17 Mai 2019
Quando Judas Iscariotes saiu, Jesus disse:
«Agora o Filho do Homem foi glorificado, e também Deus foi glorificado nele. Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. Filhinhos: vou ficar com vocês só mais um pouco. Vocês vão me procurar, e eu digo agora a vocês o que eu já disse aos judeus: para onde eu vou, vocês não podem ir. Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos».
Leitura do Evangelho de João 13,31-35. (Correspondente ao Quinto Domingo de Páscoa, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Ouça a leitura do Evangelho
Neste Quinto Domingo de Páscoa continuamos com a leitura do Evangelho de João. O trecho que se medita hoje se situa no capítulo treze que acontece “antes da festa da Páscoa”. Nele Jesus disse “que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Ele está reunido com seus discípulos ao redor de uma mesa no momento da cena e num determinado momento pega uma toalha e se inclina sobre cada um para lavar seus pés e os enxuga com a toalha. Desta forma ele brinda, com sua atitude, um exemplo de humildade e serviço para seus discípulos e todos/as os que o chamemos Mestre ao longo das gerações. Seu mandamento é um chamado a reproduzir seu gesto e amar como Jesus amou-os! Ele disse-lhes: “Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz”, “lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14b-5).
Após este gesto, Jesus anuncia a traição. Os seus não compreendem muito suas palavras, mas ficam com ele. Judas, pelo contrário, pega o pedaço de pão e sai. E o evangelho disse com muita clareza que a saída de Judas acontece à noite. É a noite que ele está submergido pelo seu egoísmo, seu coração fechado e sua traição ao Mestre. Judas não está capacitado para receber e participar das palavras de Jesus que confirmam seu amor aos discípulos. Como disse o Papa Francisco: É muito difícil se colocar “nos sapatos dos outros”, porque muitas vezes somos escravos do nosso egoísmo. Em um primeiro nível, podemos dizer que as pessoas preferem pensar nos próprios problemas, sem querer ver o sofrimento e as dificuldades do outro. Mas há outro nível. A grandeza de se colocar “nos sapatos dos outros”: “Muitas vezes somos escravos do nosso egoísmo”. Entrevista com o Papa Francisco.
Chegamos assim ao trecho que meditamos hoje. Neste momento a noite é para Jesus a hora da glorificação, da luz. Estamos num novo momento na relação de Jesus e seus discípulos, que apesar da sua fraqueza permanecem fiéis e recebem suas palavras. Recebem a última instrução. Jesus fala-lhes abertamente que é a luz da glorificação. Jesus disse: “Agora o Filho do Homem foi glorificado, e também Deus foi glorificado nele”.
Glorificar é manifestação de sua glória, revelação da presença divina. Jesus vai se despedir dos seus. Sabe que acontecerá, na crucifixão e morte e na ressurreição de Jesus, a plenitude do mistério pascal. Amor até o fim de Jesus ao reino de Deus e ao Deus do reino, e, por sua vez, amor do Pai que não deixa seu Filho na morte, mas que o exalta. É sem dúvida à luz pascal, ainda na cruz, onde se compreende o mistério do Filho. É em um acontecimento terrestre da vida de Jesus que se manifesta a glória de Deus.
A partir deste momento Jesus abre a porta que nos introduz na Vida Nova de Ressuscitados. Não é um acontecimento que fica no passado, mas ecoa até hoje, sendo introduzidos pela porta da fé, como diz o texto dos Atos que foi lido anteriormente. (At 14,27). Dessa forma somos partícipes da Glória do Filho.
Nesta intimidade de amor de Jesus com seus amigos e amigas, entrega-lhes o mandamento principal, o mandamento do amor: “Amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”. Jesus se despede tendo lhes mostrado o que é amar até o fim e nos convida a seguir seu exemplo: amar até dar a vida. Viver o amor como Jesus é o que nos capacita para amar como ele e ser verdadeiramente “seus discípulos”.
Vivemos num mundo que sangra por diferentes tipos de violência: social, econômica, armada, étnica e até religiosa!
Como diz a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB na nota oficial intitulada "O grave momento nacional": Nas cidades, atos de violência espalham terror, vitimam as pessoas e causam danos ao patrimônio público e privado. Ocorridos recentemente, o massacre de trabalhadores rurais no município de Colniza, no Mato Grosso, e o ataque ao povo indígena Gamela, em Viana, no Maranhão, são barbáries que vitimaram os mais pobres. Essas ocorrências exigem imediatas providências das autoridades competentes na apuração e punição dos responsáveis.
Por isso, a vivência do novo mandamento do amor se faz urgente e faz diferença. Precisamos reagir, começar a perguntar-nos para agir como consequência:
Como viver esse mandamento nas relações familiares, de trabalho, políticas, econômicas, ambientais? Como viver esse mandamento entre pessoas de diferentes etnias, crenças, e até entre pessoas ou países inimigos?
É um desafio grande, mas não impossível. E muitos são os que, ao longo dos séculos, testemunham que é possível. Por isso, como Jesus disse, os reconhecemos como seus discípulos e discípulas, além de sua fé.
Por isso vivamos com ousadia este mandamento: “Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”, para continuar a revolução do Amor de Jesus de Nazaré!
Amar... apesar de tudo!
Amar... apesar do medo, da ansiedade, da angústia, da incerteza.
Amar... apesar do passado, do futuro... apesar do presente.
Amar... apesar dos impasses, das dificuldades, dos problemas.
Amar... apesar das impossibilidades.
Amar... apesar do mal, da destruição, da ameaça, do coração de pedra.
Amar... apesar da separação, da indefinição.
Amar... apesar da sombra.
Amar... apesar do outro.
Amar... apesar de mim.
Amar... apesar de Deus.
Amar...
Hoje, mais do que nunca, amar.
Amar... a porta que dá acesso ao jardim.
Jean-Yves Leloup
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A porta da fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU