Primavera. Clarice Lispector na oração inter-religiosa desta semana

Foto: wallpaper-house.com

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19 Novembro 2021

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.

 

Primavera

 

Os primeiros calores da primavera,

tão antigos como um primeiro sopro (...).

Muito antes de vir a nova estação

já havia o prenúncio:

inesperadamente uma tepidez de vento,

as primeiras doçuras do ar.

Impossível! Impossível que essa doçura de ar

não traga outras! diz o coração se quebrando.

Impossível, diz em eco a mornidão

ainda tão mordente e fresca da primavera (...).

Impossível que esse ar

não traga o amor do mundo!

Repete o coração que parte sua secura

crestada num sorriso.

E nem sequer reconhece que já o trouxe,

que aquilo é um amor.

Esse primeiro calor ainda fresco trazia:

tudo. Apenas isso, e indiviso: tudo.

 

Fonte: Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 2020, p. 110.

 

Clarice Lispector (Foto: Acervo Instituto Moreira Sales - Wikimedia Commons)

 

Clarice Lispector (1920 - 1977): Escritora e jornalista ucraniana, naturalizada no Brasil. É vista como uma das maiores escritoras brasileiras do século XX, de grande influência na literatura nacional e no modernismo. Escreveu diversos romances, contos e ensaios, Clarice publicou uma vasta obra literária, com mais de 20 livros. Além de livros infantis, como, O mistério do coelho pensante (1967) e A mulher que matou os peixes (1968), é autora de Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); A cidade sitiada (1949); A maçã no escuro (1961), A paixão segundo G. H. (1964), Água viva (1973), Um sopro de vida (1978), entre outros. 

 

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