01 Mai 2015
A questão, neste domingo, é que cada um venha a dar fruto; o que caracteriza o discípulo é o fruto, como glória do Pai... O fruto é o que, enfim, permite que se permaneça ou não em relação, em comunhão. «Todo o ramo que em mim não dá fruto, o meu Pai o corta».
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 5º Domingo do Tempo Comum (03 de maio de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: «Barnabé contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor, no caminho de Damasco» (Atos 9,26-31)
Salmo: 21(22) R/ Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembleia.
2ª leitura: «Este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros» (1 João 3,18-24)
Evangelho: «Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto» (João 15,1-8)
A verdadeira videira
Com o pastor e as ovelhas, estamos no universo animal; com a videira, estamos no reino vegetal. Nos dois casos, trata-se de fazer-nos passar da realidade deste mundo, de que temos experiência, à realidade invisível, da qual a anterior é apenas uma figura imperfeita. O pastor verdadeiro e a verdadeira videira só nos são acessíveis pela fé, mas, sob os nossos olhos, temos um esboço deles que, por imperfeito que seja, não deixa de revelá-los. Deste modo, antes de fazer-se revelar à perfeição no Cristo, que é «o ícone do Deus invisível» (Colossenses 1,15), Deus se manifesta nas imagens aproximativas, imperfeitas, mas sempre a caminho de sua perfeição, o que irão atingir quando plenamente criadas na pessoa do Filho: o mundo geme e sofre ainda as dores do parto (Romanos 8,22). Isto não impede que as realidades deste mundo nos falem de Deus, pois: «Sua realidade invisível tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas…» (Romanos 1,20). As parábolas são construídas sobre esta analogia, entre o que no mundo é apenas alusivo e o que em Deus é perfeito. Jesus é assim a «verdadeira videira», mas as nossas videiras terrestres podem nos dar uma ideia da nossa unidade com ele e nele, mesmo que seja uma ideia imperfeita. O vinhateiro é necessariamente exterior à sua vinha, enquanto que o Pai, por seu Verbo, é interior à sua criação, está engajado nela. Sem, no entanto, confundir-se com ela e é por isso que a analogia da vinha mantém-se pertinente.
A videira e os ramos
O evangelho de João insiste muito no fato de sermos habitação, de sermos morada de Deus; mas esta presença interior do Pai se dá através do Filho e do b. Podemos nos fazer representar o Espírito como sendo a seiva que irriga os ramos a partir do pé da videira. Esta "seiva" transporta nela tudo o que há em Deus e que somos incapazes de avaliar; o que, aliás, sendo de ordem infinita, não cabe em nenhum regime numérico. De qualquer modo, o Espírito faz-se um só corpo conosco, e faz de todos nós um só corpo: o pé da videira é um só e os seus ramos, uma multidão. Por outro lado, ficamos sabendo que, conforme os ramos, os frutos são diferentes (1 Coríntios 12,4…). Temos aí em questão uma alternativa: dar fruto ou ser estéril. E encontramo-nos mais uma vez ante o problema da «retribuição», com a perspectiva das perdas, da destruição dos ramos que não dão fruto ou, se quisermos, dos pecadores impenitentes. Da minha parte, penso que Jesus nos fala novamente do que deveria acontecer se as coisas se passassem conforme a justiça: o futuro de todos nós seria então a morte sem o amanhã, sem o «terceiro dia». Mas, na aventura do rico notável (Lucas 18,27) ou do jovem rico, em Mateus 19, ficamos sabendo que, se ao homem é impossível por si mesmo entrar no reino da Ressurreição, «para Deus, tudo é possível». O fruto que todos vamos acabar produzindo e em virtude do qual seremos salvos da morte, é o fruto da árvore da Cruz.
Por que "dar fruto"?
E eis que uma grave questão, mas inevitável, se põe para nós: se o Cristo assume afinal as nossas falhas e a nossa esterilidade, se «onde avultou o pecado a graça superabundou», por que então nos fatigarmos em "fazer o bem", em "dar fruto"? De fato, os nossos comportamentos nocivos acabam enfim por acionar em Deus um acréscimo de amor. A questão já se colocava para Paulo (cf. Romanos 6,1…) e inúmeras são as páginas das suas cartas que tratam do tema da justa cólera de Deus e da «injusta» justificação do culpado. Por que haveremos, pois, de proceder bem, se o próprio Cristo tomou sobre si o nosso mal? A resposta justa a esta questão supõe fé: a fé que faz nascer em nós o amor, em resposta ao amor que nos fez renascer. E renascer de outro modo: por este renascimento já nos temos passado ao universo da Ressurreição. O nosso batismo, como explica Paulo, e a fé que lhe está ligada, fez-nos esposar a trajetória pascal. Assim como o Cristo na Cruz, já estamos «mortos para o pecado» e somos portadores de uma vida nova. Daí em diante, é o conjunto dos ramos, todos juntos e solidários, na unidade da Igreja, que vem trazer ao mundo os frutos da vinha de Deus, os frutos da árvore da Cruz. Sim, mas nem sempre estamos à altura disto! Por este motivo é que os ramos que somos têm necessidade de serem podados, para produzirem frutos adequados. É toda uma história para se viver.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os frutos da vinha de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU