31 Agosto 2012
A aparição do cardeal Timothy Dolan (na foto, à direita, ao lado de Graham) nas convenções republicana e democrata é um sinal de que os católicos têm um lugar importante no processo político dos Estados Unidos e mostra que Dolan pode despontar acima da política partidária, de acordo com um professor de uma universidade católica.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 29-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Eu acho que esse é apenas um sinal fantástico da importância dos católicos na vida pública norte-americana nos dias de hoje", disse Stephen Schenk, professor da Universidade Católica dos Estados Unidos e copresidente nacional da Catholics for Obama.
Na terça-feira, 28, Dolan aceitou um convite da Convenção Nacional Democrata, que irá ocorrer nos dias 4 a 6 de setembro, para dar a bênção final em Charlotte, Carolina do Norte, depois que o presidente Barack Obama aceite a nomeação do seu partido.
O cardeal também pretende rezar durante a Convenção Nacional Republicana em Tampa, Flórida, na quinta-feira, depois que o candidato presidencial republicano, Mitt Romney, aceitar a nomeação do seu partido.
Embora a tradição sugira que um bispo, padre ou religioso local represente o catolicismo na convenção de cada um dos partidos, a decisão de Dolan de ir a Tampa e a Charlotte reforça a noção dele como o rosto do catolicismo nos EUA, disse o padre jesuíta Thomas Reese, membro sênior do Woodstock Theological Center, da Georgetown University.
"Claramente, o cardeal Dolan é visto pelos bispos como o porta-voz dos bispos norte-americanos neste país. Em certo sentido, ele está tentando ser o Billy Graham católico", disse ele. [William Franklin "Billy" Graham Jr. é um pregador batista norte-americano, conselheiro espiritual de vários presidentes americanos.]
Reese disse ao NCR que a oração de Dolan junto a ambos os partidos projeta a mesma imagem "acima da política partidária" que Graham transmitiu por décadas.
A aparição de Dolan nas convenções faz parte apenas da sua crescente presença na cena política. Ele tem se pronunciado contra um mandato do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA que exige que os planos de seguro de saúde do empregador forneçam cobertura à contracepção, indo tão longe a ponto de processar o governo acerca do mandato.
Mas, nas últimas semanas, ele também recebeu atenção nacional ao convidar tanto o presidente quanto Romney para o jantar anual Al Smith, um grande evento de angariação de fundos para as instituições de caridades católicas de Nova York, contra as objeções de católicos anti-Obama.
O cardeal também enviou cartas para ambos os candidatos e para os seus companheiros de chapa, pedindo que todos assinem o abaixo-assinado Civility in America, criado por Carl Anderson, presidente dos Cavaleiros de Colombo, e se foquem nessas questões em suas campanhas.
Dolan pareceu dar pistas do seu crescente papel na conversa política em um post, destacando um discurso de Anderson na convenção anual dos Cavaleiros de Colombo, em que Anderson lembrou todos os católicos "a não serem tímidos ao levar os valores da fé para a praça pública", escreveu Dolan.
Voz pública do catolicismo
Reese disse que os bispos e Dolan posicionaram Dolan como a voz pública do catolicismo para entrar na esfera política e no debate público.
"Dolan claramente aprecia isso. Ele é claramente bom nisso", disse Reese.
A imagem "acima do partidarismo" de Dolan não se perdeu no rastro da sua aceitação do convite da convenção democrata.
"O que isso mostra é que o cardeal Dolan é capaz de se levantar acima da política do momento. Mas para aqueles que veem o mundo exclusivamente através das lentes do poder, isso é completamente ininteligível", disse William Donohue, da Liga Católica.
Donohue, que disse ao jornal New York Post na sexta-feira que o GOP [Grand Old Party, Partido Republicano] foi inteligente ao convidar Dolan e que os democratas eram estúpidos por não convidá-lo, disse nessa terça-feira que aqueles que acusaram Dolan de apoiar os republicanos agora se parecem tolos pelas suas preocupações.
O colunista Ross Douthat, do jornal New York Times, disse ao National Catholic Register que Dolan estava certo em colocar a si mesmo e a Igreja Católica na discussão política.
"Navegar pela vida norte-americana sempre foi um grande desafio para os líderes católicos", escreveu. "Estamos em um período nem lá nem cá. Os católicos não enfrentam o nível de hostilidade pública que enfrentaram no século XIX. Mas a Igreja está mais dividida do que estava, e a sua reputação pública é muito pior por causa do escândalo dos abusos sexuais".
Douthat continuou: "As escolhas que Dolan fez têm sido geralmente certas (...) Ele também esteve certo ao convidar o presidente Obama para o jantar [Al Smith], porque, quaisquer desacordos que tenha havido entre a Igreja e a Casa Branca, Obama não é Henrique VIII. Ainda somos uma sociedade livre, e a Igreja deve estar em diálogo".
Outros observadores conservadores afirmaram que a inclusão de Dolan por parte dos democratas em sua convenção era uma inversão de curso, temerosos de perder o voto católico.
Joshua Mercer, do Catholicvote.org, que endossou Romney e o seu companheiro de chapa, o republicano Paul Ryan, disse que o "Partido Democrata, sentindo que está afastando o voto católico, rapidamente se mexeu" para convidar Dolan.
Ao anunciar o aceite de Dolan ao convite do Partido Republicano, o porta-voz da arquidiocese de Nova York, Joseph Zwilling, disse que Dolan aceitaria um convite dos democratas também.
Schenk disse que o fato de convidar Dolan sempre esteve sobre a mesa dos democratas, que precisaram de tempo para trabalhar sobre os detalhes antes de finalizar.
"Esse é um sinal claro de que a Igreja Católica nos Estados Unidos transcende a política partidária, e eu estou ansioso para acolher a aparição do cardeal Dolan em Charlotte" [local da convenção democrata], disse ele.
Mas nem todos serão acolhedores. Steven Krueger, presidente do Catholic Democrats, chamou a oferta de Dolan para rezar com os democratas de politicamente brilhante, mas pastoralmente divisionista.
"É de uma certa arrogância pastoral, se é que isso pode existir, se posicionar publicamente a respeito de um convite para a Convenção Nacional Democrata mesmo quando você está processando o governo, quando supervisionou um apelo à desobediência civil em oposição às regulações sobre a contracepção do HHS e quando deturpou as regulações afirmando serem inclusivas à cobertura de abortivos", escreveu Krueger em uma coluna no The Huffington Post.
O fato de Dolan e outros bispos terem se pronunciado tão fortemente contra Obama e o mandato do HHS e menos sobre a proposta de orçamento e as filosofias econômicas de Ryan alimentou a discussão sobre o apoio de Dolan e dos bispos aos republicanos.
"Algumas pessoas são muito críticas de Dolan porque ele falou sobre como Paul Ryan é um homem maravilhoso, um católico maravilhoso, mas ele não criticou o apoio de Ryan a Ayn Rand [escritora e filósofa norte-americana], nem criticou o seu orçamento, que esvazia e destrói os programas para os pobres", disse Reese.
"A filosofia econômica de Ayn Rand, a sua ênfase no egoísmo... Ou seja, isso é algo sobre o qual os bispos deveriam falar... Não se trata de política pública. Trata-se de filosofia, teologia e princípios, não de juízo prudencial", disse ele.
O que Dolan vai falar tanto em Tampa quanto Charlotte ainda não está claro, no entanto.
"Agora, eu acho que temos que esperar e ver qual será a sua oração", disse Reese.
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Cardeal Dolan está tentando ser o Billy Graham católico, afirma jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU