02 Dezembro 2017
O encontro inter-religioso pela paz, presidido pelo Papa, foi encerrado com Francisco ouvindo, saudando e dando a bênção a 18 membros dos refugiados rohingya, acolhidos em Bangladesh. A dor era perceptível no rosto do Papa que, em seu discurso, chamou a atenção do mundo contra “a tentação de fechar os olhos ao drama dos refugiados”.
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 01-12-2017. A tradução é de André Langer.
Em outro gesto surpreendente, o Papa chega ao encontro inter-religioso e ecumênico pela paz, que aconteceu nos jardins do arcebispado de Daca, de riquixá, após encontrar-se com os bispos católicos na catedral e a primeira-ministra, Sheil Hasina, na nunciatura apostólica.
Recebido com o cântico do hino bengalês, Francisco senta-se em um estrado, cercado por seu tradutor e pelo cardeal Rozario. Em seguida, é cantado o hino do Vaticano.
Entre os líderes religiosos presentes estão os muçulmanos, budistas, hinduístas, anglicanos, evangélicos e ortodoxos. Está também presente o cardeal indiano Gracias.
A primeira intervenção é do cardeal de Daca, Patrick Rozario.
“Bem-vindo, Santo Padre, a este encontro inter-religioso e ecumênico”
“Bangladesh é um bom exemplo no mundo de harmonia religiosa”
“Respeito pelo credo dos outros”
“Vivemos em harmonia e em paz” e “estamos orgulhosos desta herança de nosso povo”
“Herança que, às vezes, está ameaçada”
“Nossa riqueza é a experiência dos valores evangélicos dos pobres”
“Nós acreditamos que o amor é a paz”
Na sequência, cinco representantes de outras tantas comunidades religiosas saúdam o Papa.
Em primeiro lugar, o representante muçulmano, o grão-imã de Bangladesh, que dá as boas-vindas ao Papa ao “nosso belíssimo país”.
“O amor ao Criador manifesta-se no cuidado com a criação”
“A compaixão e o amor, único remédio contra o ódio e a violência”
E agradece ao Papa o apoio aos rohingya. Depois disso, o Papa e o imã se abraçam.
Em seguida, a saudação do representante da comunidade hinduísta.
“Nós pertencemos a diferentes religiões, mas todas as religiões, como os rios, confluem para o mesmo mar”
“Com harmonia e paz, a humanidade terá um futuro melhor”
Depois do hinduísta, é a vez do líder dos budistas, que também pede “harmonia entre as diferentes religiões de Bangladesh”
E elogia a ajuda que as organizações cristãs dão a pessoas de todas as religiões em Bangladesh.
Em seguida, a saudação do representante da Caritas Bangladesh, que também se refere à crise dos refugiados rohingya e destaca a convivência harmoniosa entre os fiéis das diferentes religiões e confissões.
O próximo a intervir é um professor da Universidade de Daca, que também glosa a solidariedade do Papa com os rohingya e pede que a comunidade internacional intervenha para parar “esse crime” contra os refugiados.
O coro bengalês interpreta uma canção típica do país, antes da intervenção do Papa Francisco.
“Nosso encontro com os representantes das religiões deste país é um momento significativo da minha visita a Bangladesh”
“Para expressar o desejo comum de uma paz genuína e duradoura”
“Desejo de harmonia, fraternidade e paz contido nos ensinamentos das religiões do mundo”
“Viver juntos no respeito mútuo e na boa vontade”
“Aqui, o direito à liberdade religiosa é um direito fundamental”
“Somos chamados a cooperar na formação de uma cultura do encontro, do diálogo e da colaboração a serviço da família humana”
“Exige mais que uma simples tolerância e pede para estender a mão para o outro”
“A diversidade não é uma ameaça, mas uma fonte de enriquecimento e crescimento”
“Ver os outros como um caminho e não como um obstáculo”
“A abertura do coração, condição para uma cultura do encontro”
“Dialogar com a vida, não apenas com as ideias”
“Compartilhar nossas diversas identidades religiosas e culturais sempre com humildade, honestidade e respeito”
“Necessidade de purificar nossos corações”
“Estender a todos a mão da amizade”
“A abertura do coração também é um caminho que leva a buscar o bem do nosso próximo”
“Solicitude religiosa para o bem do nosso próximo”
“Cuidando da terra, nossa casa comum”
“O mundo precisa neutralizar o vírus da corrupção... e a tentação de fechar os olhos aos refugiados...”
“Obrigado pelo esforço para promover a cultura do encontro”
“Cooperar para construir um mundo cada vez mais humano, unido e pacífico”
Após as palavras do Papa, reza-se a oração ecumênica, dirigida pelo bispo anglicano de Daca.
No final da oração, 18 representantes da comunidade rohingya se aproximam para saudar e trocar algumas palavras com o Papa. O Papa detém-se especialmente com uma menina rohingya. O Papa ouve os membros dos refugiados e dá-lhes a bênção. E os ouve com emoção e tristeza. A compaixão em ação. O Papa não se cansa de ouvir sua dor.
O Papa Francisco usou, em Daca, pela primeira vez desde que começou sua viagem pela Ásia, a palavra “rohingya”. Não tinha feito isso durante a sua visita anterior à Birmânia, onde recebeu ameaças de monges budistas radicais, caso ele se posicionasse a favor da minoria muçulmana ou, simplesmente, se os mencionasse.
“Hoje, a presença de Deus também se chama ‘rohingya’”, disse Francisco durante um encontro com 16 membros da comunidade rohingya, que vieram dos campos de refugiados na província de Cox's Bazar, onde se assentaram quando fugiram da brutal perseguição sofrida na Birmânia.
O encontro aconteceu no final da reunião inter-religiosa de que Francisco participou nesta sexta-feira no jardim da sede do arcebispado com representantes de muçulmanos, budistas, hinduístas e outros cristãos.
Um grupo de três famílias – 18 pessoas no total, incluindo duas mulheres que usavam o nikab, que deixa apenas os olhos descobertos, uma menina e um bebê – saudou o Papa, que se deteve com cada um dos seus integrantes para trocar algumas palavras.
As mulheres tiraram o nikab quando viram o Papa e, com a ajuda de um tradutor, contaram suas histórias ao Papa, que ouvia em silêncio.
Um a um foram passando na frente do Papa, que pegava em suas mãos enquanto os ouvia com um rosto compenetrado e muito sério.
O chefe da Igreja católica ouviu o testemunho de uma refugiada rohingya de 27 anos que foi violada por soldados birmaneses e pediu ajuda a Francisco para que a justiça seja feita. Desta forma, o Papa conheceu em primeira mão os testemunhos dos crimes pelos quais a ONU acusou a Birmânia – de estar fazendo uma limpeza étnica.
“Eles capturaram a mim e a outras mulheres e nos torturaram. Ainda sangro, tenho dor no meu abdômen e nas costas, e dores de cabeça”, disse à Reuters a mulher com o nikab preto e um bebê em seus braços.
A mulher quis compartilhar sua dor com o líder dos cristãos para “contar-lhe todos os cadáveres em decomposição que vi na minha fuga para Bangladesh”. “Eu quero que meus torturadores sejam punidos”, acrescentou.
“Nos sentimos próximos, a situação de vocês é muito difícil. Todos nós fomos criados à imagem de Deus”, disse o Pontífice aos rohingya.
Ele acrescentou: “Em nome de todos aqueles que provocaram danos a vocês, pela indiferença do mundo, peço perdão”, e muitos dos rohingya choravam depois do encontro.
“Continuemos a ajudá-los. Não fechem seus corações e não desviem o olhar”, pediu Francisco após encontrá-los.
O bispo de Chittagon, Moses M. Costa, confirmou a alguns meios de comunicação durante a missa da manhã que o Papa mostrou interesse em ir aos campos de refugiados em Cox’s Bazar, “mas que o governo não teria permitido por razões de segurança, mas que permitiu trazer um grupo de rohingya para que o Papa pudesse encontrar-se com eles”.
O presidente da Caritas Bangladesh, Gervas Rozario explicou à Efe, que essas três famílias foram escolhidas aleatoriamente entre aquelas que quinzenalmente recebem ajuda humanitária e de primeira necessidade.
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O Papa ouve, consola e dá a bênção a 18 membros dos refugiados rohingya: “Peço-lhes perdão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU