16 Julho 2018
Twitter cancela dezenas de milhões de contas falsas e dá um pequeno corte no mercado do fake.
A reportagem é de Eugenio Cau, publicada por Il Foglio, 13-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Twitter começou na última semana a cancelar da lista de seguidores de seus usuários "dezenas de milhões" de contas "suspensas", uma operação que irá durar por dias e que, no final, deverá reduzir o número de seguidores dos usuários em quase seis por cento, em média. Muitas contas famosas já reduziram o número de seus seguidores: Donald Trump, que tem 53 milhões de seguidores, perdeu 100 mil, Barack Obama, que tem 104 milhões, perdeu 400 mil. O Twitter já havia anunciado na semana passada que havia suspenso 70 milhões de contas "suspeitas", ou seja, bots que produzem spam (os bots são contas automatizadas que retwitam ou postam mensagens predeterminadas; às vezes são úteis, como os bots de alertas sísmicos, mas quase sempre contribuem a amplificar mensagens indesejadas), trolls e contas fake.
As contas "suspensas" relativas à operação da semana passada são de um tipo levemente diferente, que é parcialmente sobreposto a bots, trolls e fakes. São contas onde o Twitter identificou um comportamento anômalo (muitas sinalizações por parte de outros usuários, ondas de tweets imensas) e para as quais há tempo reduziu a capacidade de interagir nas mídias sociais. São contas "suspensas", portanto, mas que ainda engordavam as contas dos seguidores. O Twitter disse que, por serem contas já inabilitadas, sua eliminação das contagens não afetaria o número de usuários ativos, termo de comparação do estado de saúde da empresa.
Apesar disso, nos últimos dias, as ações na Bolsa tiveram sérias oscilações, os investidores temendo que, apesar de todas as precauções, o número de usuários do Twitter poderia cair no próximo trimestre. O comportamento dos mercados é sintomático: a Bolsa, pelo menos a longo prazo, prefere que o Twitter seja inchado de contas falsas, bots e spammers de fakes news, mas que os números gerais sejam grandes e exuberantes, ao invés de ter uma rede social mais saudável (para os usuários e para a democracia), mas um pouco mais reduzida.
Essa atitude nos diz duas coisas. Uma: o modelo de juízo do valor dos serviços de internet, como o Twitter ou o Facebook, está completamente fora de foco. Dois: em torno das redes sociais circula uma economia impressionante do fake, que como tudo gera PIB. Que por pouco de dinheiro é possível comprar milhares e milhares de usuários, comentários, retweets, coraçõezinhos e like em qualquer mídia social é bem conhecido. Em alguns dessas mídias sociais, como o Twitter, se usam contas falsas por razões políticas e de prestígio: aumentar o número dos próprios seguidores é usado para obter credibilidade, enquanto ter exércitos de bots que retwitam e geram elogios nas respostas ajuda a desviar os discursos para os próprios interesses ou próprios anúncios publicitários. É no Instagram, no entanto, que circula o dinheiro real.
O Instagram é o território de caça de centenas de milhares de aspirantes a influencer que esperam percorrer o caminho de Chiara Ferragni e as outras celebridades da mídia social: empresas que te enviam produtos para opinar, que te convidam para viagens de luxo, que te oferecem parcerias e patrocínios.
Até agora, as empresas têm sido bastante generosas: basta ter algumas dezenas de milhares de seguidores e logo é possível ser contatado - talvez não por uma multinacional, mas por pequena fabriqueta ou associação - para patrocínios no próprio perfil. Muitos, assim, esperam abrir o caminho para o sucesso usando as contas automatizadas. As empresas que fornecem esse tipo de serviço são espertas. Não usam os bots para aumentar o número de seguidores do cliente (o Instagram consegue detectar), mas, por exemplo, usam sistemas automatizados para conseguir que o cliente digite o próprio ‘seguir’ em milhares de outros usuários do Instagram. Estes, vendo que alguém os segue, provavelmente retribuirão o ‘seguir’, e assim o usuário aumenta as suas estatísticas. As empresas também oferecem serviços para ‘deixar de seguir’ os perfis seguidos na primeira fase da operação, de modo que a própria conta volta a ser imaculada. Se a manobra parecer tortuosa, é porque o processo foi realmente pensado para complicar as etapas e dificultar a sua descoberta.
Ainda poderíamos continuar com muitas outras mídias sociais. No YouTube, por exemplo, os youtubers compram comentários positivos e like dos seus vídeos para aumentar a própria importância e enganar o algoritmo (às vezes compram opiniões negativas para os vídeos dos outros).
Em suma, todo mundo sabe que as mídias sociais estão cheias de fake (entre 5 e 10 por cento, dependendo das estimativas), e devemos começar a nos perguntar: e se os influencers fossem uma bolha?
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A ‘bolha’ dos 'digital influencers' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU