01 Junho 2017
A balança está a ponto de se inclinar. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu retirar o país do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, segundo vários veículos de comunicação norte-americanos. A medida, que não foi confirmada oficialmente pela Casa Branca, significaria muito mais do que a ruptura de um pacto e a dissolução do legado de Barack Obama: a saída consumaria o triunfo do isolacionismo e o avanço da ala mais radical da Casa Branca. Para o planeta, os Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, deixariam de ser um aliado.
A reportagem é de Jan Martínez Ahrens, publicada por El País, 31-05-2017.
Trump afirmou pelo Twitter que tornaria pública sua decisão dentro dos “próximos dias”. Durante anos, ele se mostrou reticente em a aceitar um acordo sobre mudanças climáticas. O presidente duvida que o problema tenha sido provocado pelo homem e considera que se trata de um pacto que vai contra os interesses norte-americanos. Se realmente optar por deixar o acordo, como informam Reuters, AP, CNN, The New York Times, BBC, FOX e Axios, o sinal que enviaria é inequívoco: os Estados Unidos só cumprirão com acordos que lhe convenham.
O impacto de uma eventual retirada levará meses ou anos para se estabelecer. Mas a curto prazo se dirige aos setores deprimidos que deram seu voto a Trump e que ficaram estacionados na era do carvão. Sua suposta melhora, o chamado “interesse nacional”, vem antes de uma sociedade já altamente polarizada e à desilusão de um planeta que chegou a acreditar na Casa Branca. Aliás, ela acarreta até um revés para a grande indústria energética, que nos últimos anos fez enormes investimentos para obter fontes de energia mais limpas.
O Acordo de Paris é basicamente político. Não contém sanções nem medidas coercitivas. É uma expressão da vontade de quase 200 nações. Frente ao aumento das temperaturas, ao degelo dos polos, ao aumento do nível do mar e aos fenômenos extremos, o pacto propõe conter o aquecimento global limitando as emissões de carbono. Foi firmado em 2015, mas os Estados Unidos aderiram em setembro de 2016. Foi com Obama e ofereceu reduzir as emissões entre 26% e 28% até 2025, em relação aos níveis de 2005. Com esse objetivo, o presidente anterior lançou uma prodigiosa bateria de medidas legais que Trump se apressou em bloquear. O republicano, que nunca se mostrou convencido de que as mudanças climáticas são obra humana, deu carta branca à indústria do carvão e a setores altamente contaminantes. Os cálculos apontam que essa decisão limita a queda de emissões a 14%.
A eventual ruptura do Acordo de Paris enviaria uma mensagem devastadora ao mundo. Os Estados Unidos abandonam seus parceiros mais firmes, os europeus, e deixam a China – o maior emissor mundial – no comando do pacto. Em um só golpe, sem mal decolar, uma iniciativa formidável e obtida após décadas de esforço perderia a economia mais potente do mundo. E a ciência veria como, diante de um dos desafios mais inquietantes da humanidade, seu principal instrumento de atuação se dilui por causa das atribulações isolacionistas de um empreiteiro de Nova York.