Por: Nadine Steffen e Marilene Maia | 18 Mai 2017
Com o objetivo de investigar a realidade das mulheres no mercado de trabalho nos municípios do Vale do Sinos, considerando os dilemas históricos e contemporâneos reveladores da desigualdade de gênero presentes na dimensão nacional e internacional, foram sistematizados os dados da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS para os últimos quatro anos disponíveis – 2012, 2013, 2014 e 2015 –, analisando o aspecto remuneração. O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, realizou ainda a análise do saldo de admitidos e desligados no mercado formal nesse início de ano com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED e introduziu as evidências da relação entre mulheres e trabalho.
Entre 2012 e 2015, a maioria das mulheres trabalhadoras nos municípios do Vale do Sinos teve remuneração de até 2,00 salários mínimos, enquanto os homens casualmente receberam até 4,00 salários mínimos (clique aqui para visualizar a tabela completa por municípios): Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Portão, São Leopoldo e Sapucaia do Sul são os exemplos de tal desigualdade salarial de gênero. Em 2012 e 2013, Ivoti concentrava a maioria geral dos trabalhadores na faixa entre 1,01 e 2,00 salários mínimos; contudo, em 2014 e 2015 a desigualdade apareceu e a maioria dos homens alcançou a remuneração entre 2,01 e 4,00 salários mínimos.
Em 11 dos 14 municípios do Vale dos Sinos, ainda em 2015, a quantidade de mulheres que tinha remuneração de até 2,00 salários mínimos era 15,89% superior aos homens, ao passo que a quantidade de homens que recebia acima de 2,00 salários mínimos era 81,2% superior a de mulheres, mostrando assim que as faixas de remuneração média mais elevada estão principalmente concentradas nos trabalhadores do sexo masculino.
Foi verificado no mesmo ano que homens continuam com a maior participação no mercado de trabalho no Vale dos Sinos, com um total de 199.751 homens contra 164.782 mulheres, representando, respectivamente, 54,89% e 45,11%. Em comparação, em 2014 a composição foi 54,59% de homens e 45,41% de mulheres; em 2013, de 55,83% e 44,17%; e em 2012, de 56,16% e 43,84%. Constata-se, assim, que a participação das mulheres é crescente, embora o mercado de trabalho na região tenha sofrido retração a partir de 2014 e no Rio Grande do Sul em 2015 (clique aqui para visualizar a tabela para o Vale do Sinos e estado).
O único município do Vale do Sinos no qual a desigualdade entre sexo feminino e masculino não pode ser explicada pela composição das faixas de remuneração é Nova Santa Rita, em consequência da participação média das mulheres no mercado de trabalho ser de 28,76% enquanto que a dos homens, ao longo dos quatro anos, foi de 71,24%. Criada em 1992, Nova Santa Rita faz limite com Canoas, Esteio, Portão, Montenegro, Triunfo e Sapucaia do Sul e, em 2010, tinha 22.706 habitantes; o município tem sua economia baseada na indústria pesada, sendo os principais produtos cimento (Cimpor Cimentos do Brasil LTDA), eletrônicos, como alto-falantes, móveis vergados e tecidos; na pecuária: bovinos, suínos e frangos; e, na agricultura, é a maior produtora de melão do estado, além da produção de arroz, melancia e mandioca.
De acordo com o quadro abaixo, nos três primeiros meses do ano o município de Esteio apresentou mais desligados que admitidos, fazendo do seu saldo do mercado formal o mais negativo do Vale dos Sinos até então. Se aprofundada a análise por sexo, o maior número de desligamentos absolutos e também femininos foi em Canoas, com a queda nas oportunidades no comércio e serviços e crescimento das vagas na construção civil (setor majoritariamente composto por trabalhadores homens), e o de desligamentos masculinos foi em Dois Irmãos. A maior participação feminina no mercado de trabalho formal no Vale do Sinos foi observada em Dois Irmãos, Nova Hartz, Sapiranga e Campo Bom.
Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo são os municípios mais populosos do COREDE - Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul Vale dos Sinos, com respectivamente 323.827, 238.940 e 214.087 habitantes no último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010).
No primeiro trimestre de 2017, os municípios que mais empregaram foram Sapiranga – acréscimo de 1.014 empregados –, São Leopoldo – acréscimo de 896 empregados – e Novo Hamburgo – acréscimo de 683 empregados. Percebe-se, assim, que os principais movimentos positivos no Vale do Sinos se deram nos maiores municípios. Assim como Campo Bom e Nova Hartz, Sapiranga ampliou o mercado de trabalho especialmente baseado no setor manufatureiro de pequenas e médias empresas e nos setores calçadista e têxtil. O município destaque na geração de empregos neste início de ano aposta nos incentivos ao empreendedorismo e auxílios para a participação em feiras concedidos pela administração municipal, além da privilegiada localização às margens da RS-239 ligada à capital do estado (Porto Alegre), Litoral e Serra, que abrigará o polo tecnológico industrial do município.
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Mulheres e Trabalho: evidências da desigualdade no Vale do Sinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU