17 Janeiro 2020
No dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu falei: 'Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim’. Eu também não o conhecia. “Mas vim batizar com água, a fim de que ele se manifeste a Israel.”
E João testemunhou: “Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. Eu também não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água foi ele quem me disse: 'Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo’. “E eu vi, e dou testemunho de que este é o Filho de Deus”.
Leitura do Evangelho de João 1,29-34. (Correspondente ao 2° Domingo do Tempo Comum, ciclo do A do Ano Litúrgico)
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
A liturgia deste domingo oferece-nos uma narrativa do Evangelho de João que continua respondendo à pergunta sobre a identidade da pessoa de Jesus. Quem é ele?
Começa o texto dizendo “no dia seguinte”, ou seja, no segundo dia da primeira semana da vida de Jesus que culminara com as bodas de Caná. Num primeiro momento o evangelista narra o testemunho de João, quando “As autoridades dos judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntarem a João: ‘Quem é você?’” (Jo 1, 19). Ele se apresenta como uma voz que chama à conversão, a preparar o caminho do Senhor. Diante do questionamento do seu batismo, João tinha comunicado que é um batismo de água, mostrando com humildade sua missão de anunciar aquele que vem depois dele. Ele disse: “eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele”.
“No dia seguinte” a estes acontecimentos, o texto evangélico diz-nos que “João viu Jesus, que se aproximava dele”. Jesus aparece pela primeira vez no evangelho de João no ato de “vir” assim como foi anunciado pelo profeta Isaías: “O Senhor vem” (Is 40,10). E neste momento João reconhece Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Foquemo-nos na pessoa de João Batista: como terá sido o processo progressivo de reconhecimento da identidade de Jesus como o Cordeiro de Deus na sua vida? Sua figura e sua atitude diante do Messias interpelam e questionam as limitações com as que muitas vezes tenta-se enquadrar o Mistério que há em Jesus.
João Batista, a voz que clama no deserto, designa aquele que ele anuncia: “Eis”! E o sinala fazendo referência ao Cordeiro Pascal narrado no livro do Êxodo (Ex 12). Neste rito celebra-se a libertação do povo de Israel. Na primeira leitura do Profeta Isaías que a liturgia nos oferece neste domingo, apresenta-se o servidor de Israel como o cordeiro imolado que carrega os pecados do povo, aquele que “tal como cordeiro, ele foi levado para o matadouro; como ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a boca”.
Ele é o servo justo que devolverá ao povo a verdadeira justiça, pois carregou o crime deles” (Cfr. Is 53). Nessas imagens sugere-se que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens. Já no primeiro capítulo João anuncia a missão redentora de Jesus, aquele que está no meio de nós para nossa salvação, para oferecer-nos uma vida nova.
No primeiro capítulo do Evangelho de João aparecem várias figuras que podem ser consideradas representações das atitudes de toda pessoa humana diante da presença de Jesus. Como aconteceu com as autoridades dos judeus, também hoje algumas pessoas, grupos sociais e religiosos procuram demarcar a identidade de João Batista e sua missão, dentro dos padrões conhecidos: o Messias, Elias, o Profeta.
Mas João aguarda o Salvador! Ele O sinala e apresenta-O: o Cristo, aquele que é realmente o Messias. Pelo seu testemunho convida seus discípulos, e também as pessoas que o procuram para ser batizado, a seguirem Jesus e receberem assim o Espírito que habita nele. É ele quem realmente traz a libertação profunda, a libertação de tudo aquilo que oprime as pessoas, seja o sistema político, econômico, social, e também das opressões que toda pessoa humana carrega no silêncio durante a vida.
Como João Batista, somos chamados a reconhecer a presença de Jesus que “está no meio de nós”, mas possivelmente não o conhecemos. Mas para que isso seja possível, como disse o Papa Francisco, é preciso “Aprender a escutar o Povo de Deus”, que significa nos descalçar de nossos preconceitos e racionalismos, de nossos esquemas funcionalistas para conhecer como o Espírito atua no coração de tantos homens e mulheres que, com grande resiliência, não deixam de lançar as redes e lutam para tornar o Evangelho credível, “aprender da fé de nossa gente”. E continua: “Não tenhamos medo de nos sujar por nossa gente. Não tenhamos medo da lama da história, a fim de resgatar e renovar a esperança”. “Não tenhamos medo de nos sujar por nosso povo. Não tenhamos medo da lama da história, a fim de resgatar e renovar a esperança", pede Francisco aos bispos latino-americanos.
João batiza com água e reconhece em Jesus a presença do Espírito Santo que o habita. Por meio de João, Jesus é apresentado como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito!
A segunda afirmação sobre a pessoa de Jesus realizada por João como o "Filho de Deus" que possui a plenitude do Espírito Santo e que “batiza no Espírito” (cf. Jo 1,32-34) complementa a primeira. Jesus recebeu a plenitude do Espírito e sua missão é batizar todas as pessoas no Espírito. Pelas suas palavras João convida-nos a “ver” Jesus desde um novo olhar e acolher sua proposta libertadora como Filho de Deus.
Peçamos ao Espírito ser batizados com sua presença. Que seu fogo arda em nossa vida e transforme nosso olhar para reconhecer a presença de Jesus que continuamente está “vindo até nós”.
Duvidamos de nós
e nos desvalorizamos,
mas vamos sob o olhar
da Bondade.
Nos dividimos
e nos enfrentamos,
mas todos recebemos a vida
desde A Unidade.
Nos classificamos
em perfeitos e deformados,
mas todos somos habitados
pela Beleza.
Tememos nossa obscuridade
e nos escondemos,
mas somos iluminados
pela Verdade.
Quem pode
pôr limites
ao amor de deus
por nós?
Quem pode
por-nos limites
se somente podemos ser
no amor de Deus?
Benjamin González Buelta
Para sentir e saborear internamente as coisas
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