Por: Jonas | 29 Mai 2013
“Primavera árabe” é um nome errôneo, não foi uma primavera, mas, sim, um derramamento oceânico de sangue. Houve muitos mortos, mas os cristãos são aqueles que mais perderam...”. Elías Chacour (foto), arcebispo de Akka, São João de Acre e Ptolemaida dos greco-melquitas, é o líder da maior comunidade de árabes católicos em Israel (que tem aproximadamente 80.000 fiéis, 32 paróquias e 28 sacerdotes). Recebeu um grupo de jornalistas italianos, na sua residência, em Haifa, cidade modelo do estado de Israel, na convivência religiosa. Falou com eles de suas preocupações em relação ao destino dos cristãos, que se veem obrigados a abandonar a Síria, dos passos no diálogo com os ortodoxos e do novo papa Francisco.
Fonte: http://goo.gl/q85Yi |
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 28-05-2013. A tradução é do Cepat.
“Não entendo o porquê de “primavera” árabe, que não foi nenhuma primavera (porque eu não vi crescer nenhum fruto), provocou tantas mortes. O bispo caldeu, nos Estados Unidos, Ibrahim N. Ibrahim, disse-me que os 4 mil cristãos caldeus, em Detroit, subiram para 130 mil, porque muitos escaparam dos países em que viviam. E eu me pergunto: por que o Ocidente não intervém frente ao que está acontecendo na Síria? 160 vilas de cristãos ficaram completamente vazias. Muitos estão fugindo para o Líbano e não sabemos nem sequer quantos são. Vi o nosso bispo de Damasco chorar como uma criança: cada cristão na Síria precisa de nossa ajuda, um pedaço de pão, um copo de água...”.
Segundo o arcebispo Chacour, o que ocorreu nos últimos anos na Tunísia, Egito, Líbia e Síria, representa “uma mudança na história islâmica; antes, de fato, existiam as lutas de poder na cúpula, que não envolviam o povo. Não estávamos contentes – disse – com os regimes totalitaristas, mas, hoje, também não estamos, principalmente, pelo risco de que a sharia acabe se impondo, a lei islâmica, que seria execrável. Não sabemos o que irá acontecer em longo prazo”.
Falando sobre a situação interna, o líder da Igreja greco-melquita explica: “Somos cidadãos israelenses; não resolvemos todos nossos problemas, mas seguimos adiante: devemos resistir qualquer assimilação e trabalhar pelo integração. Ao contrário de outras comunidades cristãs, nós não temos protetores estrangeiros”. Um grande resultado, segundo Chacour, do ponto de vista do testemunho da unidade dos cristãos em Israel, é o acordo sobre a data para celebrar a Semana Santa. “Começamos há quatro anos, unilateralmente, sem pedir nada a nossos irmãos ortodoxos. Adequamo-nos ao calendário litúrgico juliano. Isto reduziu as diferenças. Juntaram-se os católicos do Patriarcado Latino, os anglicanos... Durante três dias, na Semana Santa, o tráfego não circulou pelas ruas de Haifa. Foi uma alegria sair das Igrejas todos juntos, ao lado de nossos irmãos ortodoxos, para a procissão do Domingo de Ramos. O prefeito de Haifa viu o que aconteceu e me disse: “Se fizerem todas as semanas, eu apoio”.
O arcebispo também respondeu a uma pergunta sobre a decisão do papa Francisco em destacar que é bispo de Roma. Uma decisão que foi muito bem vista entre os ortodoxos, como confirmou numa entrevista, ao Vatican Insider, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. “Foi um ato de humildade. Francisco é um herói da humildade, pois ressaltou, com particular ênfase, que é bispo de Roma, algo que os papas muitas vezes esquecem e acabam se considerando bispos do mundo”.
Entretanto, Elías Chacour insiste em esclarecer: “Não se deve esquecer Roma. Porém, principalmente, não se deve esquecer que tudo começou aqui e não em Roma. Quando meus sacerdotes peregrinam a Lourdes, digo-lhes: ‘Digam a Maria que é tempo de voltar para casa’. Temos a tendência de esquecer que Maria é de Nazaré. E que Jesus é o homem que viveu em Nazaré, um compatriota meu”.
O arcebispo melquita dedicou uma última reflexão aos católicos do Patriarcado Latino. “Eles são menos do que nós, a comunidade de católicos latinos árabes é composta por 10.000 pessoas, mas possuem um Patriarca, quatro bispos, centenas de sacerdotes e muitíssimas freiras: que felizardos! Devemos avançar para compartilhar, não apenas na comunhão. Não devemos compartilhar somente os problemas. Todo ano é realizada a coleta da Sexta-Feira Santa para os cristãos na Terra Santa. Garanto-lhes que sou católico, mas não vejo nenhum centavo”. A coleta, mencionada por Chacour, é tradicionalmente dividida entre a Custódia Franciscana, que se ocupa dos Lugares Santos, e o Patriarcado Latino.
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Primavera Árabe. “Os cristãos são aqueles que mais perderam”, afirma religioso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU