Por: MpvM | 05 Janeiro 2024
A reflexão é de Ana Maria Formoso, Missionária de Cristo Ressuscitado – MCR. Ela possui graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, mestrado em Teologia pela PUCRS e doutorado em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. É professora na Faculdade de Teologia da Pontificia Universidad de Valparaíso/Chile.
Leituras do Dia
1ª Leitura - Is 60, 1-6
Salmo - Sl 71, 1-2.7-8.10-11.12-13 (R. Cf.11)
2ª Leitura - Ef 3,2-3a.5-6
Evangelho - Mt 2,1-12
O comentário foi originalmente publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, 02-01-2021.
Estamos celebrando a festa da Epifania, manifestação de Deus para todas as nações.
Vamos olhar primeiramente para o profeta Isaías que nos relata uma situação em que habita o sentimento de solidão, de sentir-se perdido, e Deus se manifesta trazendo em sua mão uma brasa que havia retirado do altar do templo. O Deus que escuta o clamor da solidão, sai do templo para ir ao encontro das pessoas. Esta é a mensagem central da primeira leitura que nos abre a reconhecer a atitude dos magos no Evangelho de hoje.
O texto nos diz que Jesus nasceu em um tempo difícil, onde reinava Herodes, uma situação muito complexa. Jesus nasceu durante o reinado do imperador romano Augusto, antes da morte de Herodes, na primavera do ano 4 A.C. Para Pagola “Não é possível precisar melhor a data do seu nascimento” (Pagola, 2014, p. 577).
Também não podemos esquecer a intencionalidade do Evangelho de Mateus que apresenta uma didática clara de narrativas e de ações que formam parte de uma aprendizagem para as comunidades cristãs. Neste texto vamos descobrir a manifestação de um caminho que temos que fazer com risco e com discernimento.
O caminho se inicia com os magos no Oriente, ou seja, Oriente significa onde nasce o sol, a luz. A desorientação é a perda do sentido, é viver na escuridão, nas trevas. Os magos são pessoas que estão na periferia no sentido de que não estavam no templo, não eram conhecedores da Lei, mas sim investigavam o que acontecia no céu para compreender sua relação com a manifestação na Terra.
Vamos olhar a experiência dos Magos que nos descoloca, pois sua trajetória não está vinculada ao espaço da autoridade religiosa da época nem ao judiciário; eles caminham, se colocam a caminho buscando a Estrela guia do Rei dos Judeus.
Herodes, também, quando ficou sabendo que os Magos estavam buscando o lugar onde havia nascido o Messias, buscou encontrá-lo, consultou os chefes dos sacerdotes, os encarregados da Lei.
Vejamos, eles sabiam que ia nascer o Messias, mas não se colocaram a caminho, ficaram com o que conheciam da tradição sem mover-se, sem arriscar um novo caminho. Herodes fez o mesmo que os chefes religiosos da época que, com uma linguagem religiosa, envolviam a sociedade fazendo acreditar que eles também tinham a mesma intenção que os Magos. A linguagem religiosa que se diz cristã e que está revestida de poder, de autorreferência, é totalmente oposta a um caminho de luz, da esperança e da manifestação cristã.
Todos têm uma responsabilidade pelo ferido, que é o nosso povo e todos os povos da terra. Cuidemos da fragilidade de cada homem, cada mulher, cada criança e cada idoso, com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude de proximidade do bom samaritano (Fratelli Tutti, 89).
Neste ponto gostaria de chamar a atenção de que não basta uma linguagem religiosa, é necessário ter opções de vida concretas para que a sociedade possa ir encontrando estrelas guias.
Vejamos quantas estrelas guias são do Oriente, pois elas deixaram suas casas, seu tempo, para dedicar-se ao cuidado da vida de pessoas doentes, quantas mães e pais estão dando tudo pelo cuidado de sua família e de outros na sociedade. Mulheres, mães, pais, irmãs, sacerdotes, religiosas que estão trabalhando horas e horas nos bairros, nas escolas, nas ruas, nas associações, buscando que a vida possa ser cuidada. Temos muitos Magos do Oriente, nesta bela festa, que estão entregando ouro, incenso e mirra.
Descobrir a mensagem desta festa nos ajuda a descobrir o caminho de aproximar-nos a Jesus e a Maria para entregar o melhor de cada um de nós.
Nesta entrega de nossa vida a Jesus, se manifesta a Luz que deve ser cuidada e discernida por caminhos novos, diferentes dos Herodes da vida.
Somos convidadas/os a sair do Oriente, das diferentes periferias e entrar na casa de Maria, nossa mãe, que junto com os Magos nos manifestam a presença de Deus.
A experiência dos Magos nos convoca a buscar o sentido das coisas, a perscrutar com paixão o grande mistério da vida. Eles nos ensinam a não nos escandalizar frente à pequenez e à pobreza, mas a reconhecer a majestade na humildade e sabermos nos ajoelhar diante dela.
Jesus pela presença dos Magos nos fala "Vai e faz tu também o mesmo" (Lc 10, 37). Em outras palavras, desafia-nos a deixar de lado toda a diferença e, em presença do sofrimento, fazer-nos vizinhos a quem quer que seja. Assim, já não digo que tenho «próximos» a quem devo ajudar, mas que me sinto chamado a tornar-me eu um próximo dos outros (Fratelli Tutti, 81).
Os Magos vindos do Oriente, da periferia, se ajoelharam e protegeram a vida do pequeno Menino Deus, eis aqui um desafio crítico e belo.
Boa festa para nós, com esperança e discernimento.
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Epifania do Senhor do Natal – Ano B – Da periferia do Oriente chega a Luz para todas as nações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU