20 Março 2013
As notícias de Roma destes dias estão focadas extensivamente no estilo único que o Papa Francisco está trazendo para o papado.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 20-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Francisco acolheu uma espécie de confraternização religiosa nessa quarta-feira, encontrando-se com representantes de inúmeras outras comunidades cristãs ao mesmo tempo, assim como com líderes de outros grupos religiosos, incluindo as comunidades judaica, muçulmana e jainista.
Durante o encontro, realizado na ornamentada Sala Clementina do Vaticano, o papa optou por não se sentar em qualquer tipo de trono ou plataforma elevada. Vestindo uma simples batina e uma capa brancas, ele se sentou em uma poltrona na frente do grupo.
O primeiro a saudar o pontífice foi Bartolomeu I, o patriarca ecumênico de Constantinopla, com quem o papa se reuniu privadamente no início do dia. Ele também teve reuniões com o Metropolita Hilarion, do Patriarcado de Moscou, e com Claudio Epelman, diretor-executivo da Latin American Jewish Congress.
De pé, diante do papa, Bartolomeu – que foi o primeiro patriarca a participar de uma inauguração papal nos 2 mil anos de história do cristianismo – disse a Francisco que ele apreciava o seu estilo simples "no essencial, que enche de alegria os corações" de muitos cristãos e não cristãos. Bartolomeu também disse que Francisco deu prioridade à "justiça e misericórdia" no coração do ensino cristão.
"Temos uma obrigação de dar de comer os famintos, vestir os nus, curar os doentes e, mais em geral, cuidar dos necessitados", disse Bartolomeu, referindo-se tanto ao tempo de Francisco como arcebispo de Buenos Aires quanto à sua homilia na sua missa de inauguração na última terça-feira.
O papa, disse Francisco na missa, "deve (...) acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos. Apenas aqueles que servem com amor capaz de proteger".
Falando aos líderes religiosos nessa quarta-feira, Francisco respondeu primeiro a Bartolomeu, chamando-o de "meu irmão André", uma referência ao irmão do apóstolo Simão Pedro, a quem os ortodoxos consideram o seu líder histórico, tanto quanto os católicos consideram Pedro como o deles.
Em seguida, Francisco disse que a presença de tantas delegações de diferentes crenças em sua inauguração o ajudou a se sentir "de forma ainda mais premente a oração pela unidade dos crentes em Cristo e, ao mesmo tempo, ver de algum modo prefigurada a sua plena realização, que depende do plano de Deus e da nossa leal cooperação".
Mencionando o Concílio Vaticano II diversas vezes, Francisco disse ter lembrado das palavras do Papa João XXIII ao abrir o Concílio em 1962, quando o Papa João XXIII incentivou a Igreja Católica a trabalhar pela unidade entre as Igrejas orientais e ocidentais.
"De minha parte, na esteira dos meus predecessores, desejo assegurar a firme vontade de prosseguir no caminho do diálogo ecumênico", disse Francisco. "E peço a caridade de uma oração especial pela minha pessoa, para que possa ser um pastor segundo o coração de Cristo".
Dirigindo-se aos líderes judeus presentes, Francisco mencionou novamente o Concílio Vaticano II, particularmente o seu documento sobre as relações com as religiões não cristãs, Nostra Aetate.
"A Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas", disse Francisco. "Estou confiante de que poderemos, com a ajuda do Altíssimo, continuar proficuamente aquele diálogo fraterno que o Concílio almejava e que efetivamente se realizou, produzindo não poucos frutos, sobretudo ao longo das últimas décadas".
Em seguida, dirigindo-se aos muçulmanos presentes, Francisco chamou-os como aqueles que "adoram o Deus único, vivo e misericordioso e O invocam na oração".
Terminando a sua intervenção, Francisco também disse que "sentimo-nos próximos também de todos aqueles homens e mulheres que, embora não se reconhecendo pertencentes a nenhuma tradição religiosa, todavia se sentem em busca da verdade, da bondade e da beleza".
Eles, disse o papa, "são nossos preciosos aliados no compromisso em defesa da dignidade humana, na construção de uma convivência pacífica entre os povos e na guarda cuidadosa da criação".
Papa se encontra com superior
Em um encontro diferente, Francisco se encontrou com o padre Adolfo Nicolás, superior geral dos jesuítas, no domingo, em Roma.
Embora o Vaticano não tenha emitido nenhuma declaração sobre o encontro entre o primeiro papa jesuíta e o superior da ordem, Nicolás divulgou um breve comunicado, que a revista America publicou.
Durante o encontro, o papa "insistiu que eu o tratasse como qualquer outro jesuíta", disse Nicolás, "de modo que eu não tive que me preocupar em usar o tratamento de Santidade ou Santo Padre".
Depois de oferecer ao papa "todos os recursos de que a Companhia dispõe, já que, em sua nova posição, ele vai se ver necessitado de pessoas, grupos de conselho e de reflexão", Nicolás disse que Francisco caminhou até a porta do hotel vaticano onde eles estavam reunidos e até se ofereceu para ajudar o superior geral a colocar o seu casaco.
"Deu-se um entendimento mútuo com paz e humor, falando do passado, presente e futuro", disse Nicolás. A despedida foi com "um abraço, modo natural de saudar e de receber a um amigo".
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Papa Francisco se reúne com líderes religiosos, ateus e superior jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU