25 Novembro 2013
Um grupo internacional de destacados teólogos católicos considerou o ensino da Igreja a respeito do casamento e da sexualidade como “incompreensível”, e agora seus integrantes pedem aos bispos de todo o mundo para levar a sério a experiência dos leigos ao se prepararem para o encontro global dos prelados, que acontecerá no próximo ano no Vaticano.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 21-11-2013. A tradução é de Isaque Correa.
O ensino da Igreja sobre questões tais como contracepção e casamento de mesmo sexo – escrevem os teólogos – baseia-se em “noções abstratas de lei natural e ultrapassadas ou, para dizer o mínimo, cientificamente mal-informadas” e “são, em grande parte, incompreensíveis à maioria dos fiéis”.
Dirigindo-se aos líderes do encontro que ocorrerá no próximo ano, conhecido como Sínodo dos Bispos, afirmam que momentos anteriores como este envolveram “somente membros do laicato escolhidos cuidadosamente”.
Escrevem que “estes encontros não apresentaram uma voz crítica e ignoraram provas evidentes de que o ensino da Igreja sobre casamento e sexualidade não estava servindo às necessidades dos fiéis.”
“Exortamos, pois, os fiéis católicos e quaisquer outras partes interessadas a partilhar suas experiências e conhecimentos com os líderes da Igreja e os fazerem saber de seus pensamentos e preocupações”, escrevem os intelectuais em um comunicado publicado pelo Centro Europeu Católico de Pesquisa John Wijngaards.
Mais de 50 acadêmicos e intelectuais, em uma dúzia de países ao redor do mundo, assinaram o manifesto até agora, incluindo um bispo emérito e vários membros de congregações religiosas.
Convocado pelo papa Francisco no mês passado, o encontro global (que acontecerá de 5 a 19 de outubro de 2014) deve se centrar no tema “Desafios Pastorais da Família no Contexto da Evangelização”.
O arcebispo Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos no Vaticano, enviou uma carta no dia 18 de outubro dirigindo-se às conferências dos bispos ao redor do mundo para se prepararem para o encontro do próximo ano distribuindo, nas paróquias e nos decanatos, um questionário sobre a visão católica a respeito dos ensinamentos da Igreja.
Paul Murray, um professor de teologia na Universidade de Durham, no Reino Unido – que também é presidente da Associação Católica Teológica da Grã-Bretanha –, disse, em entrevista por telefone na terça-feira, que o manifesto dos teólogos foi distribuído aos membros de sua associação.
John Wijngaard, ex-sacerdote que escreve sobre espiritualidade e que dá nome ao centro de pesquisa católico citado, é um membro – diz Murray – da associação teológica, informando que foi ele quem pediu que o manifesto fosse distribuído para os demais membros.
“Nós felizmente prestamos este serviço”, disse Murray. “Estas mensagens vêm de um membro para a associação, e não da equipe executiva da associação para seus membros.”
Além de pedir por uma maior consulta aos leigos, os teólogos dizem também que o ensino da Igreja sobre casamento de mesmo sexo tem levado à discriminação contra gays e lésbicas. Igualmente afirmam que o ensino da Igreja, proibindo o uso de contraceptivos artificiais, deva ser reformulado.
Quanto a gays e lésbicas, os teólogos afirmam que a Igreja “tem feito muito pouco para promover a aceitação de indivíduos com orientações sexuais alternativas como membros dignos, da Igreja e da sociedade”
“A tarefa de educar os fiéis para o respeito a todas as pessoas humanas que não estejam em conformidade com as próprias expectativas pessoais, em particular quando estas pessoas estão vivendo vidas honradas, ainda está para começar na maioria das paróquias católicas”, afirmam.
Em relação ao ensino da Igreja relativo métodos contraceptivos, os teólogos dizem: “Os líderes da Igreja precisam perceber que chegou a hora de reformar este ensinamento.”
“Deveria ser deixada para a consciência de cada casal a possibilidade de eles encontrarem uma maneira responsável de regular a fertilidade, uma regulação que seja apropriada para a situação particular de cada um deles”, escrevem.
“Enquanto que algumas formas de se evitar a concepção podem ser consideradas abaixo do que seria o ideal, elas não deveriam ser tachadas como ‘intrinsecamente’ más”, continuam. “Tal terminologia confunde mais do que esclarece. O uso de contracepção responsável não deveria ser considerado matéria para o sacramento da reconciliação.”
Murray diz que a decisão de seu grupo em fazer circular o manifesto não signfica que estejam aprovando suas propostas.
“Este texto não tem valor de recomendação por parte do comitê ou do executivo da associação”, afirma. “Se um membro tivesse nos pedido para divulgar uma posição que advocasse uma linha tradicional quanto ao ensino [da Igreja], esta teria também sido posta em circulação como mensagem de um membro para os demais da associação.”
Entre os nomes mais destacados que assinam o manifesto, o qual foi esboçado pelo professor emérito da Universidade Católica de Lovaina, Joseph Selling, estão:
• O bispo auxiliar emérito Geoffrey Robinson, de Sydney (Austrália), professor de Lei Canônica no Instituto Católico de Sydney, ex-presidente da Sociedade de Lei Canônica da Austrália e da Nova Zelância.
• A Irmã Sandra Schneiders, do Imaculado Coração de Maria, professora emérita de teologia, na Escola Jesuíta de Teologia, em Berkeley, Califórnia, conhecida por seus escritos sobre as mulheres relisiosas.
• David McLoughlin, professor na Universidade de Newman, em Birmingham, no Reino Unido e ex-presidente da Associação Teológica Católica da Grã-Bretanha.
• Ursula King, professora emérita de teologia na Universidade de Bristol/Instituto de Estudos Avançados no Reino Unido, conhecida por sua obra sobre questões de gênero em contextos religiosos.
Wijngaard, originalmente da Indonésia e que hoje vive na Holanda, desligou-se de seu ministério sacerdotal em 1990 em protesto ao ensino da Igreja que proíbe a ordenação de mulheres.
Seu website está convidando outros intelectuais a assinaram o manifesto. Também está providenciando um fórum onde se poderão escrever respostas ao questionário do Vaticano, em preparação ao Sínodo de 2014.
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Teólogos consideram o ensino sexual da Igreja como “incompreensível” e pedem por contribuição de leigos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU