07 Fevereiro 2017
“Com a metade daquilo que o cardeal Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, disse e fez, Pio XI teria feito ele devolver o barrete cardinalício. E os quatro idosos cardeais que enviaram um ultimato ao papa não sofreram sequer um chamado à prudência.”
A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, em Bolonha. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 05-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os cartazes contra o papa que apareceram nos muros de Roma são a prova de que existe uma Italia ferox, que, com a difamação, usa e alimenta falhas profundas de ressentimentos e cafonice. Mas explicam à Igreja que aquele mundo dos blogs reacionários – o “web-katto-kruel” – não expressa mais amor à tradição, mas um fetichismo cristão pelo antiquado, indócil ao Evangelho e necessitado de visibilidade.
Diante da acusação de ter “comissariado Congregações, removido sacerdotes, decapitado a Ordem de Malta e os Franciscanos da Imaculada, ignorado cardeais”, o Papa Bergoglio, com efeito, só pode sorrir. Com a metade daquilo que o cardeal Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, disse e fez, Pio XI teria feito ele devolver o barrete cardinalício. Os Cavaleiros de Malta foram vítimas de um golpe interno, que o papa reverteu, restaurando a soberania anterior.
Não foi – infelizmente – o lefebvrianismo, mas sim uma série de práticas graves sobre pessoas e sobre o dinheiro que levou à tentativa de disciplinar a congregação das Franciscanos da Imaculada, em vez da sua dissolução de império. E os quatro idosos cardeais que enviaram um ultimato ao papa, como se fosse réu em um julgamento por heresia, não sofreram sequer um chamado à prudência.
O papa, portanto, pode e deve ignorar esses episódios: a Itália não. Que o pior catolicismo tenha as mesmas pulsões agressivas da pior Itália não é novo. Mas nunca trouxe coisas boas.
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Quem tem medo da reviravolta de Bergoglio? Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU