02 Junho 2017
O presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira que os Estados Unidos abandonarão o Acordo de Paris, alegando que o pacto climático "é desvantajoso" para os interesses da economia e dos trabalhadores americanos.
A reportagem é de Matt McGrath e publicada por BBC Brasil, 01-06-2017.
Trump afirmou que o acordo beneficia outros países em detrimento dos interesses americanos e que tentará renegociar uma nova entrada no pacto com termos sejam "justos com o povo americano". Segundo ele, os termos atuais levam ao fechamento de fábricas americanas e à exportação de empregos da indústria carvoeira para outros países.
Para críticos, porém, ao deixar o acordo, os EUA estarão abdicando de ocupar um papel de liderança em um tema de relevância global.
Assinado há um ano e meio na capital francesa por 195 de 197 países (as exceções são Síria e Nicarágua) na Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, o Acordo de Paris tem como objetivo manter o aumento das temperaturas médias globais "muito abaixo" dos 2°C em relação à era pré-industrial.
Esse é o ponto a partir do qual cientistas afirmam que o planeta estaria condenado a um futuro sem volta de efeitos devastadores, como elevação do nível do mar, eventos climáticos extremos (como secas, tempestades e enchentes) e falta de água e alimentos.
A assinatura do acordo, em 2015, foi histórica por unir, pela primeira vez, quase todos os países do mundo em um pacto voltado às mudanças climáticas.
Mas o que a saída dos EUA do Acordo de Paris significará para o resto do mundo?
Não há dúvidas de que a ausência dos EUA dificulta o cumprimento das metas estabelecidas pelas nações globais no Acordo de Paris - sobretudo impedir que a temperatura global suba mais de 2ºC. Em 2016, registrou-se no mundo um nível recorde de emissões de dióxido de carbono, algo que especialistas chamaram de "uma nova era" de aquecimento global e "prova irrefutável" da responsabilidade humana sobre as mudanças climáticas.
O acordo parisiense prevê limites à emissão de gases do efeito estufa e que países ricos ajudem os mais pobres financeiramente a se adaptar às mudanças climáticas e na adoção de energias renováveis. Os EUA contribuem com cerca de 15% das emissões globais de carbono, mas ao mesmo tempo é uma importante fonte de financiamento e tecnologia para países em desenvolvimento em seus esforços para combater o aquecimento global.
Outra questão é a da "liderança moral" da qual os EUA abdicarão ao deixar de lado o acordo climático - algo que pode ter consequências no âmbito diplomático. O ambientalista Michael Brune, diretor-executivo do grupo Sierra Club, considerou o recuo americano "um erro histórico que será analisado por nossos netos com decepção e surpresa sobre como um líder global conseguiu estar tão distante da realidade e da moralidade".
China e Estados Unidos foram atores cruciais na consolidação do acordo climático. O ex-presidente Barack Obama e seu par chinês, Xi Jinping, entraram em consenso quanto à criação de uma "ambiciosa coalizão" com pequenos países insulares e a União Europeia.
A China apressou-se em reafirmar seu compromisso com o acordo parisiense, e espera-se um comunicado conjunto de Pequim e União Europeia nesta sexta-feira prometendo maior cooperação no corte de emissões de carbono. "Ninguém deveria ficar para trás, mas a UE e a China decidiram andar para frente", disse o comissário climático da União Europeia, Miguel Arias Cañete.
É possível também que, além de aumentar o protagonismo chinês, a decisão americana abre espaço para que Canadá e México ascendam como "players" significativos nas Américas no esforço de impedir o aumento das temperaturas globais.
Líderes corporativos americanos formaram uma das mais fortes vozes em favor da permanência dos EUA no Acordo de Paris. Centenas de empresas como Google, Apple e até mesmo produtoras de combustíveis fósseis como Exxon Mobil haviam pedido a Trump que se mantivesse nas negociações climáticas.
Darren Woods, executivo-chefe da Exxon, escreveu uma carta pessoal a Trump dizendo que os EUA "estão bem posicionados" para competir globalmente dentro do acordo, com o qual os EUA teriam "um assento na mesa de negociações de forma a garantir a igualdade" das regras de mercado.
Uma das forças eleitorais de Trump no pleito de 2016 é região americana produtora de carvão - em Estados como Virgínia Ocidental, Ohio e Pensilvânia, que ele diz terem sido prejudicados pelo Acordo de Paris -, à qual o presidente prometeu incentivos e empregos durante a campanha. Mas o ocaso do carvão, que também está sendo abandonado em diversos outros países, dificilmente será revertido.
Além disso, a quantidade de empregos gerados nos EUA pela indústria carvoeira equivale hoje à metade dos gerados pela indústria de energia solar. Ainda que muitos países em desenvolvimento ainda dependam do carvão, essa fonte de energia é alvo de críticas por seu forte impacto na qualidade do ar.
E a queda dos preços da energia renovável também tem levado nações como a Índia a adotar fontes mais verdes de combustível.
Mesmo com a saída americana, as emissões de carbono devem continuar a cair nos EUA - isso por causa do crescimento do gás como fonte de energia em substituição ao carvão. O uso do gás de xisto - que também é alvo de polêmicas ambientais - cresceu exponencialmente com o aumento da produção e a queda dos preços.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cinco efeitos globais da saída dos EUA do Acordo de Paris - Instituto Humanitas Unisinos - IHU