20 Fevereiro 2017
Em uma mensagem enviada a um encontro de movimentos populares em Modesto, na Califórnia, ontem o papa voltou a denunciar o sistema econômico atual com definições fortes, "uma gangrena que não pode ser maquiada para sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, o cheiro será sentido".
A reportagem é de Elisabetta Piqué, publicada por La Nación, 18-020- 2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Perante trabalhadores informais, catadores, recicladores, indígenas, operários e líderes sociais de todo o mundo - que já foram convidados três vezes ao Vaticano, encorajados a seguirem lutando por justiça social e pelos três Tês (terra, teto e trabalho) -, Francisco denunciou a "fraude moral" daqueles que ignoram os que estão em sofrimento.
"As feridas causadas pelo sistema econômico, que tem em seu centro o deus do dinheiro, e que às vezes atua com a brutalidade de ladrões em uma parábola, foram ignoradas criminosamente. Na sociedade globalizada existe um estilo elegante de desviar o olhar, praticado recorrentemente: sob a roupagem do que é politicamente correto ou das modas ideológicas, olha-se para aquele que está em sofrimento sem tocá-lo, mas transmitindo-o ao vivo, e também adotando um discurso aparentemente tolerante e repleto de eufemismos, mas nada é feito sistematicamente para curar as feridas sociais ou enfrentar as estruturas que deixam tantos irmãos jogados pelo caminho", acusou, em um discurso evidentemente escrito a próprio punho.
"Esta atitude hipócrita, tão distinta a do Samaritano, manifesta a ausência de uma verdadeira conversão e um verdadeiro compromisso com a humanidade. Trata-se de uma fraude moral que, mais cedo ou mais tarde, ficará exposta, como uma miragem que se dissipa. Os feridos estão lá, eles são uma realidade. O desemprego é real, a violência é real, a corrupção é real, a crise de identidade é real, o esvaziamento das democracias é real", disse ele. E foi mais longe: "Quando este sistema debilitado já não pode mais ser negado pelo mesmo poder que gerou este estado das coisas, nasce a manipulação do medo, da insegurança, da raiva, e inclusive, da indignação justa do povo, transferindo a responsabilidade de todos os males para algo que 'não está próximo'".
Em sua primeira visita a uma universidade em Roma para a matéria de Riccardi publicada hoje, o papa abordou conceitos parecidos ao falar sobre a existência de uma "economia líquida". Ao responder as perguntas de quatro alunos, deixou de lado o discurso que havia preparado e falou com o coração. Ao recordar do sociólogo Zygmunt Bauman e o conceito de sociedade líquida, Francisco destacou que "a economia líquida, não se concretiza, criando uma falta de trabalho e desocupação". É algo que induz os jovens aos vícios, ao suicídio ou ao envolvimento com grupos terroristas, para que assim haja um "sentido em sua vida", disse ele.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco volta a fazer fortes críticas ao sistema econômico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU