25 Setembro 2017
"Santo Padre, é com profunda tristeza, mas impulsionados pela fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo amor à Igreja e ao Papado e pela devoção filial a Você, que nós somos obrigados a dirigir uma correção à Sua Santidade, por causa da propagação de heresias provocadas pela Exortação Apostólica Amoris Laetitia e por outras palavras, atos e omissões de Sua Santidade".
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Settimo Cielo, 24-09-2017. A tradução é de André Langer.
Assim começa a carta que 40 eruditos católicos de todo o mundo enviaram ao Papa Francisco em 11 de agosto e tornam pública hoje, domingo, 24 de setembro, no sítio Correctio Filialis.
Entretanto, os 40 signatários tornaram-se 62 e outros mais podem aderir. Mas, até agora, Francisco não deu nenhum sinal de ter levado em consideração o passo que eles deram.
Um passo que não tem similar na história moderna da Igreja. Porque é ao longínquo ano de 1333 que remonta o último precedente análogo, uma "correção" pública dirigida ao Papa por causa das heresias mantidas por ele e, na sequência, efetivamente rejeitadas pelo então Papa João XXII.
As heresias denunciadas pelos signatários da carta são sete. E todas elas encontram-se, na opinião deles, no capítulo oitavo da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, da qual citam as passagens cruciais.
Mas não apenas ali. A carta também detalha uma série de palavras, atos e omissões subsequentes com as quais o Papa Francisco teria propagado essas mesmas heresias, “escandalizando, com isso, a Igreja e o mundo”.
Daí a decisão não apenas de denunciar publicamente este estado de coisas, mas também de dirigir ao Papa Francisco o pedido explícito de corrigir os erros "sustentados e propagados por ele, para um grave e iminente perigo das almas".
A "correctio" propriamente dita, escrita em latim, ocupa pouco mais do que uma página das 26 da carta inteira, e é reproduzida integralmente abaixo, nas traduções feitas pelos próprios autores.
A propósito desses últimos, convém precisar que, na carta dirigida ao Papa, as assinaturas são colocadas não no final do texto, mas imediatamente após a "Correctio" e antes da longa "Elucidação" final, que, consequentemente, tem um valor mais acessório do que substancial. Esta última insiste no pano de fundo teológico das heresias denunciadas e a individualiza no "modernismo" e na influência do pensamento de Martinho Lutero, por quem o Papa Francisco – pode-se ler – nutre "uma simpatia sem precedentes".
Entre os 62 signatários, detalhados mais abaixo, os 40 que assinaram a carta entregue ao Papa estão assinalados em negrito.
E entre as assinaturas que foram adicionadas posteriormente aparece também a de um bispo, o único. É Bernard Fellay, superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, isto é, dos lefebvrianos.
Sua assinatura poderia, efetivamente, criar mais dificuldades para o Papa Francisco do que a carta propriamente dita, em relação à qual até agora mostrou sua indiferença.
Efetivamente, o fato de Fellay reconhecer Francisco sete vezes como herético, dificulta, se não torna impossível, essa reconciliação prática que o próprio Francisco mostrou, pelo menos até agora, querer acelerar com os lefebvrianos.
Voltando aos primeiros 40 signatários, há entre eles dois dos seis estudiosos que estiveram reunidos em Roma em 22 de abril passado para o seminário de estudo sobre a Amoris Laetitia, lembrado pelo cardeal Carlo Caffarra em sua última – e não ouvida – carta ao Papa Francisco.
Os dois são: Claudio Pierantoni, professor de Filosofia na Universidade do Chile, Santiago do Chile, e Anna M. Silvas, australiana, especialista nos Padres da Igreja e professora na Universidade da Nova Inglaterra.
De Pierantoni, Settimo Cielo publicou em 14 de setembro passado um artigo que terminava deste modo:
"É extremamente necessário e urgente que apareça algum tipo de correção ‘formal’ ou – talvez, seria melhor – ‘filial’ para o Papa. E queira Deus conceder ao Santo Padre um coração aberto para ouvi-la”.
Ao passo que nos recordaremos que no seminário de 22 de abril, Anna Silvas mostrou-se cética em relação à vontade do Papa Francisco de aceitar uma "correção".
Em vez disso, ela propôs para a atual era pós-cristã uma "opção Bento", inspirada no monaquismo na época do colapso da Antiguidade, com vistas a “permanecer” humilde e comunitariamente em Jesus e no Pai (Jo 14, 23), na confiante espera, feita de oração e trabalho, para acalmar a tempestade que hoje perturba o mundo e a Igreja.
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Por meio de palavras, atos e omissões, e por meio de passagens do documento Amoris Laetitia, Sua Santidade apoiou, direta ou indiretamente, e propagou dentro da Igreja, com um certo grau de consciência que não nos aventuramos a julgar, tanto por ofício público como por ato privado, as seguintes proposições falsas e heréticas:
1. "Uma pessoa justificada não tem a força, com a graça de Deus, para cumprir os mandamentos objetivos da lei divina, como se qualquer um dos mandamentos de Deus fosse impossível para os justificados; ou como se a graça de Deus, quando produz a justificação de um indivíduo, não produzisse invariavelmente e por sua natureza a conversão de todo pecado grave, ou não fosse suficiente para a conversão de todo pecado grave".
2. "Os católicos que obtiveram um divórcio civil do cônjuge com quem estão validamente casados e contraíram um casamento civil com outra pessoa enquanto o cônjuge estiver vivo e que vivem ‘more uxorio' com seu parceiro civil e que escolhem permanecer neste estado com pleno conhecimento da natureza de seu ato e com pleno consentimento da vontade do ato, não estão necessariamente em estado de pecado mortal, e podem receber a graça santificante e crescer na caridade”.
3. "Um fiel católico pode ter pleno conhecimento de uma lei divina e optar por violá-la voluntariamente em uma matéria grave, mas não estar em um estado de pecado mortal como resultado desse ato".
4. "Uma pessoa, enquanto obedece a uma proibição divina, pode pecar contra Deus em virtude desse mesmo ato de obediência".
5. "A consciência pode julgar verdadeira e corretamente que os atos sexuais entre pessoas que contraíram um casamento civil entre si, mesmo que um deles, ou ambos, estiver sacramentalmente casado com outra pessoa, às vezes podem ser moralmente bons ou reivindicados ou mesmo mandados por Deus".
6. "Os princípios morais e as verdades morais contidas na Revelação Divina e na lei natural não incluem proibições negativas que defendem absolutamente alguns tipos de atos que por seu objeto são sempre gravemente ilícitos".
7. "Nosso Senhor Jesus Cristo quer que a Igreja abandone sua permanente disciplina de negar a Eucaristia aos divorciados casados, e de negar a absolvição aos casais divorciados recasados que não expressam contrição por seu estado de vida e nem a firme intenção de se emendar".
Todas essas proposições contradizem verdades que são divinamente reveladas e que os católicos devem crer com o consentimento da fé divina. [...] É necessário para o bem das almas que sejam condenadas uma vez mais pela autoridade da Igreja. Ao enunciar essas sete proposições, não pretendemos fornecer uma lista exaustiva de todas as heresias e erros que um leitor imparcial, ao procurar ler a Amoris Laetitia em seu sentido natural e óbvio, consideraria como afirmadas, sugeridas ou favorecidas por este documento. [...] Em vez disso, pretendemos listar as proposições que as palavras, atos e omissões de Sua Santidade, como já descritas, realmente apoiaram e propagaram, para grave e iminente perigo das almas.
Nesta hora crítica, portanto, nos voltamos para a "cathedra veritatis", a Igreja romana, que, pela lei divina, tem preeminência sobre todas as Igrejas, e da qual somos e pretendemos permanecer sempre filhos leais, e respeitosamente insistimos que Sua Santidade rejeite publicamente essas proposições, cumprindo assim o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo dado a São Pedro e, através dele, a todos os seus sucessores até o fim do mundo: "Eu rezei por você, para que a sua fé não desfaleça. E você, quando tiver voltado para mim, fortaleça os seus irmãos".
Respeitosamente, nós pedimos à Sua Santidade a sua benção apostólica, com a garantia da nossa devoção filial em Nosso Senhor e da nossa oração pelo bem-estar da Igreja.
* * *
(Em negrito, os primeiros 40 signatários da carta enviada ao Papa no dia 11 de agosto. O nome de um deles foi omitido, a seu pedido.)
Nota de IHU On-Line: Dois signatários são do Brasil. São os dois últimos. Um deles, em negrito, foi professor da PUC-SP e o outro, foi reitor do Seminário de Jacarezinho, PR. Por sua vez, no dia de ontem, segundo informa o sítio tradicionalista Rorate coeli, o documento foi assinado também pelo bispo emérito dos EUA, D. Rene Henry Gracida, 94 anos - clique aqui.
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Mons. José Luiz Villac
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Nota de IHU On-Line: A íntegra do texto "Correctio filialis de haeresibus propagatis", 28 páginas, em espanhol, pode ser lida aqui.
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Se eu estiver errado, corrijam-me. As sete heresias da Amoris Laetitia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU