07 Junho 2017
Em artigo investigativo, jornal afirma que para salvar o glifosato, a empresa usa de práticas ilícitas.
A reportagem é de Stéphane Foucart e Stéphane Horel, publicada pelo jornal Le Monde, 01-06-2017. A reportagem é traduzida por Ana Corbisier e reproduzida por Brasil De Fato, 04-06-2017.
Em artigo de nove páginas, jornalistas do Le Monde apresentam uma trama digna de filmes hollywoodianos. A descoberta que o glisofato, principal componente do Roundup, pesticida da Monsanto é "provavelmente cancerígeno" irritou bastante a multinacional. Utilizado há mais de quarenta anos, o glifosato entra na composição de nada menos de 750 produtos comercializados por uma centena de empresas, em mais de 130 países.
Disponível no mercado desde 1974, seu uso passou de 3 mil toneladas por ano para 825 mil toneladas em 2014. Para defender seu principal produto, a empresa estaria se valendo de intimidação, espionagem e tráfico de influência.
"Já fomos atacados no passado, já sofremos campanhas de difamação, mas somos desta vez o alvo de uma campanha orquestrada, de amplitude e duração inéditas." Essas foram as palavras iniciais de Christopher Wild diretor do Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (CIRC).
Christopher Wild pesou cada palavra com uma gravidade à altura da situação. Há dois anos, inúmeros ataques foram feitos à instituição que ele dirige: a credibilidade e a integridade de seu trabalho são desafiadas, seus especialistas difamados, pressionados por meio de advogados, seus financiamentos fragilizados. Encarregada há cerca de meio século, sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde (OMS), de fazer o inventário das substâncias cancerígenas, a venerável agência começa a vacilar sob o assalto.
As hostilidades foram iniciadas numa data bem precisa: 20 de março de 2015. Naquele dia, o CIRC anunciou as conclusões de sua pesquisa que deixou o mundo todo chocado. Ao contrário da maioria das agências regulamentares, o CIRC julga genotóxico – pois prejudica o DNA –, cancerígeno para o animal e "provavelmente cancerígeno" para o homem, o pesticida mais utilizado do planeta. Este pesticida é o glifosato, principal componente do Roundup, o produto farol de uma das empresas mais célebres do mundo: a Monsanto.
É também o Leviatã da indústria agroquímica. Utilizado há mais de quarenta anos, o glifosato entra na composição de nada menos de 750 produtos comercializados por uma centena de empresas, em mais de 130 países.
Entre 1974, data em que foi posto no mercado, e 2014, seu uso passou de 3.200 toneladas por ano a 825.000 toneladas. Um aumento espetacular, devido à adoção maciça de sementes geneticamente modificadas para tolerá-lo.
De todas as empresas agroquímicas que poderiam ser atingidas por medidas de restrição ou de proibição do produto, há uma que arrisca sua própria sobrevivência. Monsanto, que o criou, fez do glifosato a pedra angular de seu modelo econômico. Ela fez sua fortuna vendendo o Roundup e as sementes que o suportam.
Então, quando o CIRC anuncia que o glifosato é "provavelmente cancerígeno", a empresa americana reage com uma brutalidade inacreditável. Em um comunicado, ela vilipendia a "junk science" (a "ciência podre") do CIRC: uma "seleção viesada" de "dados limitados", estabelecida em função de "motivações ocultas", levando a uma decisão tomada depois de apenas "algumas horas de discussão no decorrer de uma reunião de uma semana".
Jamais uma empresa questionara em termos tão crus a integridade de uma agência situada sob a responsabilidade das Nações Unidas. A ofensiva estava lançada. Pelo menos aquela que se desenvolve a céu aberto.
Internamente, a Monsanto toca uma música totalmente diferente. Esta avaliação do glifosato, como ela sabe muito bem, foi realizada por um grupo de especialistas que, depois de um ano de trabalho, reuniu-se durante vários dias em Lyon para deliberar.
Os procedimentos do CIRC requerem que os industriais afetados pelo produto examinado tenham o direito de comparecer a esta reunião final.
Para a avaliação do glifosato, a Monsanto tinha, portanto, enviado um "observador", o epidemiologista Tom Sorahan, professor da Universidade de Birmingham (Reino Unido) que ela utiliza em missões de consultoria. O informe que ele dirigiu, em 14 de março de 2015, a seu comanditários, confirma isso: tudo se passou de acordo com as regras. "Achei o presidente [do grupo de trabalho], os copresidentes e os especialistas convidados muito amigáveis e dispostos a responder a todos os comentários que eu fiz", escreve Sorahan, em uma carta dirigida a um quadro da Monsanto e que integra os "Monsanto papers" – um conjunto de documentos internos da empresa que a justiça americana começou a tornar públicos no início de 2017, no contexto do processo em curso.
"A reunião realizou-se de acordo com os procedimentos do CIRC, acrescenta o observador da empresa americana. O Dr. Kurt Straif, diretor das monografias, tem um conhecimento íntimo das regras em vigor e insistiu em que elas fossem respeitadas".
O cientista – que não respondeu às solicitações do Le Monde – parece, aliás, muito constrangido com a ideia de que seu nome seja associado ao ataque da Monsanto: "Não desejo aparecer em nenhum dos documentos de seus comunicadores", escreve ele, ao mesmo tempo em que oferece sua "ajuda para formular elementos de linguagem" do contra-ataque, inevitável, que o grupo está preparando.
Alguns meses mais tarde, os cientistas não americanos que eram membros do grupo de especialistas do CIRC sobre o glifosato recebem todos a mesma carta. Enviada por Hollingsworth, o escritório de advogados da Monsanto, esta os intima a liberar a totalidade dos arquivos relacionados a seu trabalho sobre a pesquisa batizada de "monografia 112". Rascunhos, comentários, planilhas de dados… tudo que tenha passado pelo sistema de informática do CIRC. "Caso o senhor recuse, advertem os advogados, solicitamos expressamente que tomem imediatamente todas as medidas razoáveis de que dispõem para preservar esses arquivos intactos, aguardando uma demanda formal formulada por um tribunal americano."
"Sua carta é intimidatória e deletéria, insurge-se um dos cientistas em sua resposta, datada de 4 de novembro de 2016. Considero sua iniciativa repreensível e carente da cortesia habitual, mesmo segundo os parâmetros contemporâneos." O patologista Consolato Maria Sergi, professor na universidade de Alberta (Canadá), prossegue: "Sua carta é perniciosa, pois busca instilar, com maldade, ansiedade e apreensão no seio de um grupo independente de especialistas."
As pressões exercidas sobre os membros americanos do grupo do CIRC deram-se por outros meios, ainda mais intimidatórios. Nos Estados Unidos, as leis sobre a liberdade de informação (Freedom of Information Act, ou FOIA) permitem a todo cidadão, sob certas condições, solicitar acesso aos documentos produzidos pelos órgãos públicos e seus funcionários: memorandos, cartas, relatórios internos etc.
Segundo nossas informações, o escritório Hollingsworth e Sidley Austin entrou com cinco demandas, a primeira já em novembro de 2015, só junto aos National Institutes of Health (NIH), aos quais estão vinculados dois dos especialistas. No que se refere aos outros cientistas, as demandas destinam-se à Agência Californiana de Proteção ao Meio Ambiente (CalEPA), à Texas A & M University ou ainda à Universidade do Estado do Mississipi.
Algumas dessas instituições foram mesmo designadas pelos advogados da Monsanto no contexto de procedimentos judiciais em curso, envolvendo o glifosato, sendo assim obrigadas a fornecer alguns de seus documentos internos.
Seria o objetivo dessas manobras de intimidação fazer calar a crítica? Cientistas de renome mundial, em geral abertos às solicitações dos meios de comunicação, não responderam às solicitações do Monde, mesmo quanto a conversas informais. Ou, em alguns casos, com a condição de falar por uma linha privada, fora do horário de trabalho.
Os parlamentares americanos, por sua vez, não precisam lançar mão do FOIA para pedir contas às instituições científicas federais. Membro da Câmara de representantes, onde preside a comissão de controle e reforma do Estado, o republicano Jason Chaffetz escreve ao diretor dos NIH, Francis Collins, em 26 de setembro de 2016.
As escolhas do CIRC "suscitaram numerosas controvérsias", escreve ele. E, apesar de seu "histórico de polêmicas, de retratações e de incoerências", o CIRC recebe "financiamentos significativos dos contribuintes" americanos por meio das subvenções dadas pelos NIH.
De fato, 1,2 milhões de euros sobre os 40 milhões do orçamento anual do CIRC provêm de uma subvenção dos NIH. A seu diretor, pois, Jason Chaffetz, solicita detalhes e justificativa de toda a despesa dos NIH relacionada ao CIRC.
Esta iniciativa foi aplaudida no mesmo dia pelo American Chemistry Council (ACC). A poderosa organização de lobby da indústria química americana, de que a Monsanto é membro, "espera que a luz será feita sobre a relação estreita e um tanto opaca" entre o CIRC e as instituições científicas americanas.
O lobby da indústria química encontrou no Sr. Chaffetz um aliado precioso. Já um março, o eleito republicano escrevia à direção de um outro órgão de pesquisa federal – o National Institute of Environmental Health Sciences –, para pedir-lhe contas sobre as pesquisas que financia sobre os efeitos nocivos do bisfenol A, um composto muito difundido em certos plásticos.
Que melhor meio de neutralizar uma instituição do que cortar seus víveres? Nos meses que se seguiram à publicação da «monografia 112 «, Croplife International, a organização que defende os interesses dos industriais dos pesticidas e das sementes em nível mundial procura os representantes de alguns dos 25 Estados membros do conselho de governança do CIRC para queixar-se da qualidade do trabalho da agência. Ora, estes "Estados participantes" contribuem com cerca de 70% para o orçamento total do CIRC. Pelo menos três deles – Canadá, Países Baixos e Austrália – foram procurados, segundo o CIRC. Nenhum dos representantes desses Estados respondeu ao Monde.
No decorrer de 2016, personagens quase saídos de um romance apareceram na saga do glifosato. Em junho, um homem que se apresenta como jornalista mas não se anuncia nem se inscreve como tal, participa do encontro que o CIRC organiza em Lyon por ocasião de seu 50º aniversário.
Transitando de cientista a funcionário internacional, o indivíduo interroga uns e outros sobre o funcionamento do CIRC, seu financiamento, seu programa de monografias, etc. "Ele me fez pensar nessas pessoas dúbias que a gente cruza nos meios humanitários – nunca se sabe quem são, mas a gente adivinha que buscam informações", testemunha uma participante do encontro, que deseja guardar o anonimato.
Alguns meses mais tarde, no fim de outubro de 2016, o homem reaparece. Desta vez no encontro anual organizado pelo Instituto Ramazzini, um célebre órgão de pesquisa independente e respeitado sobre o câncer, instalado perto de Bolonha, na Itália. Mas por que, diabo, o Ramazzini? Um relatório, talvez, com o anúncio, feito alguns meses antes pelo instituto italiano, de que ia levar adiante seu próprio estudo sobre cancerogeneticidade do glifosato?
Christopher Watts – é seu nome – faz perguntas sobre a independência do instituto, suas fontes de financiamento. Como utilizou um endereço de email que terminava por "@economist.com", seus interlocutores não duvidaram de seu vínculo com o prestigiado hebdomadário britânico The Economist. Aos cientistas que lhe pedem detalhes, diz trabalhar para a Economist Intelligence Unit (EIU), uma empresa de consultoria filial do grupo de imprensa britânico.
Na EIU, confirmam que o Sr. Watts de fato produziu vários relatórios, mas disseram “não poder dizer porque ele participara” dos dois encontros. "Não foi publicado", acrescentam. Surpreendente, pois na redação do jornal, declaram não ter "nenhum jornalista com esse nome".
Só a denominação de uma empresa cuja criação o Sr. Watts mencionou, no final de 2014, parece clara: Corporate Intelligence Advisory Company (companhia de consultoria em informação para as empresas). O Sr.Watts, cujo endereço pessoal fica, segundo os documentos administrativos, na Albânia, não quis responder às perguntas do Monde.
Em alguns meses, foram pelo menos cinco indivíduos que se apresentaram como jornalista, pesquisador independente ou assistente de escritórios de advocacia procurando cientistas do CIRC e pesquisadores associados a seus trabalhos. Todos buscando informações muito específicas sobre os procedimentos e os financiamentos da agência.
Um deles, Miguel Santos-Neves, que trabalha para a Ergo, uma empresa de inteligência econômica sediada em Nova York, foi pinçado pela justiça americana por usurpação de identidade. Como relatou o New York Times em julho de 2016, o Sr. Santos-Neves pesquisava em nome da empresa Uber sobre uma personalidade em litígio com a empresa, e tinha interrogado seu entorno profissional sob falsos pretextos. A Ergo não deu sequência às solicitações do Monde.
Como Christopher Watts, duas organizações gêmeas, de reputação sulfurosa se interessam não só pelo CIRC, mas também pelo Instituto Ramazzini. Energy And Environmental Legal Institute (E &E Legal) se apresenta como uma organização sem fins lucrativos, sendo uma de suas missões 'pedir contas àqueles que desejam uma regulamentação governamental excessiva e destruidora, baseada em decisões políticas de intenções ocultas, na ciência podre e na histeria".
Quanto à Free Market Environmental Law Clinic, "busca ser um contrapeso ao movimento em defesa do meio ambiente, que promove um regime regulamentar economicamente destruidor nos Estados Unidos". Segundo os elementos de que dispõe Le Monde, elas iniciaram não menos de dezessete demandas de acesso aos documentos junto aos NIH e à Agência americana de proteção ao meio ambiente. Engajadas em uma guerrilha jurídica, burocrática, intrusiva, exigem as correspondências de vários funcionários americanos "contendo os termos “CIRC”, “glifosato”, “Guyton”" (como Kathryn Guyton, a cientista do CIRC responsável pela «monografia 112»). Solicitam os mínimos detalhes sobre bolsas, subvenções e outras relações, financeiras ou não, entre esses órgãos americanos, o CIRC, certos cientistas e o Instituto Ramazzini.
As duas organizações são dirigidas por David Schnare, um cético declarado em relação ao aquecimento global, conhecido por ter pressionado climatólogos. Em novembro de 2016, o Schnare deixou temporariamente a E & E Legal para unir-se à equipe de transição de Donald Trump.
Encontra-se também, entre os dirigentes da organização, Steve Milloy, uma figura célebre da propaganda financiada pela indústria do fumo. Às perguntas sobre suas motivações e fontes de financiamento, o presidente da E & E Legal respondeu por email: "Saudações, não estamos interessados."
O eco dessas demandas de acesso aos documentos é amplificado pelas matérias publicadas em certos meios de comunicação. Especialmente The Hill, um site político de leitura obrigatória para todo ator da vida parlamentar em Washington. Seus autores: um esquadrão de propagandistas, cuja associação US Right to Know (USRTK) documentou os laços de longa data com os industriais da agroquímica ou dos think tanks conservadores, como o Heartland Institute ou o George C. Marshall Institute, conhecidos pelo papel preponderante na maquinária “climatocética”. Os mesmos argumentos aparecem em vários textos. E às vezes, os mesmos sintagmas de um autor a outro: fustiga-se a «ciência feita nas coxas» de um CIRC que, corroído pelos conflitos de interesses, seria "amplamente criticado" – sem que jamais seja dito por quem.
Os advogados implicados nos procedimentos jurídicos americanos revelaram que a Monsanto empregava também meios mais discretos. Respondendo sob juramento às questões dos advogados de pessoas enfermas que atribuem seu câncer ao Roundup, responsáveis pela firma relataram a implantação de um programa confidencial batizado de "Let Nothing Go" (Não deixe nada passar), destinado a responder a todas as críticas.
As transcrições dessas audições permanecem confidenciais. Mas, memorandos transmitidos pelos escritórios de advogados implicados nas perseguições permitem saber um pouco mais. Segundo eles, a Monsanto recorre a empresas terceirizadas, que "empregam indivíduos, aparentemente sem conexões com a indústria, para fazer comentários positivos à margem dos artigos publicados, e posts no Facebook, a fim de defender a Monsanto, seus produtos químicos e os OGM".
No decorrer dos últimos meses, a coalizão contra o CIRC ampliou-se. No final de janeiro de 2017, alguns dias apenas depois da entronização de Donald Trump na Casa Branca, o American Chemistry Council somou-se a suas fileiras.
O lobby americano da química abriu uma frente sobre as redes sociais na forma de uma campanha pela exatidão na pesquisa em saúde pública. Objetivo anunciado: obter uma "reformulação" do programa das monografias do CIRC. Em um site e pelo Twitter, a poderosa organização de lobby aperta o cerco: "Um pedaço de bacon ou um pedaço de plutônio? É a mesma coisa, segundo o CIRC" O texto é acompanhado de uma fotomontagem mostrando duas barras verdes fluorescentes que mergulham em ovos fritos. O CIRC de fato classificou, em outubro de 2015, os embutidos "cancerígenos" com certeza e a carne vermelha como "provavelmente cancerígena", como o glifosato.
Talvez seu acesso direto ao círculo mais próximo ao presidente Trump dê a esses industriais da química e da agroquímica um sentimento de grande poder? A mais alta responsável pelo lobby do American Chemistry Council, Nancy Beck, não acaba de assumir suas funções como diretora adjunta do serviço encarregado da regulamentação dos produtos químicos e dos pesticidas na Agência americana de proteção ao meio ambiente, o serviço que, precisamente, completa o reexame do dossiê glifosato? E Donald Trump em pessoa não confiou a Andrew Liveris, dono da Dow Chemical, empresa membro do American Chemistry Council, a direção de sua Manufacturing Jobs Initiative (Iniciativa para o emprego industrial)?
A máquina parece acelerar-se com a chegada da era Trump. No final de março, o republicano texano Lamar Smith, presidente da comissão da Câmara dos representantes sobre a ciência, o espaço e a tecnologia, interpela o novo ministro da saúde, Tom Price. Ele concentra suas questões nos laços financeiros entre o National Institute of Environmental Health Sciences (NIEHS) e o Instituto Ramazzini a fim, escreve ele, de "assegurar-se que os beneficiários das subvenções aderem aos mais altos parâmetros de integridade científica".
Publicada pouco depois na National Review, a tribuna ataca pessoalmente Linda Birnbaum, a diretora do NIEHS, acusada de promover um programa "quimiofóbico", e Christopher Portier, seu antigo diretor adjunto, que acompanhou os trabalhos do CIRC como especialista convidado,aqui qualificado como "militante anti-glifosato bem conhecido", e ambos membros do Ramazzini.
Eis, segundo eles, "um exemplo mais sobre a maneira como a ciência foi politizada". A informação é igualmente, e entre outras, retomada pelo Breitbart News, o site de extrema direita fundado por Steve Bannon, o conselheiro estratégico do presidente Trump.
Qualificar o instituto ou o collegium Ramazzini (os dois são confundidos) "de obscura organização" aqui, ou de "espécie de Rotary Club para cientistas militantes" em outros locais, é na melhor das hipóteses, ignorância e, na pior, mentira. Fundado em 1982 por Irving Selikoff e Cesare Maltoni, duas grandes figuras da saúde pública, o Collegium Ramazzini é uma academia de 180 cientistas especializados em saúde profissional e relacionada ao meio ambiente.
Linda Birnbaum e Christopher Portier são fellows (membros). É também o caso do diretor do programa das monografias do CIRC, Kurt Straif, e de quatro especialistas do grupo de trabalho da monografia 112. Cada um em sua especialidade, cientistas de alto nível.
O lançamento, pelo Instituto Ramazzini, em maio de 2016, de um estudo de toxicologia a longo prazo sobre o glifosato concentrou os tiros sobre o órgão, reputado por sua competência em matéria de câncer. A diretora de pesquisa do instituto, Fiorella Belpoggi, foi uma das raras cientistas que aceitou falar com o Monde: "Nós não somos muitos, temos pouco dinheiro, mas somos bons cientistas e não temos medo".
Os ataques contra o Ramazzini e o CIRC certamente não vão parar tão cedo. Pois, depois do glifosato, outros produtos químicos estratégicos figuram na lista das prioridades do CIRC para o período 2014-2019. Pesticidas, ainda, mas também o bisfenol A (BPA) e o aspartame. Ora, é justamente o NIEHS um dos principais financiadores no mundo da pesquisa sobre a toxicidade do BPA. Quanto ao aspartame, o estudo que alertou sobre as propriedades cancerígenas do edulcorante foi realizada há vários anos… pelo Instituto Ramazzini.
"Eu não tinha consciência, antes de tudo isso, murmura Fiorella Belpoggi, mas, se se livrarem do CIRC, do NIEHS e do Instituto Ramazzini, livrar-se-ão de três símbolos da independência da ciência". De uma ciência que se tornou uma ameaça para interesses econômicos calculados em centenas de bilhões de euros.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Le Monde denuncia práticas irregulares da Monsanto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU