Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 21 Agosto 2018
A Costa Rica tornou-se o destino de milhares de migrantes e refugiados nicaraguenses. No último final de semana, uma manifestação foi convocada nas redes sociais para hastear bandeiras costa-riquenhas no parque central da capital San José. O parque La Merced tornou-se na verdade o local de uma batalha que envolveu 44 presos com facas e coquetéis molotov. O presidente Carlos Alvarado publicou um vídeo de rechaço à violência xenófoba e a polícia isolou o parque que é um acampamento dos migrantes.
Desde o mês de abril quando intensificaram os conflitos na Nicarágua, estima-se que mais de 26 mil nicaraguenses migraram para a Costa Rica. Em um fluxo migratório crescente, os nicaraguenses começaram a chamar a atenção de grupos nacionalistas costa-riquenhos. Em julho, Carlos Avandeño, presidente do partido de oposição ao atual governo, Restauración Nacional, afirmou sua preocupação com o descontrole das fronteiras. Nas redes sociais, páginas no Facebook convocam à população para se levantarem contra a “imigração ilegal”.
Nesse sábado a violência se estendeu das redes sociais às ruas. A manifestação com cerca de 500 costa-riquenhos saiu ao parque La Merced, no centro de San José, e se espalhou para outras zonas da cidade. A cidade berço da Convenção Americana de Direitos Humanos transformou-se em campo de batalha. Os migrantes e refugiados do violento governo de Daniel Ortega, que já deixou mais de 350 mortos desde abril, vivem em sua maioria em abrigos e nas ruas. O Parque La Merced tornou-se um centro de acampamento de nicaraguenses.
Novas marcharam estão sendo convocadas para o dia 02-09-2018. A pauta principal é contra o presidente Carlos Alvarado que, segundo os opositores, tem facilitado a entrada de pessoas no país.
Os ataques xenófobos mobilizaram a comunidade nicaraguense a se protegerem. Em reportagem do portal La Teja, os migrantes demonstram o medo das agressões. Sem dinheiro e sem casa, obrigam-se a andar em grupos para se protegerem. “Temos que andar juntos, nós somos cinco, porque nos dá medo que nos agridam, estamos a mais de um mês aqui e não temos onde dormir”, afirmou um migrante que se identificou apenas como Armando, com medo de represálias à sua família na Nicarágua e de ser perseguido na Costa Rica.
A presidência do país se manifestou em favor aos migrantes. O presidente Carlos Alvarado reafirmou posições que já havia manifestado. Segundo o mandatário "hoje recebemos pessoas, algumas feridas que se sentem em risco, outras inclusive perseguidas, que por suas condições de vulnerabilidade buscam refúgio ou um espaço de paz no nosso país [...] Desde o mês de junho estamos integrando o trabalho de 37 organizações governamentais como migração, polícia, saúde, chancelaria para abordar esse tema".
Outras organizações vêm promovendo atividades de acolhida aos nicaraguenses. Noemí Pavón, presidente da Coalizão de Nicaraguenses Exilados, afirmou, em entrevista à Voz de América que diferentes grupos estão articulando atividades de solidariedade aos migrantes na Costa Rica. "Diferentes grupos de artistas costa-riquenhos estão dando seu apoio ao povo da Nicarágua que está aqui em solicitação de refúgio". Nas ruas do país há organizações que distribuem alimentos para os refugiados sem-teto.
Por outro lado, no site oficial do governo nicaraguense, El 19 Digital, nenhuma nota foi publicada sobre os ataques.
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Ataque xenófobo contra nicaraguenses na Costa Rica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU