27 Abril 2018
Jesus é o tronco. É necessário “permanecer em Jesus” para produzir fruto. Em Jo 15,1-8 o evangelista usa 7 vezes o verbo permanecer (ménein: permanecer, demorar-se, habitar, continuar) para exprimir a união entre o tronco e os ramos, ou seja, entre Jesus e os discípulos. Essa permanência n’Ele é o que define a eficácia da missão. Em muitas comunidades cristãs do Brasil, as que se reúnem para celebrar, semanalmente, a Palavra e a Eucaristia, as mulheres são, em geral, a maioria. Elas são discípulas e missionárias que permanecem com Jesus, fiéis ao seu apelo: “Não temais! Ide anunciar aos meus irmãos” (Mt 28,10). Somos chamados a permanecer em Jesus nas situações adversas, quando há perseguição, injustiças, nas infidelidades que atingem famílias e comunidades. Permanecer em Jesus quando faz uma opção de vida, seja ela o matrimônio, a Vida sacerdotal, a Consagração Religiosa, ou quando assume um Ministério Leigo, mesmo na aridez espiritual, quando os projetos não dão certo e é preciso recomeçar. Quem permanece em Jesus tem a coragem e a força de se reerguer a cada queda e vislumbrar novos horizontes para sua existência. Ele mesmo diz: sem mim nada podeis fazer (v.5).
A reflexão é de Élida Debastiani, religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria - ICM. Ela possui graduação em teologia pela Escola Superior de Teologia - ESTEF (1995), licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul - PUCRS (1999) e Mestrado em Ciências Bíblicas pelo Instituto Bíblico de Roma (2004) e pós graduação em Juventudes pela Faculdade Dom Bosco, Porto Alegre (2017). Atualmente é Conselheira Geral da Formação na Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Referências bíblicas
1ª leitura – At 9,26-31
Salmo 21 (22)
2ª Leitura – 1 Jo 3,18-24
Evangelho – Jo 15,1-8
Neste 5º domingo do tempo pascal (11/02/2018) a liturgia nos apresenta uma bonita proposta de vida. A primeira leitura (At 9, 26-31) está na sequência da narrativa da Vocação de Saulo no início desse capítulo. O texto de hoje narra a chegada de Paulo a Jerusalém após ter fugido de Damasco. Paulo, mesmo após a sua conversão, não está livre de sua identidade de perseguidor dos cristãos. Sua fama era conhecida: “Quanto a Saulo, devastava a Igreja: entrando pelas casas, arrancava homens e mulheres e metia-os na prisão” (At 5,3). Os seguidores e seguidoras de Jesus da comunidade de Jerusalém têm medo de Paulo, não acreditavam que ele tinha se tornado um discípulo de Jesus. Os cristãos ainda o tinham como um perseguidor. É neste contexto que Barnabé surge como mediador: ele toma Paulo consigo e apresenta-o aos Apóstolos, conta o que lhe aconteceu no caminho de Damasco. Deste momento em diante, Paulo anuncia o Evangelho de Jesus. Põe-se a discutir com os helenistas e logo emerge um plano para tirar-lhe a vida. Os irmãos da comunidade o conduzem até Cesareia e, de lá, enviam-no para Tarso.
A mediação se faz necessária na vida das comunidades cristãs. Há os que conhecem Jesus há bastante tempo, mas há também os novos fiéis que vão entrando no caminho do seguimento de Jesus. De todos se espera uma adesão renovada à comunidade e uma espiritualidade de comunhão que leve a proteger a vida de todos os que estão em situação de vulnerabilidade como foi no caso de Paulo. Para salvar sua vida, a comunidade agiu rapidamente. Assim são os discípulos que permanecem em Jesus, suas ações são frutos que geram vida.
Ao refletir a segunda leitura (1Jo 3, 18-24) lembramos que os capítulos 3 e 4 da Primeira Carta de João oferecem à comunidade três condições para viver como filhos de Deus. A primeira condição (1Jo 3,3-10) é romper com o pecado. A segunda (3, 11-24) é observar os mandamentos, especialmente o da caridade. A terceira condição (1Jo 4, 1-6) é preservar-se dos anticristos e do mundo. A Carta orienta os cristãos na prática do amor como expressão da adesão a Cristo. O texto da Leitura deste domingo nos interpela ao dizer: “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade”. O critério para saber se o amor é autêntico ou não é sempre a prática de Jesus. Amor autêntico é aquele que dá a vida. Por isso, a falta de solidariedade com os necessitados é sinal de ausência de amor e de Deus. “Aquele que guarda seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele” (v.24 a). O amor toca também as relações econômicas entre as pessoas. Inútil querer amar apenas com palavras e com a língua, porque o amor verdadeiro se traduz em obras concretas. Quem permanece em Jesus será capaz de amar com ações e em verdade, isto é, produz frutos como um ramo ligado ao tronco da videira verdadeira.
O Evangelho de hoje é a passagem sobre a “videira e os ramos” (Jo 15, 1-8). O texto começa com Jesus dizendo: “Eu sou a verdadeira videira”. Esta é a última autoproclamação simbólica de Jesus.
A "videira e os ramos" é uma alegoria bem elaborada e explicada pelo próprio Jesus: Ele é o tronco, os ramos são os discípulos, o Pai é agricultor que espera os frutos da vinha. O termo “verdadeira videira” sugere contraposição a outra que não é verdadeira. Por si mesma, a imagem evoca vida, seiva, fruto. A videira foi tomada pelos profetas como imagem do povo de Israel, o qual não produziu fruto de amor e justiça, antes, produziu uvas azedas. Jesus apresenta a si mesmo e aos fiéis unidos a ele como a verdadeira videira, aquela que produz fruto em todos os ramos que estão unidos a ele. E este fruto é o amor fraterno (Jo 15,1-120). A verdadeira videira é a comunidade unida a Cristo e fecunda, nele, no amor e na comunhão fraterna.
O Pai-agricultor não é apenas o dono da vinha, como no AT. Ele mesmo trabalha (cf. Jo 5,17), cuida da vinha, para que produza os frutos que ele espera. Ele poda a vinha: corta fora os ramos secos e limpa os sadios para que produzam mais. A limpeza é feita pela palavra que Jesus pronuncia (cf.13,10).
Jesus é o tronco. É necessário “permanecer em Jesus” para produzir fruto. Em Jo 15,1-8 o evangelista usa 7 vezes o verbo permanecer (ménein: permanecer, demorar-se, habitar, continuar) para exprimir a união entre o tronco e os ramos, ou seja, entre Jesus e os discípulos. Essa permanência n’Ele é o que define a eficácia da missão. Em muitas comunidades cristãs do Brasil, as que se reúnem para celebrar, semanalmente, a Palavra e a Eucaristia, as mulheres são, em geral, a maioria. Elas são discípulas e missionárias que permanecem com Jesus, fiéis ao seu apelo: “Não temais! Ide anunciar aos meus irmãos” (Mt 28,10). Somos chamados a permanecer em Jesus nas situações adversas, quando há perseguição, injustiças, nas infidelidades que atingem famílias e comunidades. Permanecer em Jesus quando faz uma opção de vida, seja ela o matrimônio, a Vida sacerdotal, a Consagração Religiosa, ou quando assume um Ministério Leigo, mesmo na aridez espiritual, quando os projetos não dão certo e é preciso recomeçar. Quem permanece em Jesus tem a coragem e a força de se reerguer a cada queda e vislumbrar novos horizontes para sua existência. Ele mesmo diz: sem mim nada podeis fazer (v.5).
A missão é vitalizada pela seiva do amor de Deus, pelos dons do Espírito que, a exemplo do tronco e dos ramos, é a condição para produzir frutos. Sem a seiva o ramo seca. Sem permanecer em Jesus, o discipulado não produz frutos. A Videira Verdadeira é Jesus, é Ele quem garante a fidelidade ao Pai-agricultor, cuidador e dispensador de todos os dons. Os ramos não são autossuficientes, eles dependem totalmente da videira, na qual se encontra a fonte de sua vida. Discípulos que não se mantêm unidos ao tronco que é Jesus podem realizar missão, mas será estéril, também prejudicial à comunidade.
O Evangelho de Jesus é o instrumento pastoral mais importante para renovar hoje a Igreja. É importante que os cristãos tenham acesso direto ao texto Sagrado, que as crianças desde a primeira Catequese se familiarizem com o texto, que os pais e responsáveis por educar, na fé, as novas gerações, conheçam o Evangelho. Ser cristão exige experiência vital de Jesus Cristo, um conhecimento interior de sua pessoa e uma paixão por seu projeto. Na Conferência de Aparecida, os bispos recordam que na parábola da Videira e dos ramos (cf. Jo 15,1-8), Jesus revela o tipo de vínculo que Ele oferece e que espera dos seus (DAp 132).
Que em nossas vidas sejamos mediadores como Barnabé (salvar vidas e possibilitar a entrada de novos membros na comunidade), catequistas como João, que orientam para a necessidade de viver o amor autêntico e produzir ações concretas, verdadeiras e não apenas de palavras e discípulos e discípulas que permanecem ligados ao tronco que é Jesus e produzem frutos como o amor fraterno e solidário, a prática da justiça e compaixão com as causas dos pobres, de compromisso com a vida e a superação da indiferença, o anúncio do Evangelho, a vivência da Palavra de Jesus e o fortalecimento do discipulado.
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5º domingo do tempo pascal - Ano B - Permanecer em Jesus para produzir frutos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU