metade dela”, ou seja, as mulheres. “Por que não falamos sobre isso?”
Natalia Shalata, jovem ucraniana que coordena um programa de apoio a órfãos e crianças de rua, trouxe uma inquietação diferente ao seminário.
Durante o debate sobre os jovens e a política, ela contou aos demais participantes reunidos: “Para a minha geração, é extremamente importante” aprender a sermos eficaz e sermos escutados. “Quando os líderes políticos não cumprem com as expectativas, eles [os jovens] estão dispostos à ação extrema”, incluindo o suicídio. Este é um problema crescente na Ucrânia, que também está em guerra por seus territórios orientais.
Shalata, católica ucraniana casada com um sacerdote, disse que a Igreja deve “sair e ouvir estes fortes clamores” por ajuda.
Baldisseri abriu o seminário em 11 de setembro explicando que o evento era uma tentativa de “enquadrar ou fotografar a situação dos jovens, identificando os traços básicos comuns às juventudes, hoje, ao mesmo tempo prestando atenção à pluralidade” determinada pelas diferenças geográficas e culturais.
O Papa Francisco, recordou ele, quer que o Sínodo de 2018 não seja somente sobre os jovens, mas com os jovens, garantindo que eles tenham voz.
Como parte disso, a secretaria-geral do Sínodo postou um questionário disponível aqui está convidando as pessoas com idade entre 16 e 29 anos a respondê-lo. “Em quase três meses, mais de 110 mil jovens já responderam ao questionário”, informou o religioso. “É um número significativo, considerando a novidade absoluta da iniciativa, e que só deverá aumentar nos próximos meses”.
Esta quantidade de respostas, disse, “demonstra o grande desejo da juventude em participar”.
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Não se envergonhem de falar sobre sexo, dizem jovens aos bispos no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU