01 Fevereiro 2019
Então Jesus começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir”.
Todos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: “Este não é o filho de José?”.
Mas Jesus disse: “Sem dúvida vocês vão repetir para mim o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum”.
E acrescentou: “Eu garanto a vocês: nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. De fato, eu lhes digo que havia muitas viúvas em Israel, no tempo do profeta Elias, quando não vinha chuva do céu durante três anos e seis meses, e houve grande fome em toda a região. No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, e sim a uma viúva estrangeira, que vivia em Sarepta, na Sidônia. Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu. Apesar disso, nenhum deles foi curado, a não ser o estrangeiro Naamã, que era sírio.”
Quando ouviram essas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se, e expulsaram Jesus da cidade. E o levaram até o alto do monte, sobre o qual a cidade estava construída, com intenção de lançá-lo no precipício. Mas Jesus, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.
Leitura do Evangelho de Lucas 4, 21-30. (Correspondente ao 4° Domingo Comum, do ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O evangelho de hoje é continuação do proclamado no domingo anterior, no qual escutamos o projeto de Jesus, para o qual Ele veio a este mundo: Anunciar a Boa Notícia aos pobres (Lc 4,18-19). Jesus fez a leitura do texto do Profeta Isaías que fala dos pobres, presos, cegos, oprimidos, e, baseado neste texto, define sua missão. Retomando a antiga tradição dos profetas, ele proclama “um ano de graça do Senhor".
“Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir”. A mensagem de Jesus não é para viver no futuro. A Boa Notícia é para ser acolhida no momento que é escutada. O “hoje” significa a atualidade do texto.
A partir deste momento aparecem diferentes reações no auditório. O texto disse que “Todos aprovavam Jesus”. Havia um grupo de pessoas que estava “admirado com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca”. Mas há neles uma reação de descrédito. Alguns dos que estão na sinagoga não podem aceitar que Jesus, o filho de José, aquele que eles conheciam, fale assim. Não conseguiam entender como esta pessoa conhecida, que tinham visto crescer no meio deles, era capaz de dizer aquelas palavras, e diziam: “Este não é o filho de José?”.
Como disse José Antonio Pagola, “A rejeição de Jesus em seu povo de Nazaré foi muito comentada entre os primeiros cristãos. Três evangelistas recolhem a cena com todos os detalhes”. [...] O povo que recebe as palavras de Jesus são seus vizinhos, seus familiares, mas eles apenas o escutam. “Entre eles nascem todo tipo de perguntas. Conhecem Jesus desde criança: é um vizinho a mais. De onde ele aprendeu essa mensagem surpreendente sobre o Reino de Deus? De quem recebeu essa força para curar?”
“Aqueles camponeses acham que sabem tudo sobre Jesus. Eles fizeram uma ideia dele desde pequenos. Em vez de acolhê-lo tal como ele se apresenta diante deles, ficam bloqueados pela imagem que têm dele. Essa imagem impede-lhes abrir-se ao mistério que esconde Jesus. (Texto completo: A presença profética de Jesus sempre pode quebrar a tranquilidade da aldeia).
Jesus fala dos pobres, dos que são rejeitados pela sociedade. Sua missão é libertar os oprimidos, acolher os excluídos, dar vista aos cegos. Ele propõe um amor inclusivo, ninguém fica fora do seu projeto, pelo contrário, sua palavra libertadora é para toda pessoa que a escute e se deixe transformar por sua mensagem.
Como disse Raymond Gravel: “Um profeta leva sempre uma mensagem de esperança. Por outro lado, a sua palavra deve necessariamente incomodar. O profeta é aquele que anuncia as situações de injustiça, que questiona, que interpela e que convida à mudança, à novidade”. Texto disponível: Profetas desconcertantes!
As palavras de Jesus geram admiração por um lado e, por outro, uma forte oposição. No seu evangelho Lucas coloca desde o começo da atividade pública de Jesus os conflitos que sua missão sofre. São os mesmos conflitos que o levam à morte em Jerusalém.
O povo de Nazaré não consegue enxergar no filho de carpinteiro o Messias prometido. Para eles era impossível que Deus agisse através de uma pessoa humilde e pobre, igual a eles, sem nada extraordinário.
Uma vez mais Jesus revela um Deus diferente ao conhecido até então, o Deus que escolhe se fazer presente na fragilidade e pequenez humana.
Outro motivo de desconcerto diante de Jesus e sua proposta é a busca de sinais miraculosos: "Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum".
Jesus se recusa a fazer fatos grandes para que o povo acredite. A fé é confiança e entrega a sua pessoa humilde que traz a boa notícia do Amor de Deus aos pobres e pequenos.
Jesus como Elias e Eliseu sente-se orientado para os pobres, cegos e cativos que estão sobretudo fora de Israel. Desta maneira ele se confronta com seus concidadãos, rompendo os nacionalismos estreitos.
O teólogo francês Hyacinthe Vulliez escreve: “Quando queremos nos desfazer de um profeta é habitual tratá-lo de anormal, de atípico e mesmo de estrangeiro, o que permite distanciá-lo e mesmo fazê-lo desaparecer. Não gostamos da pessoa que tem um discurso diferente do convencional. Ele incomoda, ele faz sair da monotonia de sempre, e isso o pessoal não gosta!”
Os ouvintes da sinagoga sentem-se ofendidos com as palavras de Jesus e reagem violentamente: "Levantaram-se, e expulsaram Jesus da cidade", e tentaram precipitá-lo de um monte. Jesus tinha proclamado uma Boa Notícia, mas não a ouviram, pelo contrário, ficaram escandalizados!
Jesus continua sua missão e, "passando pelo meio deles, continuou o seu caminho".
Sigamos a Jesus com nossa imaginação, Ele não fica preso no sofrimento da rejeição, na dureza de seus conterrâneos, continua... ainda tem muito para fazer, os pobres esperam, a saudade da casa do Pai o motiva a seguir.
E nós, estamos parados ou a caminho? Seguindo o exemplo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, "deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se agarra em nós. Corramos com perseverança na corrida, mantendo os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé" (Hb 12, 1-2).
Peçamos a Jesus que, como ele, sejamos capazes de continuar nosso caminho; que nos ensine a não desanimar no caminho, mas a procurar sempre novos caminhos de vida e liberdade.
Olho para trás,
e vejo
minhas dores
recentes e insepultas,
e toda a minha vida
ambígua e generosa
já sob a terra
sepultada a golpes de pá
de dias e de esquecimentos.
Olho para a frente
e me vejo
na vida que engendrei ontem
ao semear-me,
crescendo hoje
diante de mim mesmo,
no riso sem falácia
das crianças,
no ritmo dos jovens
que estreiam horizontes,
nas comunidades
que se unem
contra as forças
da morte.
Minha vida já vai
em todos eles,
diante de mim,
mais forte que eu,
marcando-me o caminho,
puxando por meus passos.
Hoje,
neste instante,
escolho o futuro
e ressuscito.
Benjamin González Buelta SJ
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
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"Jesus, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU