08 Agosto 2018
Dois trabalhadores encarregados de cuidar de menores nos abrigos do Arizona foram acusados de abusar sexualmente de adolescentes migrantes, segundo os registros de um tribunal. Tratam-se dos processos mais recentes por abuso nos abrigos contratados pelo governo de Donald Trump, os quais têm um papel crucial nas severas medidas migratórias implementadas contra a imigração.
A reportagem é de Matthew Haag, publicada por The New York Times, 07 -08-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
Segundo as autoridades, no dia 31 de julho, a polícia de Phoenix prendeu Fernando Magaz Negrete, de 32 anos, pelo crime de abuso sexual de menores, assim que ele foi visto beijando e acariciando uma menina de 14 anos em junho. Sua prisão ocorreu um dia depois dos fiscais federais detalharem um caso contra outro trabalhador destes centros, Levian D. Pacheco, de 25 anos, que é HIV positivo e é acusado de apalpar seis meninos adolescentes e praticar sexo oral neles e em mais dois, em um centro de detenção desde o final de agosto de 2016 até julho de 2017.
Embora ambos os homens trabalhassem em instalações diferentes, esses centros são operados por Southwest Key Programs, uma organização texana sem fins lucrativos, que recebeu pelo menos 955 milhões de dólares em contratos federais desde 2015 para providenciar abrigos e outros serviços a crianças migrantes em custódia federal. Essa organização é uma das maiores operadoras na fechada indústria multimilionária encarregada de abrigar, transportar e vigiar as crianças migrantes em custódia federal na fronteira do sul dos Estados Unidos.
As políticas migratórias de Trump — incluindo a agora extinta política de separação de famílias — têm proporcionado benefícios financeiros a empreendimentos como o Southwest Key Programs. Além disso, elas estão sob o acompanhamento cada vez mais pontual do tratamento dado aos imigrantes, provocando que no dia 31 de julho um funcionário do governo, de alto escalão, defendesse os centros de detenção para famílias, afirmando que são “mais parecidos com um acampamento de verão”.
Mas no caso formulado contra Pacheco, um fiscal federal no Arizona ofereceu uma descrição muito diferente do centro para migrantes adolescentes no qual trabalhava: “é um ambiente carcerário”.
Em janeiro, o fiscal disse ao juiz federal que os trabalhadores vigiavam as crianças em seus cômodos, dentro das instalações da Casa Kokopelli, uma sede da Southwest Key em Mesa, Arizona, aproximadamente a cada quinze minutos.
“Dizem que durante essas avaliações e, em outros momentos, o acusado entrava e tocava estas crianças”, afirmou Robert I. Brooks, assistente do fiscal dos Estados Unidos, em uma audiência, segundo documentos do tribunal.
Funcionários do departamento de polícia de Mesa receberam as primeiras acusações contra Pacheco em 24 de julho do ano passado, segundo os registros do tribunal federal. Três menores, todos de 17 anos, contaram à polícia histórias parecidas sobre sua interação com ele.
Um menor guatemalteco afirmou que esse mês Pacheco entrou em seu banheiro uma manhã muito cedo e o apalpou enquanto lavava as mãos. Outro garantiu que o homem o acariciou enquanto ele estava em sua cama, à noite. Um terceiro assinalou que ele lhe agarrou na virilha enquanto limpava seu quarto.
Pacheco foi acusado em agosto de 2017 e as autoridades o prenderam no mesmo mês em Miami, depois que ele retornou de viagem de Cuba, seu país natal. Foi concedido a Pacheco o status de residente permanente nos Estados Unidos depois de fugir de Cuba, segundo a autoridade federal.
No decorrer do ano passado, o caso foi transferido para investigadores federais do Departamento de Saúde e Serviços Sociais, e surgiram outros processos. De acordo com documentos do tribunal, agora Pacheco é acusado de abusar sexualmente de oito menores, cujas idades oscilam entre 15 e 17 anos.
“Todas estas crianças são especialmente vulneráveis. São crianças. São menores”, disse Brooks. “Estão nos Estados Unidos sem um status. Não conhecem a cultura nem os costumes e desconhecem seu futuro”.
Pacheco, que foi contratado em 23 de março de 2016, não entregou suas impressões digitais ao Departamento de Segurança Pública para que fosse feita uma análise de antecedentes, mesmo que se tenha enviado uma carta solicitando-as. No final do mês, ele aceitou a análise de antecedentes e os registros do tribunal mostraram que Pacheco não tinha antecedentes penais anteriores à sua prisão em agosto de 2017.
No caso contra Negrete, as autoridades afirmam que uma menina foi testemunha de que ele beijou a sua colega de quarto, uma menor de 14 anos, no centro Casa Campbell de Southwest Key, em Phoenix. Outra testemunha declarou à polícia que o homem beijou a menina e tocou no seu peito e na sua vagina em um encontro diferente.
A polícia de Phoenix soube das acusações contra Negrete pela primeira vez em 25 de julho, aproximadamente um mês depois da visita da primeira dama, Melania Trump, a esse mesmo centro, durante um percurso pelas instalações no Arizona. Foi preso em 31 de julho e se encontra detido na penitenciária do condado de Maricopa.
Um porta-voz de Southwest Key Programs afirmou que Negrete foi despedido e que os trabalhadores da organização informaram imediatamente às autoridades sobre as acusações por abuso ou negligência.
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“Todas estas crianças são especialmente vulneráveis”: casos de abuso sexual contra menores migrantes nos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU