02 Junho 2017
"A primeira coisa que se percebia era um sentimento de profunda fraternidade entre colegas. A nossa Igreja superava tensões, polarizações e tendia a ganhar, graças ao Espírito Santo, uma maior comunhão, uma unidade mais serena". O professor Guzman Carriquiry, Vice-Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, estava ao lado do então Cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, quando em Aparecida (Brasil), dez anos atrás foi realizada a V Conferência Geral do episcopado latino-americano. O futuro Papa era o presidente da Comissão de redação do "Documento Final" desse evento eclesial - do qual comemoramos o décimo aniversário nesses dias - que foi crucial tanto para a Igreja na América Latina como para a restante, cujos reflexos estão vivos no atual pontificado.
A reportagem é publicada por La Stampa-Vatican Insider, 30-05- 2017.
“Fala-se que, basicamente, a Evangelii gaudium é quase a evolução universal do documento de Aparecida ligado à Igreja latino-americana", afirma Carriquiry em entrevista à Rádio Vaticano. "Certamente há vasos comunicantes muito fortes entre Aparecida e a Evangelii gaudium. O Papa às vezes – de forma um pouco séria, um pouco jocosa - conta que a Evangelii gaudium é uma mistura entre o Documento de Aparecida e a Evangelii nuntiandi do Beato Paulo VI. Não: eu acredito que é muito mais que isso! É o documento de um pastor que se tornou pastor universal e, portanto, ele retoma muitos critérios fundamentais de Aparecida e os propõe para a Igreja universal, mas, ao mesmo tempo, retoma o Magistério dos Pontífices anteriores”, ressalta o vice-presidente da Comissão para a América Latina.
Na entrevista para a emissora, relembra aqueles dias de trabalho "sinodal": "Os resultados – relata - no início pareciam muito caóticos: lembro que eu fiquei muito ansioso por isso. O Cardeal Bergoglio repetia continuamente que deveríamos continuar a recolher tudo o que estavam produzindo os bispos e aceitar os tempos através dos quais nos conduzia o Espírito Santo. E, de fato, no final, os bispos escreveram no documento: "O Espírito Santo nos conduziu lenta, mas firmemente, até o fim".
"Aparecida foi aquele tempo de graça através do qual a Providência de Deus levou Jorge Mario Bergoglio à Sé de Pedro", explica Guzman Carriquiry, bem como o evento do qual nasceu uma extraordinária sintonia entre Bento XVI e o arcebispo de Buenos Aires. "O Papa Bento fez a abertura e deu a orientação inicial de Aparecida, Bergoglio retomou tudo junto com os bispos, e conduziu os trabalhos até sua conclusão, dando-lhe a consistência, o perfil próprio de autoconsciência eclesial latino-americana".
Também a partir de Aparecida nasceu o "discipulado missionário", mostrando e propondo "um povo que é discípulo e missionário de Cristo e que enfrenta toda a realidade da América Latina sob esse olhar cristão e pastoral."
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Dez anos depois de Aparecida, Carriquiry: ali nasceu o pontificado de Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU