Por: Jonas Jorge da Silva | 11 Março 2017
“Bergoglio é um homem aberto, lúcido e sincero, que ganha facilmente a confiança das pessoas”. São palavras do sacerdote jesuíta espanhol Luís González-Quevedo Campo, um religioso com uma grande experiência na pregação de retiros espirituais inacianos e afetuosamente conhecido Brasil afora como Padre Quevedinho, ao iniciar sua exposição a respeito da “Paisagem sociocultural de Jorge Mario Bergoglio”, tema de abertura do ciclo de estudos e reflexões “O Magistério Social do Papa Francisco”, na noite do dia 09 de março, em Curitiba, Paraná. A atividade é promovida pelo CEPAT, em parceria com a Comunidade de Vida Cristã, Regional Sul e o apoio do Instituto Humanitas Unisinos.
Padre Luís González-Guevedo, sj
Padre Luís González-Quevedo teve contato com Bergoglio nos anos 1970 e 1990, o que favoreceu o estreitamento de laços entre ambos. Muitas de suas lembranças acerca daqueles anos estão registradas em seu livro “O novo rosto da Igreja - Papa Francisco” (2013), Edições Loyola. Atualmente, troca correspondências com o Papa, a quem considera fiel ao seu modo de proceder quando era apenas um padre jesuíta. Bergoglio sempre foi um homem de contato pessoal, próximo e amigo. Em grande medida, pode-se dizer que a marca pastoral de seu pontificado tem a ver com esse seu modo de ser e estar com as pessoas.
Padre Quevedo disse que, apesar de algumas pessoas defenderem que Bergoglio pretende fazer uma revolução na Igreja, na verdade, o Papa apenas está sendo coerente com o Ensino Social da Igreja, tornando-o uma realidade expressa em palavras e ações. Muitas de suas manifestações contrárias às práticas indesejadas no interior da Igreja, são marcas que Bergoglio carrega desde sua atuação na Argentina. Bergoglio, por exemplo, sempre detestou o carreirismo, defendendo a fidelidade do bispo a sua diocese. Não se conforma com a ideia de bispos distantes do cuidado pastoral em suas dioceses, transformando-se em bispos de aeroporto.
Sua opção preferencial pelos pobres não se dá simplesmente porque existe uma teologia da libertação que a evidenciou a partir da realidade da América Latina, mas, sim, porque esta opção sempre foi evangélica, está no coração do Evangelho. Daí sua atenção especial àqueles que são considerados os últimos da sociedade.
Entre as possíveis leituras do pontificado de Bergoglio, de acordo com o Padre Quevedo, pode-se destacar três linhas mestras: a dignidade humana, a misericórdia e a alegria.
Bergoglio é um incansável defensor da dignidade humana, sem excluir ninguém. Isto é prioritário para ele. É notória sua permanente luta em favor dos refugiados, idosos e crianças vítimas das mais trágicas situações de injustiça. O Papa está engajado na construção da paz e defende as causas dos movimentos populares na perspectiva da construção de um mundo melhor. Não é por acaso que já conquistou a admiração de cristãos e não cristãos, de homens e mulheres de boa vontade, pois com seu jeito simples de liderar consegue ser brilhante e aglutinar pessoas em favor das causas humanitárias.
A marca da misericórdia em seu pontificado é expressão da fé do homem Bergoglio em Jesus Cristo. É alguém convicto que Deus não exclui ninguém de seu amor. Como diria o vaticanista Andrea Tornielli, que publicou um livro-entrevista com o Papa, “O nome de Deus é Misericórdia”, a Igreja desejada por Bergoglio deve expressar “o rosto da misericórdia, da proximidade, do acompanhamento, da ternura, do encontro, do abatimento de todas as cercas, esquemas e preconceitos. Jesus, nos Evangelhos, não se encontrava com as multidões simplesmente enunciando doutrinas. Ele falava de Deus, do seu Reino e da sua misericórdia, entrando em contato com as pessoas, com os seus corações. Ele se comovia diante dos seus dramas, não ficava indiferente. O Deus cristão tem o rosto de Jesus, que se comove ‘até as entranhas’ por nós. Parece-me que esse é o rosto autêntico da Igreja. Eu acho que é isso que significa evangelizar”.
Por fim, o cristão deve carregar consigo a alegria do Evangelho, porque a fé cristã oferece razões suficientes para acreditar na vida, ter esperança. Francisco é um homem lúcido quanto a isso, pois mesmo enfrentando resistências diárias, não perde a alegria e nem o desejo de levar adiante o seu ministério, aliás, sequer perde o sono.
“Espero que o Papa tenha vida para dar continuidade à reforma da Igreja”, manifestou-se o padre Quevedo. E ao questionar se o modelo de Igreja de Francisco terá continuidade, não oscila em dizer que sim, pois o Povo Santo de Deus dará sequência ao seu empenho pastoral e missionário.
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Bergoglio, um homem aberto, lúcido e sincero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU