09 Março 2017
“A desigualdade de gênero, especialmente em âmbito econômico, em nível de renda, em acesso ao mercado de trabalho e em fatores de produção, é um fenômeno que, ao contrário do que se poderia pensar, em 2017, está continuando a crescer.”
A opinião é de Roberto Barbieri, diretor-geral da Oxfam Itália, em artigo publicado no sítio L’HuffingtonPost.it, 08-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O dia 8 de março deste ano corre o risco de ser uma data em que os direitos das mulheres, adquiridos em décadas de lutas, pode ver mais um passo atrás em termos reais.
E não é por acaso que as mulheres de quase 50 países vão celebrar o Dia Internacional da Mulher saindo às ruas para protestar contra a violência e a desigualdade de gênero.
Sim, porque a desigualdade de gênero, especialmente em âmbito econômico, em nível de renda, em acesso ao mercado de trabalho e em fatores de produção, é um fenômeno que, ao contrário do que se poderia pensar, em 2017, está continuando a crescer.
De acordo com as estimativas divulgadas pela Oxfam no relatório “Uma economia que funciona para as mulheres”, serão necessários mais 170 anos para preencher uma lacuna nos salários médios entre homens e mulheres que ainda se encontra parado, em nível global, em 23%.
Um dado que evidencia um passo atrás, que nos leva de volta para os níveis de desigualdade de 2008, afastando-nos, mais uma vez, do objetivo estabelecido pelas Nações Unidas de se chegar a zero a pobreza extrema no mundo até 2030.
Mas quem são as primeiras a serem afetadas por esse status quo? São os 600 milhões de mulheres no mundo que ainda estão empregadas em trabalhos precários em domicílio ou em atividades agrícolas de subsistência.
Como as produtoras agrícolas de pequena escala que, na África, embora representando 40% da força de trabalho de um setor de que depende a sobrevivência de 70% da população, têm acesso a menos de 10% dos créditos concedidos na agricultura a pequenos produtores e, em pouquíssimos casos, à gestão direta da terra.
São as mulheres empregadas nos trabalhos de cuidado das pessoas, trabalhos não remunerados, dos quais elas se encarregam de duas a 10 vezes mais do que os homens, de acordo com os diversos países. Mulheres que alimentam um setor que, de acordo com as estimativas, seria capaz de gerar um valor econômico total de cerca de 10 trilhões de dólares por ano, ou seja, mais do que o PIB do Japão, do Brasil e da Índia juntos.
Uma enormidade de recursos que poderia, não só garantir uma renda digna para milhões de famílias nos países em desenvolvimento, mas também garantir uma melhor prestação de serviços públicos essenciais, como educação e saúde.
É por isso que se torna essencial inverter, hoje, o sentido de marcha. Em primeiro lugar, preenchendo a lacuna entre homens e mulheres em termos de oportunidades e de direitos, garantindo contratos estáveis e condições de trabalho seguras, junto com um pagamento justo, alinhado com o dos homens.
Será fundamental, depois, enfrentar com decisão a discriminação de gênero e os abusos no local de trabalho, reduzindo o peso do trabalho de cuidado não remunerado e oferecendo um acesso igual ao dos homens à propriedade da terra e à propriedade de empresa em nível global.
Nós, da Oxfam, estamos lutando ao lado de mulheres há muitos anos, através de projetos de cooperação destinados a melhorar a produção de alimentos, o acesso aos recursos e ao crédito, fortalecendo a sua capacidade de criar e comercializar produtos agrícolas e artesanais, mas, hoje, mais do que nunca, é necessário o compromisso de todos, para que, a fim de realizar aquilo que é um direito universal, não seja necessário esperar ainda mais de um século.
Para apoiar o nosso trabalho ao lado das mulheres em alguns dos países mais pobres do mundo, existe a campanha Sfido la Fame.
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Desigualdade de gênero, um passo atrás de quase 10 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU