Esperança cristã: descobrir o encontro com Cristo

Foto: Reprodução Vatican News

06 Dezembro 2024

"A esperança cristã está intimamente ligada ao encontro real com Cristo. Não à toa, a sequência do raciocínio do Papa parece mais um alerta aos cristãos que, desde que se entendem por gente, vivenciam a vida da Igreja, mas talvez ainda não tenham encontrado o Cristo: 'A nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a ele nos hauramos, a posse de tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida'."

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.

Neste novo ano litúrgico, o tema da esperança cristã não está restrito somente ao tempo do Advento, mas nos acompanhará ao logo do Ano Santo. Ser peregrinos da esperança é o convite do Papa Francisco aos cristãos neste tempo de graça, conforme expresso no Vídeo do Papa deste mês: “Ajudemo-nos uns aos outros a descobrir este encontro com Cristo que nos dá a vida e coloquemo-nos a caminho como peregrinos da esperança, para celebrar a vida”. Mas a esperança cristã, como o pontífice anuncia na primeira frase de sua mensagem, não é uma capacidade humana em si. Ao contrário, “é um presente de Deus que enche de alegria a nossa vida”.

Falar em esperança, por vezes, pode soar como um clichê ou um anestésico para ignorar ou enfrentar os inúmeros desafios que cada um vivencia no âmbito pessoal, familiar e comunitário. Mas falar sobre a esperança cristã tem outro sentido.

“Em que consiste esta esperança que, enquanto esperança, é ‘redenção’?”, perguntou o Papa Bento XVI na Carta Encíclica Spe Salvi. Sobre a esperança cristã, para então explicá-la: “Pois bem, o núcleo da resposta encontra-se no trecho da Carta aos Efésios já citado: os Efésios, antes do encontro com Cristo, estavam sem esperança, porque estavam ‘sem Deus no mundo’. Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”.

A esperança cristã, portanto, está intimamente ligada ao encontro real com Cristo. Não à toa, a sequência do raciocínio do Papa parece mais um alerta aos cristãos que, desde que se entendem por gente, vivenciam a vida da Igreja, mas talvez ainda não tenham encontrado o Cristo: “A nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a ele nos hauramos, a posse de tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida”. 

A marca do cristão é a esperança, repetiu o Papa Bento XVI na conferência por ocasião do cinquentenário da Faculdade Franciscana Antonianum, em Roma. Essa esperança está intimamente ligada à promessa de Deus para a humanidade. Essa promessa, lembrou, “não existiu nem pode existir sem a encarnação de Deus, sem sua morte e ressurreição. (…) Sendo essa certeza Jesus Cristo, ser cristão é esperança”.  

Mas a promessa da salvação está ferida, lembrou o Papa Francisco aos acadêmicos e estudantes da Pontifícia Universidade Gregoriana, no discurso feito por ocasião do Dies Academicus no mês passado. O que estamos fazendo nós, para sermos peregrinos da esperança, indagou o pontífice a eles, mas também a nós: 

“O mundo está em chamas, a loucura da guerra cobre toda esperança com a sombra da morte. O que podemos fazer? O que podemos esperar? A promessa de salvação está ferida. Essa palavra salvação não pode ser refém daqueles que alimentam ilusões, flexionando-a com vitórias sangrentas, enquanto nossas palavras parecem esvaziadas da confiança no Senhor que salva, de seu Evangelho que sussurra palavras e nos mostra gestos que realmente redimem. Jesus passou pelo mundo revelando a mansidão de Deus. Será que nossos pensamentos o imitam ou o usam, eu me pergunto, para mascarar o mundanismo que injustamente o condenou e o matou?”

Que neste Advento, o Senhor nos dê a graça de O encontrarmos e sermos, também nós, peregrinos da esperança. 

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