30 Outubro 2017
O arcebispo que serve como o primeiro ministro do Vaticano disse que a busca de relações ecumênicas entre as diferentes igrejas cristãs não deveria mais ser descrita como um “assunto cristão interno”, mas que se tornou num “imperativo moral” devido à precariedade do sistema político global.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 27-10-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Durante uma cerimônia no dia 26 de outubro de inauguração do novo representante da Comunhão Anglicana em Roma, Dom Paul Gallagher disse que “o nosso mundo enfrenta, hoje, um número sem precedentes de desafios em todos os frontes”.
“Alguns tendem a ver o esforço ecumênico como uma questão de igreja, ou como um assunto cristão interno no qual a nossa unidade será boa para o crescimento ou mesmo sobrevivência da Igreja de Cristo”, disse Gallagher, secretário para as Relações com os Estados na Secretaria de Estado do Vaticano.
“Dado tudo o que enfrentamos hoje, dadas a urgência e a precariedade da nossa situação, eu gostaria de sustentar que o engajamento ecumênico é um imperativo moral para todos nós que somos batizados em nome da Santíssima Trindade”, continuou Gallagher. “Devemos prosseguir juntos como um único Corpo de Cristo, não porque seja bom ou aconchegante, mas porque precisamos em resposta às necessidades prementes da humanidade”.
O arcebispo teceu estes comentários em uma homilia durante uma cerimônia ecumênica cantada no Oratório de San Francesco Saverio del Caravita, em Roma, serviço dedicado à inauguração de Bernard Ntahoturi, o novo representante pessoal do Arcebispo de Canterbury junto à Santa Sé, e que também atuará como diretor do Centro Anglicano de Roma.
O Arcebispo de Canterbury Justin Welby, chefe da Comunhão Anglicana mundial, esteve presente para o evento, durante o qual formalmente enviou Ntahoturi, natural de Burundi, para esta sua nova função.
Gallagher falou sobre o engajamento ecumênico no contexto das últimas décadas de relação entre a Igreja Católica de Roma e a Comunhão Anglicana, na sequência do primeiro encontro público entre um papa e um arcebispo de Canterbury em 1966.
O arcebispo católico também apontou para uma conexão especial que ele divide com Ntahoturi, tendo trabalhado como o núncio apostólico, equivalente a embaixador, em Burundi de 2004 a 2009. Disse que, embora as relações históricas entre anglicanos e católicos na África “muitas vezes se caracterizaram pela competição e rivalidade”, “nos últimos tempos temos feito um esforço para trabalharmos em conjunto sempre que possível”.
Gallagher referiu-se aos planos de o Papa Francisco e Welby visitarem o Sudão do Sul, país arrasado pela guerra. Embora estes planos tenham sido adiados por medidas de segurança, o prelado falou que “o Santo Padre e o arcebispo [de Canterbury] nutrem a esperança de poderem agir juntos em benefício do povo do Sudão do Sul”.
Ntahoturi, que é o primeiro falante de francês e africano a ocupar este cargo em Roma, foi o Arcebispo Anglicano Primaz de Burundi e trabalhou como presidente do Conselho das Províncias Anglicanas na África. É conhecido como um destacado defensor da paz e foi vice-presidente da Comissão de Verdade e Reconciliação de Burundi.
A igreja de Caravita é o lar para uma comunidade católica de língua inglesa liderada pelo padre jesuíta Keith Pecklers. A comunidade compartilha uma aliança ecumênica com o Centro Anglicano, fundado em 1966 para acolher os peregrinos anglicanos e construir relações ecumênicas na Cidade Eterna.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Gallagher, ministro das Relações Exteriores do Vaticano: o trabalho ecumênico é um “imperativo moral” devido à instabilidade global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU