10 Setembro 2014
A reação positiva do cardeal Timothy Dolan à decisão da semana passada dos organizadores da parada anual do dia de São Patrício [St. Patrick], em Nova York, de permitir que grupos gays marchem com suas próprias bandeiras, inicialmente, atraiu respostas favoráveis em muitos círculos da Igreja Católica.
Mas não demorou muito para que os críticos conservadores da Igreja mudassem de opinião.
A reportagem é de David Gibson, publicada no sítio Religion News Service, 06-09-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Depois de sinalizar, inicialmente, sua aceitação relutante, William Donohue, da Liga Católica, voltou com uma visão revisada quando percebeu que mais de um grupo gay poderia ser autorizado a participar no futuro.
"O objetivo desses ativistas, apoiados pela elite empresarial, é neutralizar o elemento religioso do desfile", disse Donohue. "Este é um desfile irlandês-católico, e se o que vem depois do hífen é cortado, assim acontecerá com o apoio do desfile, a começar pela Liga Católica".
A parada de St. Patrick está intimamente relacionada com o catolicismo irlandês, mas não é um evento sancionado pela Igreja.
Em sua declaração que saúda a decisão dos organizadores da parada de aceitar um grupo de gays e lésbicas da rede de TV NBC, que transmite o evento, Dolan salientou que os arcebispos de Nova York nunca "determinaram quem iria ou não iria marchar neste desfile".
Talvez não, mas o falecido cardeal John O'Connor deixou claro na década de 1990 que permitir que gays marchem seria como editar o Credo dos Apóstolos.
Uma das críticas mais negativas a Dolan e aos organizadores da parada veio de um padre de Washington, Monsenhor Charles Pope, que tem um blog no site da arquidiocese de Washington.
Em uma coluna, Mons. Pope teve como alvos o desfile do dia de São Patrício e também o jantar anual de Al Smith, organizado pelo arcebispo de Nova York e que apresenta os candidatos democrata e republicano para presidente.
Dolan enfrentou ataques nítidos dos conservadores em 2012 por seguir a tradição e convidar o presidente Obama, assim como Mitt Romney. Com esse último passo, Dolan foi além da conta para Pope:
"É hora de cancelar a parada de St. Patrick, o jantar de Al Smith e todas as outras tradições 'católicas' que foram sequestradas pelo mundo", escreveu ele. "É melhor para os católicos que, no dia de São Patricio, entrem em suas igrejas e fiquem de joelhos para rezar em reparação à loucura e para que este mundo confuso retorne aos seus sentidos".
A arquidiocese de Washington retirou o post do Mons. Pope do blog, embora ele ainda possa ser lido no site tradicionalista, Rorate Caeli, que chamou o apoio de Dolan aos gays e lésbicas no desfile de "O massacre do dia de São Patrício".
Rod Dreher, escritor da revista de opinião, The American Conservative, e um ex-católico que virou ortodoxo, entrou na conversa com um post intitulado "You've Been Dolanized" [Você foi Dolanizado], onde ele diz que seus amigos católicos em Nova York estão muito infelizes.
"Eu me pergunto quanto tempo vai demorar até que Dolan perceba que ele não irá ganhar nenhum novo amigo - as pessoas com quem ele está tentando fazer charme vão continuar a odiá-lo e a tirar sarro dele - e terá alienado os antigos amigos que, normalmente, seriam aqueles que lhe são mais fiéis?", escreveu Dreher.
É incerto qual o impacto que terá essa crítica. Mas Dolan parece estar claramente confortável com a postura mais inclusiva adotada pelo Papa Francisco.
Recentemente, o cardeal deu uma longa entrevista ao vaticanista do Crux, John L. Allen Jr., na qual Dolan indicou que os dias de guerras culturais dentro da Igreja estavam chegando ao fim.
O esforço de negar a comunhão para políticos católicos pró-escolha "está no passado", disse ele. Ele também afirmou que Francisco quer bispos pastorais, focados na justiça social e "que não estejam associados a qualquer campo ideológico".
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Os católicos conservadores estão atacando o cardeal de Nova York? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU