Por: Patricia Fachin | 22 Mai 2017
A delação dos executivos da JBS e a gravação entregue pelo dono da empresa, Joesley Batista, à Procuradoria Geral da República – PGR, noticiadas pelo Jornal O Globo na última quarta-feira, 17-5-2017, indicam que há um “desacordo entre o capital” em relação a qual será o seu candidato nas próximas eleições presidenciais, diz a cientista política Clarisse Gurgel à IHU On-Line, na entrevista concedida por telefone.
Na avaliação dela, “o 'furo' da rede Globo, ao noticiar a gravação envolvendo o presidente Temer, não teve a força que a Globo tentou imprimir (...) porque o capital, seja financeiro, seja produtivo, não teve unidade na reivindicação da denúncia”. “Mas a Globo tem poder de gerar imaginário, basta ver o efeito da vinheta do 'Plantão do Jornal' em que a 'notícia bombástica' não trazia, ao menos de início, nada de novo, nem incriminava, em termos formais, o presidente. É a Globo também que nos dá acesso as bastidores da economia política brasileira. Enquanto conversamos aqui, sabemos que os rumos do país serão definidos por aqueles que reúnem maior poder de compra e venda de corpos e almas. Graças a Globo, todos sabem, hoje, que o capital compra, vende e mata”, afirma. Para ela, “a pergunta que fica no ar é: por que a Globo estaria disposta a provocar tamanha instabilidade num cenário que já é de extrema instabilidade e numa conjuntura em que só falta um ano para as eleições diretas?”.
A resposta, afirma, pode se dar de duas formas: uma porque “a JBS é uma das maiores patrocinadoras da Globo, que enfrenta uma crise brutal”, e outra, para “criar um cenário favorável para que um segundo nome para a candidatura à Presidência apareça e seja aquele capaz de espelhar o Brasil que está devastado politicamente e que anseia por uma espécie de herói que irá inovar a política. Esse segundo nome seria capaz de implementar as reformas que o capital quer no ritmo e radicalidade que quer, e seria capaz de criar um ambiente de modo a flexibilizar o Estado ainda mais, para que a própria rede Globo seja salva”. Clarisse diz ainda que o envolvimento de Aécio Neves nas delações da JBS indica que a “movimentação” do grupo queria “respingar na disputa interna do próprio PSDB”.
Clarisse defende a tese de que os últimos acontecimentos, incluindo as investigações da Lava Jato, seguem um plano que, por enquanto, se desdobra em três níveis: “há um cenário em que o plano A, que consiste em tornar Lula inelegível, e o plano B, que é derrubar Temer para gerar uma eleição indireta, empurra a situação para um plano C, que é criminalizar Temer para fazer valer uma eleição mais favorável no ambiente do Congresso e viabilizar as reformas requeridas pelo capital”.
Os desdobramentos desses fatos, especula, expressam “duas movimentações subterrâneas”. Uma delas é a constituição de uma nova arena para a política, que é a arena do Judiciário. "O processo de judicialização da política vai forjando quadros no Judiciário para a disputa da República e, por isso, surgem nomes como o da ministra Cármen Lúcia, de Jobim e de Moro”. A outra movimentação, afirma, “indica o nome de Doria como aquele que começa a corresponder à necessidade de que o presidente da República espelhe os anseios de uma sociedade que vive uma crise de indeterminação, em face do dilaceramento de valores históricos. Doria é um empreendedor, sem passado político, que dialoga com o imaginário de um povo condenado ao sonho alienante do empreendedorismo, que tem a política como um mal fantasmagórico e que é interpelado pela vontade de dinheiro como sinônimo de sucesso. Está aí uma alternativa para o PSDB: um sujeito que age por si só e que domina uma 'técnica administrativa' de gestão de um empreendimento. Doria é a encarnação da ausência de limite ético que convoca uma massa à prática de exploração do outro. Razão pela qual o que espelha este cenário devastado, que marca o Brasil, é uma junção de aventura e ciência, um cinismo que conjuga técnica e ousadia. Um mascate mercenário”.
Clarisse Gurgel | Foto: Arquivo Pessoal
Glarisse Gurgel é graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RIO, em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, mestra em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ e doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos - IESP-UERJ. Atualmente é professora da UNIRIO.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual sua leitura da atual conjuntura brasileira, especialmente da crise política?
Clarisse Gurgel – Quando lemos alguns sociólogos clássicos, os conservadores principalmente, eles sinalizam para a importância de algum aspecto que sirva como uma espécie de energia que institua e garanta uma ordem social. A dificuldade agora é que estamos sem conseguir capturar essa energia que conduz esta ordem, pois testemunhamos a ruína de tudo o que se acumulou de tradição política no Brasil, em especial quanto a seus quadros políticos, métodos, trajetórias e valores morais que marcavam suas disputas e tensões. Não que estejamos vivendo uma desordem, mas vivemos uma conjuntura de reorganização e recomposição do capital, aquele que determina a direção econômico política do país, e de desorganização da classe trabalhadora, aquela encarregada de fazer ruir os pilares do modo de produção capitalista, mas com o compromisso de erguer novas formas de sociabilidade. A questão, portanto, é qual o nome da ruína que queremos. Os partidos políticos contra-hegemônicos, os sindicatos e movimentos sociais estão herdeiros da conciliação de classe negociada entre Lula e o empresariado que o elegeu. Não visualizamos nem mesmo um grande movimento social que apresente uma perspectiva. Portanto, há uma ausência de sujeitos coletivos que apresentem uma perspectiva de transformação radical da sociedade brasileira, ainda que surjam fagulhas potenciais que seguem na cauda de movimentações superestruturais das grandes centrais pelegas e do PT.
Na política não existe vazio e, se surge algum vazio, ele logo é preenchido. O exemplo mais trágico disso é o Nazismo, que surgiu posteriormente a um processo de deterioração social e de produção de mazelas intensas, que foi o período pós-guerra. O que temos testemunhado agora é um processo que nos faz lembrar mais ou menos essa experiência do passado.Em momentos como este, em que as coisas ficam indeterminadas, em que não se sabe para qual direção o país caminha, em que o desalento e a descrença são muito grandes, o que costuma preencher o vazio político instaurado é algo que espelha esse grau de indeterminação. Algo que tem que ser diferente de tudo o que se conhece. Não sem razão ouvimos tanto frases que sugerem que seria preciso eliminar todos os políticos e começar de novo.
Diria que vivemos hoje um período em que a política que irá preencher esse vazio parece começar a ganhar forma através de um perfil que foca na imagem de um sujeito individual e não na de um sujeito coletivo, de um sujeito sem tradição na política, sem vínculo estável ou construído através de alguma estrutura política clássica, como um partido, e com a disposição, sem limites, para implementar soluções para as crises cíclicas do capital. A corrida é por encontrar aquele indivíduo capaz de manter dispensável um conciliador, em um processo crescente de pauperização dos que trabalham e de necessidade inevitável de consumo de massa.
Desde 2013 vivemos uma política caudatária das manifestações de junho. Isso porque os setores de direita pegaram carona na insatisfação desorganizada da esquerda e dos trabalhadores, na perspectiva de forjarem um nome para a disputa eleitoral, reciclando, curiosamente, a democracia indireta.
IHU On-Line – Por que vê Doria como uma possibilidade para “ocupar o vazio” da política?
Clarisse Gurgel – É difícil analisar o processo eleitoral para daqui a um ano, ainda mais nesse contexto de extrema indeterminação. Em um processo eleitoral, precisamos levar em conta não somente o nome do sujeito que é candidato, mas em especial as forças que estão em torno deste nome. O PMDB sempre foi o partido que elegeu os candidatos no Brasil, porque tem a maior penetração na classe trabalhadora pelo clientelismo e pela troca de favores, que lhe possibilitou erguer uma estrutura de lealdade. Entretanto, o partido está no alvo da avalanche peessedebista. Sua saída é retornar à posição de coadjuvante, auxiliar do PSDB.
Não se trata apenas da eleição de João Doria, mas da campanha eleitoral, do recurso que se poderá reunir e da adesão do empresariado X ou Y, que poderá garantir sua eleição. Na verdade, não importa o nome do rei, mas se ele irá cumprir o papel de rei para unificar interesses particulares que tenham uma cara de interesses universais. Se ele consegue reunir o apoio do capital para campanha e para o mandato, ele tem chances efetivas de eleição. Agora, se isso acontecer, Doria irá encarar, seja em 217, seja em 2018, um candidato fortíssimo e que está crescendo cada vez mais na roupagem de um mártir, que é o Lula. Se Lula já tinha um apelo popular imenso – que não precisamos nem mais explicar –, imagina agora acumulando esse processo indubitável de perseguição? Ele não é só um nordestino que teve o corpo maculado pela labuta diária, em que perdeu um dedo; não é só um analfabeto que conseguiu conquistar o posto de direção de um país, não é só uma boia-fria que teve a maior popularidade como presidente da República. Ele é tudo isto, mas é agora também um perseguido pelos tribunais solenes do Judiciário. Ou seja, Lula não é qualquer vítima, ele é vítima daquilo de que o povo é vítima, porque, se formos observar o Judiciário, nos marcos de sua onipotência, do sistema penal, sua grande clientela é o povo pobre, que sabe o que é ser perseguido pela justiça. Lula nunca espelhou tão bem a classe trabalhadora.
A história é feita de repetições de grandes feitos, que primeiro aparecem como tragédia e posteriormente como farsas. Isso quem diz é o próprio Karl Marx. Ela aparece como farsa não só no sentido de ser simulada, mas no sentido de ser cômica. Como o Lula pode retornar? Como resposta àquilo que o derrubou, ou seja, justamente por conta do fato de ele não ter implementado, no ritmo que a burguesia exigia, as reformas que o empresariado precisa para manter as suas taxas de lucro. Que reformas são essas? As da previdência, a trabalhista, a das telecomunicações. Dilma não tinha a capacidade que o Lula tem de conter as tensões de classe. Uma das primeiras medidas de Dilma foi diluir o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que era o espaço em que o Lula promovia as negociações de interesses genuinamente antagônicos.
Por que eu falo que podemos testemunhar um processo de repetição como farsa? Porque o Lula pode ser necessário novamente para o capital. Um aspecto que vai fazer com que ele se renove é a reorganização mínima e caudatária da classe trabalhadora em reação às ameaças em torno das reformas que Lula não concluiu, no ritmo necessário, no passado. Essa reorganização pode fazer com que a classe trabalhadora recupere um flerte com o seu imaginário de classe e, aí sim, torne a se espelhar em figuras como o Lula: um trabalhador, um boia-fria, agora criminalizado. Deste modo, Lula passa a ser, novamente, o nome do capital e dos trabalhadores.
IHU On-Line – O retorno do ex-presidente Lula à presidência não pode ser afetado pelo andamento da Operação Lava Jato, pelas delações e investigações de corrupção envolvendo os governos petistas com as empreiteiras, por conta da condenação de José Dirceu e, inclusive, da impopularidade do PT nas últimas eleições municipais?
Clarisse Gurgel – Sim. Mas veja que as mobilizações desorganizadas que se iniciam tendem a um caráter performático. O processo de reorganização efetivo da classe trabalhadora requer tempo, criatividade e capacidade de superar obstáculos concretos. Não é à toa que, desde o primeiro depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro, setores que antes faziam uma oposição pela esquerda estão erguendo palavras de ordem em nome de Lula e manifestando seu voto a favor dele.
É claro que esse reespelhamento não irá eleger Lula, mas o que vai elegê-lo é o suporte material fundamental para que essa identificação ocorra. E que suporte material é esse? O capital, porque vivemos no capitalismo, ou seja, é quem vai investir nessa campanha. O que é preciso para que Lula seja eleito é que o capital reivindique seu nome por um reespelhamento na classe trabalhadora e por uma necessidade de sua contenção.
Então, temos um processo de avanço das reformas, acirramento dos ânimos por parte da classe trabalhadora, sua reorganização ainda que precária e o reespelhamento identitário em face do Lula. Não é à toa que Michel Temer está inseguro em relação aos votos na reforma da previdência. O contexto impede que o capital prossiga livremente como estava prosseguindo, e isso faz com que Lula seja necessário novamente, mas não para a classe trabalhadora em efetividade, e sim para o capital.
IHU On-Line – Segundo seu raciocínio, com o retorno de Lula à Presidência e sua rearticulação com o empresariado, as reformas seriam feitas?
Clarisse Gurgel – Sim, porque elas já estão sendo encaminhadas. Para o empresariado é melhor encaminhar essas reformas sem precisar de uma figura como Lula.
IHU On-Line – Então a grande vantagem da eleição do ex-presidente seria manter a estabilidade depois que as reformas fossem aprovadas?
Clarisse Gurgel – Sim, mas aí na política nada é como um jogo de Damas, em que as peças têm posições claras, com o preto e o branco bem definidos. O empresariado só vai entender a necessidade do retorno de Lula se não conseguir encaminhar tudo que precisa e se sentir que as consequências da pobreza que vai gerar serão danosas para o próprio empresariado, porque as reformas vão gerar danos, miséria e desemprego. Isso não é confortável para o empresariado, porque pode gerar um ambiente que lembra o de guerras civis, ou seja, esse tipo de situação gera processos de convulsão populares sem direção. Mas esse aspecto pode ser relativamente resolvido sem precisar, por enquanto, de uma figura como Lula. Basta criar um Estado policial ainda mais repressor e empregos inúteis que sirvam apenas para gerar uma renda mínima para o trabalhador consumir, mesmo que seja a crédito.
A ironia é que, quanto mais a classe trabalhadora for organizada e a sua reorganização significar algo para além da performance, mais ela vai criar um terreno fértil para que o empresariado adote para si nomes que tenham entrada na classe trabalhadora. O cenário só muda se a própria esquerda tiver um nome e se este nome expressar algo autenticamente além da disputa eleitoral.
IHU On-Line – Esse momento de indeterminação é consequência de que e qual foi a contribuição da esquerda para que se chagasse a esse momento?
Clarisse Gurgel – Esse momento de indeterminação é um momento que alguns teóricos, especialmente os da teoria psicanalítica, costumam chamar de crise da função paterna ou de perda de eficácia da função paterna. A função paterna é aquilo que encarna um momento em que o ser tem que caminhar com suas próprias pernas e se separar da mãe, isto é, da fonte das suas necessidades mais primárias. Esse momento de separação e de ter que caminhar pelas próprias pernas, é um momento de inserção desse indivíduo na sociedade. Parecemos viver num contexto em que os valores universais que são organizadores da vida em sociedade estão em crise. Vemos que as pessoas são pouco tocadas por questões morais e éticas a respeito do que vão fazer, ou seja, vivemos segundo o que esses psicanalistas chamam de o imperativo do gozo: o que importa é o que eu quero fazer, o que me dá prazer, e não importa se isso é correto ou não. Esse imperativo paira sobre nós e revela uma crise dos valores universais que são cultivados na vida em sociedade, na relação de alteridade, de convivência com o outro. Não concordo que se viva a perda da eficácia desses valores, porque ainda temos a influência de “grandes outros” na vida, ou seja, daqueles que encarnam esse olhar sobre as nossas ações e a reunião de valores que nos espelham. E não é à toa que a grande mídia é um “grande outro”, porque ela é a formadora da chamada opinião pública. Portanto, existe o público e a face opinativa desse público; ainda se compartilham valores e ainda somos interpelados por valores éticos e morais. Mesmo que estes valores passem por cultivar o semblante de alguém indiferente aos valores. A questão é quem exerce a demanda de sentido sobre os sujeitos que dirigem suas ações para a grande mídia. Quem cumpre o papel superegoico de guiá-los.
O problema é que os valores universais que interpelaram a humanidade desde a modernidade são valores que comprometem a livre ação do capital: justiça, igualdade, fraternidade são valores que são empecilhos para que o capitalismo possa se ressignificar num contexto de crise cíclica. Essas crises impelem o capital a fazer uso de recursos que exigem a ausência de limites, e o neoliberalismo é exatamente isto: o modo de produção capitalista sem limites. Esses limites encostam nesses valores universais. Quando a burguesia está diante de um contexto que tem uma face material, como uma crise de circulação de mercadoria que leva à queda dos seus lucros, e outra face de um conteúdo ideológico que não permite uma livre ação no sentido de se reciclar e superar a crise, ela precisa incidir sobre as duas coisas, na capacidade de se reciclar e na capacidade de romper e destituir esse conjunto de valores que são obstáculos para ela. No campo material, ela incide naqueles que vão fazer o papel de administrar economicamente a luta de classe, contando com o Estado como agente que vai injetar recursos públicos geradores de demanda. No campo ideológico, ela precisa daqueles que vão fazer o papel de administrar politicamente a luta de classe, contando com o Estado como agente que vai incidir na reformulação de valores morais produtores de um novo campo simbólico e de novos imaginários. A reforma na educação é expressão desta movimentação, seja em termos de reposicionamento da força produtiva na produção de mercadorias, seja em termos de formação de agentes intelectuais porta-vozes dos valores conservadores.
A esquerda infelizmente contribui para isso e a direita é muito habilidosa; Marx dizia que o capital tem a habilidade de se reinventar e lidar com suas próprias crises. A esquerda contribui porque os instrumentos usados por ela, ao longo dos tempos, os partidos e os sindicatos, foram utilizados e mobilizados na lógica do capital, e isso levou ao julgamento de que os problemas estão nos instrumentos. Logo, essa é uma deixa para que o capital tempere os desgastes desses instrumentos que são, por excelência, as ferramentas de luta universal contra um modo de produção social. Diferente dos movimentos de luta identitária, os partidos e sindicatos aglutinam forças em torno dos anseios de classe, uma categoria universal para além das singularidades e particularidades da cor, do gênero e da orientação sexual.
Nas jornadas de junho, as tensões internas da esquerda se expressaram através de uma rejeição extrema a partidos ― porque a rejeição a partido não é da direita – e a sindicatos, entrou-se numa tensão interna enorme e semeou-se o imaginário de que é possível ir para rua de forma autônoma, como se cada indivíduo fosse capaz de seguir a vida sem influência exterior. Isso tem um eco enorme no imaginário da liberdade individual da direita e da extrema-direita e a questão passou a ser a cor da rejeição aos partidos. Se a rejeição naquela ocasião era vermelha, ela passou a ser verde e amarela. Então, a esquerda contribuiu para que esse quadro de indeterminação, que é favorável à burguesia, se fortalecesse. Porque ela mesma foi às ruas, rejeitando o que é mais coletivo, o que é universal aos que trabalham.
E o esforço de consciência de classe requer um grau de organização muito maior do que o grau de organização em torno de uma luta identitária. O que precisava nas jornadas de junho era um grau de organização muito maior, mas aqueles que estavam na vanguarda impediam que isso ocorresse justamente por causa da ideia de que o problema estava na organização, pois a organização rompe com valores singulares, individuais e caminha na direção de valores universais. Este é o papel da organização: tornar orgânico algo que em princípio não está orgânico entre as pessoas. Então, é nesse sentido que a esquerda e as jornadas de junho contribuíram para esse cenário de indeterminação, de desgaste dos valores até há pouco compartilhados, que é vital para o capitalismo superar suas crises.
IHU On-Line - Você tem classificado as ações da esquerda como “performáticas” no sentido de que elas são uma “tática de visibilidade”, como as manifestações, passeatas, greves convocadas pelos movimentos de esquerda, mas chama atenção para a “ausência de um enraizamento real dos sujeitos coletivos nas suas bases sociais”. Pode nos explicar essa ideia de performance?
Clarisse Gurgel – Quando vieram as jornadas de junho ― e é muito importante dizer que, mesmo com a rejeição a organizações de tradição universal, existia uma constituição de fóruns decisórios, organizativos e deliberativos, numa perspectiva de construir as manifestações de forma coletiva ―, começou-se a testemunhar um crescimento das mobilizações ainda que se sentisse que a ação política não extrapolava aquilo que identificamos como resistência. Ainda se estava no marco da resistência de impedir o aumento de uma tarifa, como foi com a tarifa do transporte público, mas não se estava na perspectiva de disputar um poder.
De toda forma, começávamos a observar uma perspectiva de reorganização da classe trabalhadora pelas ruas, porque ali se fazia revitalizar a crença na luta, a crença numa democracia mais direta, a superação de um certo fetiche na negociação. Ali começava a se vislumbrar o retorno de um imaginário que é importante para recuperar a tarefa de reorganização da classe, porque o enfrentamento de ir para rua é a manifestação de uma democracia direta. O problema é que fomos vítimas de nós mesmos, porque ir para a rua deve ser algo que vincula mobilização com organização. E fomos para a rua desorganizados, sem perspectiva de recuperar valores para além da mobilização, para que as pessoas percebam a importância de se organizar coletivamente. Para isso é preciso ir organizado e com uma direção, mas isso encosta justamente no imaginário que está desgastado e do qual a própria vanguarda é vítima.
IHU On-Line – Sendo assim, quem poderia ter capitalizado essa mobilização desorganizada?
Clarisse Gurgel – A política também é feita de inevitabilidade, então não daria para fazer diferente. O que foi feito foi o que se pôde fazer, ou seja, a realidade era aquela que estava dada e até se fez muito diante da situação.
A Greve Geral do dia 28-4-2017 foi um sucesso dada a conjuntura da esquerda, porque para o que se podia fazer, se fez mais. Então, a questão é: se medirmos a política pela visibilidade, as jornadas de junho foram um sucesso. Mas agora, se você acredita que a luta política é só resistência e só denunciar na rua, o que vai acontecer é que “o grande outro”, aquele que é capaz de dar sentido ― entendendo dar sentido como traduzir e dar um rumo ― é quem tem acesso à estrutura.
Enquanto a esquerda não recuperar a sua tarefa de disputar espaços na estrutura, ela ainda estará refém da subjetivação dos grandes outros que estão acima de nós, como a mídia e a alta burguesia. E subjetivar é justamente dar sentido. A performance nada mais é do que tentar dar a entender que aquilo é espontâneo e que está ganhando forma à medida em que se faz. Mas a forma, quando estamos falando de ações de massa para a massa, quem dá é quem tem poder de traduzir, de fazer a mediação. Diria que as jornadas de junho nascem dramatúrgicas e morrem performáticas, e a greve geral nasce performática e segue dramatúrgica. Vou explicar: o dramatúrgico é aquilo que tem um texto e que carrega, em si, texto, contexto e pretexto. A contraposição que faço é de que é possível fazer política criando um contexto, com um pretexto e um texto, ou seja, uma estrutura e um discurso.
Quando as jornadas de junho começam com a mobilização contra o aumento das tarifas, o que se tem é uma dramaturgia: um texto, que é um discurso de combate, um contexto, que contava com a presença de sujeitos coletivos como o Passe Livre ou o Tarifa Zero, e ainda um pretexto, que era não só impedir o aumento das tarifas, mas recuperar a crença nas ações diretas. Ali tinha uma dramaturgia nos limites do contexto daquele período e o que faltou foi criar um novo contexto para si mesmo, para a própria vanguarda enxergar o mundo de forma diferente do que ela está enxergando. O problema da vanguarda da esquerda é que ela está sendo vítima da própria ideologia burguesa. Nas jornadas o que se teve foi a redundância da ação na rua para a rua, ou seja, ela se restringe à rua e à visibilidade, a ponto de nem mesmo conseguir se organizar para ir para a rua, porque as tensões internas são tão grandes que os fóruns organizativos dos eventos implodem. Isso lembra uma performance teatral: o indivíduo ensaia pouco, faz sua apresentação e volta para casa. Outro vai lá e faz a sua apresentação, cada um com seu cartaz. É algo efêmero, sem grandes consequências.
Depois teve a greve geral, que nasceu performática e seguiu dramatúrgica, porque ela nasceu mobilizando uma figura que não tinha eco na realidade, que é uma greve generalizada, que tem uma espacialidade e uma temporalidade próprias: ela se expande na classe trabalhadora e dura no tempo. A greve geral convocada foi de um único dia, concentrada no tempo presente, tal como uma performance teatral, e ainda foi convocada num contexto em que greve locais não estavam sendo construídas. Isto é importante de se dizer: em nenhum momento os sindicatos conseguiram construir em suas bases sociais uma pauta local, porque a luta de classes requer um subsolo e esse subsolo é local, ainda que se tenha uma dimensão nacional. Não existia subsolo para a greve geral.
Mesmo assim existia algo de favorável para que ela ocorresse, que é o fato de as ameaças à classe trabalhadora serem nacionais. Mas isso não é suficiente para que se faça parar nacionalmente uma atividade produtiva. O que se anunciava previamente para um dia era algo que teria de ser expansivo no espaço, duradouro no tempo e consolidado na base. Justamente por isto a greve nasce performática, mas segue dramatúrgica, porque instituiu um novo contexto, registrou um novo texto e imprimiu um novo pretexto: contou com atores já apáticos, como os rodoviários e metroviários, e com setores que não são da vanguarda da esquerda e que até costumam estar em lado oposto a ela, como algumas igrejas evangélicas e algumas escolas particulares. Estas últimas também tocadas com o que o governo está fazendo com a educação.
Mas a greve também contou com uma mídia internacional que tem interesse em desgastar o Temer, como aquele que não está sendo capaz de cumprir a pauta da burguesia. Contou também com as grandes centrais sindicais, cujo poder de negociação confere aos atos de protesto relativa repercussão na superestrutura. Contar com todos esses fatores permitiu que a greve geral do dia 28 perdurasse para além do dia 28 e criasse uma textura que até hoje nos faz falar dela e pensar quando será a próxima, a ponto de alguns sugerirem que a paralisação do dia 28 foi apenas um ensaio. Então, criou-se um contexto novo de expectativas e revitalizou a política na vida cotidiana. A questão é a direção que assume toda esta dramaturgia.
IHU On-Line – Há uma crítica de jovens intelectuais de que a esquerda tem sido sufocada pela esquerda petista, a qual não dá oportunidade de pensar algo novo à esquerda. Como você vê essa nova geração que tenta trazer outros elementos para pensar o desenvolvimento da esquerda? Diria que há uma disputa interna na esquerda?
Clarisse Gurgel – Esse nova geração – e isso é preocupante – não viu muita coisa que nós vimos, como as Diretas, os resquícios da Ditadura, não conviveu com pais e tios torturados, não viu as reivindicações por direito ao voto, a possibilidade de ter um partido com a face da classe trabalhadora, não viu a formação da CUT, do MST. Nós somos herdeiros disso. Essa geração de hoje, ao contrário, viu um escracho de tudo isso, a ponto de se ter vergonha de reivindicar coisas deste marco. E, para além das gerações, o brasileiro, hoje, perdeu o referencial no serviço público. De certo modo, vivemos uma transição. Saímos de um contexto em que o sonho do sujeito era ser servidor público para servir ao Estado, passamos por um tempo em que o sonho de ser funcionário público traduzia a vontade de ganhar muito e trabalhar pouco, e hoje testemunhamos a hegemonia da crença no empreendedorismo. Porque este é o sinônimo do sucesso numa época em que não estão em questão os valores éticos de cooperação e apoio mútuo, de um mundo sem explorados e exploradores. Falar isto já soa brega.
Para a minha geração, o PT ainda exerce uma influência muito grande, e eu diria que isso não é de todo ruim, porque tudo depende do que estamos falando: se de um PT que carrega nele as referências das pastorais, das greves, da própria forma partido, do trabalho de base, ou de um outro PT que parece exercer um poder maior, que é justamente o PT negocial, o PT do chamado realismo político. Estou vendo meninos jovens com um senso de realismo que é um contrassenso, e com uma falta de ousadia que é a expressão mais torta e constrangedora dessa perda de potência que está, por excelência, em todo o jovem. Se a potência tem que estar conosco até o fim da vida, imagine um jovem impotente achando que o máximo que ele pode fazer na política é equilibrar os índices de miséria para que os pobres saiam da extrema pobreza e possam pagar suas contas ou fazer valer seu emprego. Esse tipo de racionalidade contida e pouco ousada está marcando a juventude e esse é o problema.
Com a Lava Jato, o PT virou vítima, que carrega a imagem de um trabalhador sem dedo, boia-fria, nordestino e que tem o poder de recuperar um passado recente, destruído por Temer. A nostalgia cuida de produzir a amnésia necessária para que o retorno ao que se nunca foi só seja possível por meio do salvador Luiz Inácio Lula da Silva. Neste sentido, o imaginário está riquíssimo para que se embarque na crença de que, ao reciclar o nome de Lula, estaremos mais próximos da revanche. Estaremos, porém, dando volta em torno da mesma ordem de significantes em torno do imaginário do bem sucedido. Poderíamos dizer até que teremos nas eleições um candidato que deve ser exemplo de “bem sucedido”, em que o morto resgata a herança deixada, contra um outro exemplo de “bem sucedido”, como a fundação de um novo modo de fazer política, em temos de Estado empreendedor.
IHU On-Line - Como você está acompanhando a Lava Jato? Quais são as implicações políticas da Operação e, nesse sentido, como avalia a posição de parte da esquerda e da militância petista, em se manifestar a favor do ex-presidente Lula no dia em que ele concedeu depoimento ao juiz Sérgio Moro?
Clarisse Gurgel – Para a Lava Jato só resta uma coisa, que é o arbítrio, nos dois sentidos do termo: que a decisão esteja na mão do Moro e que a decisão seja arbitrária, quer dizer, não tenha fundamento legal. O que resta da Lava Jato para que ela seja consequente em seu projeto é que o Lula seja impedido de se candidatar em 2018. Se isso não acontecer, a operação não terá chegado a seu pleno êxito. Como eles não vão encontrar fundamentos legais para isso, eles vão recorrer a uma medida de exceção, de Estado de Exceção: vai fazer valer uma regra para o Lula, que não vai valer para os outros.
Lula cresce em termos políticos com a Lava Jato. Provavelmente terá a delação de Palocci, e a burguesia e o PSDB estão criando um circo em torno da delação dele, dizendo que quando ele fizer a delação, o projeto do PT vai terminar de ruir. De fato é o que resta ao PSDB dizer, porque o depoimento do Lula serviu de palanque para o próprio Lula.
Acredito que o que Palocci vai dizer não vai criar nada de novo, e a Lava Jato não criará mais nada de novo, porque a devassa na política para produzir esse espaço de indeterminação já foi feita. Ou seja, se as pessoas já não têm mais expectativa na política, não vai ser mobilizando algum mal na política que vai fazer com que as pessoas dirijam sua atenção a ela. O que vai restar ao Judiciário e, ao Moro em especial, é uma atitude drástica e ilegal de modo que ele construa sua legitimidade. É com isso que a Lava Jato conta, com o arbítrio do Moro e a legitimidade construída a partir desses agentes. Que a Lava Jato está sendo uma perseguição ostensiva ao Lula, não tenho a menor dúvida.
IHU On-Line – Como a senhora reage às delações da JBS, que envolvem denúncias contra o presidente Temer e Aécio Neves, e quais as implicações disso para a política daqui para frente, considerando que o presidente disse que não irá renunciar?
Clarrise Gurgel – Temer tinha acabado de indicar dois nomes para o Tribunal Superior Eleitoral - TSE e essa movimentação produziu uma resposta por parte dos interessados nas eleições indiretas. Temer está dando sinais de que não é o nome de consenso da burguesia. Se entendermos, paralelamente a isso, que a Lava Jato não está sendo exitosa em inviabilizar a candidatura de Lula em 2018, há um cenário em que o plano A, que consiste em tornar Lula inelegível, e o plano B, que é derrubar Temer para gerar uma eleição indireta, empurra a situação para um plano C, que é criminalizar Temer para fazer valer uma eleição mais favorável no ambiente do Congresso e viabilizar as reformas requeridas pelo capital. É importante destacar que esses planos A, B e C indicam que não há uma visão comum por parte da burguesia, mas, ao contrário, um desacordo entre o capital.
O “furo” da rede Globo, ao noticiar a gravação envolvendo o presidente Temer, não teve a força que a Globo tentou imprimir num modo espetaculoso de furo de reportagem com direito à interrupção da programação regular. Isto porque o capital, seja financeiro, seja produtivo, não teve unidade na reivindicação da denúncia. Há um setor no empresariado que se instabilizou desde a crise de 2008 e o impeachment de Dilma Rousseff. Este setor passou a compor com partidos agora hegemônicos no processo de renovação da composição do Estado. Mas a notícia da Globo fala mais sobre ela mesma e sobre como procede a burguesia. A Globo é acessória para a queda de Temer, em face da força efetiva de compra dos empresários – a fonte material da chamada “corrupção”. Mas a Globo tem poder de gerar imaginário, basta ver o efeito da vinheta do “Plantão do Jornal” em que a “notícia bombástica” não trazia, ao menos de início, nada de novo, nem incriminava, em termos formais, o presidente. É a Globo também que nos dá acesso as bastidores da economia política brasileira.
Enquanto conversamos aqui, sabemos que os rumos do país serão definidos por aqueles que reúnem maior poder de compra e venda de corpos e almas. Graças a Globo, todos sabem, hoje, que o capital compra, vende e mata. A pergunta que fica no ar é: Por que a Globo estaria disposta a provocar tamanha instabilidade num cenário que já é extremamente instável e numa conjuntura em que só falta um ano para as eleições diretas? A resposta dessa pergunta parece ter algumas faces. Uma delas é que a JBS é uma das maiores patrocinadoras da Globo, que enfrenta uma crise brutal e, portanto, a Globo teve dois motivos, um de ponto de partida e outro de chegada, para veicular aquela notícia. O ponto de partida significa o seguinte: não veicular uma notícia da JBS, sua maior patrocinadora, significaria uma perda de lealdade com essa que é uma das maiores fontes de sustentação da Rede Globo, ou seja, uma empresa ligada à Friboi. O ponto de chegada seria criar um cenário favorável para que um segundo nome de possível candidato à presidência apareça e seja aquele capaz de espelhar o Brasil que está devastado politicamente e que anseia por uma espécie de herói que irá inovar a política. Esse segundo nome seria capaz de implementar as reformas que o capital quer no ritmo e radicalidade que quer, e seria capaz de criar um ambiente de modo a flexibilizar o Estado ainda mais, para que a própria rede Globo seja salva. Essa situação revela o poder que o capital tem, mesmo sem existir um acordo estável entre seus agentes.
A pergunta que fica no ar é: por que Aécio entrou nessa onda de quarta-feira? Porque a movimentação da JBS também tem uma face de respingar a disputa interna do próprio PSDB. A eleição indireta que se anunciava, e que ronda, mais perto de nós, expressa duas movimentações subterrâneas. Uma delas é fruto da judicialização da política, que tem como seu precursor o ministro Gilmar Mendes. O feitiço parece virar, temporariamente, contra o feiticeiro, pois a judicialização forja um novo campo político que, por ventura, é vencedor sobre a parceria Temer-Gilmar. Esse processo de judicialização da política vem forjando quadros no Judiciário para a disputa da República e por isso surgem nomes como o da ministra Cármen Lúcia, de Jobim e de Moro. A outra movimentação indica o nome de Doria como aquele que começa a corresponder à necessidade de que o presidente da República espelhe os anseios de uma sociedade que vive uma crise de indeterminação, em face do dilaceramento de valores históricos. Doria é um empreendedor, sem passado político, que dialoga com o imaginário de um povo condenado ao sonho alienante do empreendedorismo, que tem a política como um mal fantasmagórico e que é interpelado pela vontade de dinheiro como sinônimo de sucesso. Está aí uma alternativa para o PSDB: um sujeito que age por si só e que domina uma 'técnica administrativa' de gestão de um empreendimento. Doria é a encarnação da ausência de limite ético que convoca uma massa à prática de exploração do outro. Razão pela qual o que espelha este cenário devastado, que marca o Brasil, é uma junção de aventura e ciência, um cinismo que conjuga técnica e ousadia. Um mascate mercenário.
Diante dessa situação, o que a esquerda deve fazer? Ela não deveria ser a linha de frente da palavra de ordem do “fora Temer”. Ela deve permanecer gritando “fora Temer”, contando com o fato de que Temer, nas condições em que está, deve permanecer no posto. Este ambiente de impopularidade e de instabilidade precisa perseverar para inviabilizarmos as reformas. É tempo de suspensão dos trabalhos no parlamento. Uma greve no Congresso, em seu sentido mais fiel à prática paredista: uma atitude de parar a atividade mais visível, seguindo fazendo política invisível. A esquerda não deve pegar carona nessas ondas espetaculares que vêm sendo produzidas, mas, ao contrário, disputar a direção dessas manifestações. Gritar “fora Temer” para que ele fique com “um pé fora”.
Algo que fica evidente de tudo isto é que o alvo do imaginário popular tornou-se o chamado ‘político’. O ciclo, que criminaliza a política e termina nela, é o que explica uma inevitabilidade do capital em ter que lidar com o político. E quem acaba sendo poupado é o principal agente dessa lambança, que é o empresariado. A disjunção entre interesse do capital e interesse coletivo não está sendo levada em conta e questionada, e essa é a raiz do que acontece. Quando questionarmos isto, iremos ao ponto da questão. Enquanto o problema do Brasil for o político, estaremos caindo na armadilha que o próprio capital quer.
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Delação dos executivos da JBS. Momento de indeterminação e desacordo entre o capital. Entrevista especial com Clarisse Gurgel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU