No ano de 2015, a crise econômica nacional intensificou-se com a queda de postos de emprego formais no país, no estado e na Região Metropolitana de Porto Alegre. A redução percentual de postos no Vale do Sinos, no entanto, foi a maior de todas.
O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED do Ministério do Trabalho e Previdência Social. É importante que se entenda o contexto no qual o Vale do Sinos está inserido. Os dados do mercado de trabalho formal em 2015 em relação aos de 2014 contribuem para discutir as novas realidades do mercado de trabalho a partir da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS.
Em 2015, o Brasil obteve uma redução de 1.625.551 postos de emprego formais, o que em termos percentuais representa uma queda de 3,28% em apenas 12 meses. Em 2016, conforme projeção do Fundo Monetário Internacional – FMI, a queda do produto interno bruto deverá ser de 3,5%, o que tende a afetar ainda mais a conjuntura do mercado de trabalho formal no país. Segundo o relatório Focus do Banco Central, a retração do PIB em 2016 deve ser menor, de 2,99%.
Para além da crise nacional, o Rio Grande do Sul também apresenta déficit orçamentário e aumento de suas dívidas com a união. Em 2015, a redução de postos de emprego no mercado de trabalho formal chegou a 97.145. Em termos absolutos, esta redução é a quarta maior do país, apenas atrás dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, respectivamente. Esta redução estadual representa uma diminuição de 3,12%, sendo a décima maior redução do país, mas menor que a redução percentual de postos de emprego nacional.
Uma das reduções mais acentuadas do estado ocorreu na Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA, na qual houve redução de 3,49%, acima, inclusive, da redução nacional; 49.682 postos de emprego foram reduzidos em 2015, totalizando, ao final do ano, 1.372.301 postos de emprego ativos.
De acordo com a pesquisa de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE, em 2015, o mercado de trabalho, em que se inclui o mercado de trabalho informal, apresentou redução de vagas na RMPA, sendo que o estoque de desempregados aumentou para 169 mil, sendo um aumento de 56 mil no último ano. Com isso, a taxa de desemprego da região aumentou para 8,7% da população economicamente ativa frente a 5,9% de 2014. De acordo com o relatório, essa taxa obteve aumento tanto devido à contração do nível ocupacional com 31 mil novos desocupados quanto ao ingresso de pessoas ao mercado de trabalho com 25 mil novos indivíduos.
No Vale do Sinos, região composta por 14 municípios e que faz parte da RMPA, a redução de postos de emprego foi ainda maior que nas outras regionalizações, com recuo de 4,52%. A tabela 01 apresenta a movimentação no mercado de trabalho formal da região em 2015, em que apenas um município obteve criação de postos de emprego.
Em 31 de dezembro de 2014, o número de vínculos no mercado formal na região era de 378.433, enquanto no final de 2015 este número passou para 361.339, com uma redução de 4,52%. Metade dos municípios da região apresentou reduções superiores a do Vale do Sinos, com destaque para Estância Velha, que obteve redução de 7,50%. Este município detinha, em 2014, 3,58% dos postos de emprego da região, enquanto ao final de 2015 possuía 3,47%.
No Vale do Sinos, a redução de postos de emprego foi de 4,52%, sendo maior que a do país, do estado e da RMPA. |
O município de Canoas, que possui o maior número de vínculos empregatícios ativos na região, obteve redução de 5,06% em seu mercado de trabalho formal, com 83.470 vínculos ativos em 2015. Com esta redução, ao final de 2015, o município possuía 23,10% dos vínculos ativos da região.
Nova Santa Rita foi o único território analisado no qual houve aumento de postos de emprego, com 0,40%, com um total de 6.478 vínculos ao final de 2015. A representatividade do município quanto ao número de postos de emprego frente ao total da região passou de 1,70% em 2014 para 1,79% em 2015, ou seja, um aumento de representatividade percentual de 5,29%. O município apresentou, também, a maior taxa de movimentação na região, com 1,13 movimentações a cada vínculo ativo (soma-se o número de admitidos e desligados e divide-se o resultado pelo número total de vínculos ativos do ano anterior). No município, o setor que apresentou o maior aumento de postos de emprego foi o da construção civil, com 33,33%.
Apesar de Nova Santa Rita ter aumentado o número de postos de emprego, houve queda acentuada no número de mulheres no mercado de trabalho formal, sendo a quarta maior redução dentre os 14 municípios da região. Ao final de 2015, as mulheres continuam sendo apenas 37,87% dos trabalhadores formais no Vale do Sinos.
A tabela 02 apresenta a realidade da movimentação no mercado formal de trabalho por classificação de sexo em 2015 e mostra que a redução de postos de emprego ocupados por mulheres apresentou queda maior que os ocupados por homens. No Vale do Sinos, 4,67% dos postos de emprego com vínculos femininos ativos foram fechados.
Dos 14 municípios, em oito a redução de postos de emprego com mulheres foi maior que a com homens. Além disso, ao final de 2015, apenas três municípios possuíam mais empregos ocupados pelo gênero feminino do que pelo gênero masculino, sendo que dois destes municípios obtiveram maior redução de postos de emprego ocupados por mulheres no período.
Sapiranga apresentou redução de postos de emprego maior quanto ao sexo masculino, de 4,80%, enquanto os postos ocupados por mulheres foram reduzidos em 1,05%. No município ao final de 2015, 12.020 postos de emprego estavam ocupados por mulheres, o que representa 52,60% dos postos formais do município.
Ao final de 2015, as mulheres continuam sendo apenas 37,87% dos trabalhadores formais no Vale do Sinos. |
Araricá também obteve diferença notável na redução de postos de emprego a partir de cada sexo, sendo que a redução de postos de emprego do sexo masculino foi de 10,82% e no feminino de apenas 1,68%. No município, as maiores reduções setoriais ocorreram nos setores da Indústria da transformação e na Construção Civil; no entanto, o último setor possui pouca representatividade quanto ao total de postos de emprego no município.
Além da diferença de variação de postos de emprego quanto ao sexo, alguns territórios apresentam forte variação quanto à faixa etária. Em Nova Hartz, a redução de postos de emprego de pessoas com 65 anos ou mais foi de 42,11%, enquanto na faixa etária de até 17 anos houve aumento percentual de 52,45%.
A tabela 03 apresenta a movimentação aproximada no mercado formal de trabalho por faixa etária em 2015. Estes dados não são exatos tais como os dados de sexo, visto que não se possui o número de trabalhadores em cada ano de vida específico. Assim, a variação de 2015 foi somada às faixas etárias dos trabalhadores em 2014, ou seja, pessoas que possuíam 17 anos em 2014 e 18 anos em 2015 continuam a ser contabilizadas na faixa etária de até 17 anos nesta tabela. Assim, estima-se que a variação percentual de trabalhadores com até 17 anos seja menor do que a apresentada, assim como a variação percentual negativa de trabalhadores de 65 anos ou mais seja um pouco menor que a apresentada. Por isso, os dados apresentados são detalhados como aproximações.
Destaca-se que a redução de postos de emprego na região foi maior nas faixas etárias mais avançadas, com redução aproximada de 16,88% na faixa etária de 65 anos ou mais e redução de 9,41% na faixa etária de 50 a 64 anos. Em todos os 14 municípios, houve redução de postos de emprego nestas faixas etárias, assim como nas faixas etárias de 30 a 39 e de 40 a 49 anos.
Redução aproximada de 16,88% na faixa etária de 65 anos ou mais no Vale do Sinos |
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Na faixa etária de 25 a 29 anos dois municípios apresentaram aumento de postos de emprego, sendo que em Ivoti houve aumento de 1,44%. Este município também apresentou aumento de postos nas faixas subsequentes anteriores, com aumento de 36,02% na faixa etária de até 17 anos.
Na faixa etária com até 17 anos, todos os municípios apresentaram aumentos aproximados de postos de emprego, sendo o maior destes em Nova Santa Rita, com 89,66%. O menor aumento nesta faixa etária ocorreu no município de Sapucaia do Sul com 19,50%. Neste município, em todas as outras faixas etárias houve redução aproximada dos postos de emprego.
Em São Leopoldo ocorreu a maior redução aproximada de postos de emprego na faixa etária de 18 a 24 anos, com 4,55%, com saldo negativo de 444 postos, sendo ao final de 2015 totalizados 9.799 vínculos ativos, ou seja, 17,04% do total de postos de emprego do município.
A tabela 04 apresenta a movimentação percentual no mercado de trabalho formal por faixa de renda no Vale do Sinos de 2014 a 2015. Destaca-se que nas faixas salariais acima de 1.51 salários mínimos apresentadas houve queda de postos de emprego em todos os territórios.
Em Dois Irmãos, a maior redução de postos de emprego ocorreu na faixa salarial de 1.51 a 4.00 salários mínimos, com queda de 8,17%, superior a registrada no Vale do Sinos. Na região do Sinos, todas as faixas salariais apresentaram queda de postos de emprego, com recuo de 5,29% na faixa salarial de mais de 10 salários mínimos e de 5,33% na de 4.01 a 10.0. A faixa salarial de até 1.50 salários mínimos foi a que apresentou a menor queda de postos de emprego, com recuo de 1,13. No entanto, na faixa salarial de até 0,50 salários mínimos, que não está apresentada na tabela, houve aumento de postos de emprego na região, com 1,42%.
Dos 14 municípios da região, seis apresentaram aumento de postos de emprego na faixa salarial de até 1,5 salários mínimos. Em Esteio, houve aumento de 0,41%.
Já na faixa salarial de 1,51 a 4,00 salários mínimos, o menor recuo ocorreu em Campo Bom, com queda de 3,76% dos postos de emprego. Em Novo Hamburgo também houve recuo nesta faixa, com queda de 6,73, enquanto em Portão o recuo foi de 7,14%.
Em Nova Santa Rita, conforme constata uma moradora, o setor da construção civil aumentou 33,33% o número de postos de emprego devido a locais que estão em crescimento no município e demandam obras. Além disso, a variação negativa de postos de emprego femininos dá-se devido à realidade local em que as famílias são constituídas de forma a mulher não ter a devida valorização no mercado de trabalho e a pouca representatividade da mulher no setor da construção civil, único setor econômico que apresentou aumento de postos de emprego.
A contração de 4,52% no número de postos de emprego da região também diferiu para alguns setores econômicos.
A tabela 05 apresenta a movimentação no mercado de trabalho formal no Vale do Sinos por setor econômico. Na região, dos oito setores econômicos do IBGE, apenas dois apresentaram aumento de postos de emprego no período.
A indústria de transformação, que abrange o maior número de postos de emprego, reduziu-se em 7,33% no período, diminuindo a diferença de postos de emprego neste setor e no setor de serviços. A diferença no número de vínculos ativos nestes setores no final do ano de 2014 foi de 13.791 frente a 7.310 em 2015, sendo que no último ano os dois setores representavam, juntos, 64,71% dos postos de emprego da região, ou seja, dois a cada três postos de emprego vinculavam-se a estes setores.
No Vale do Sinos, o setor que mais aumentou, percentualmente, os postos de emprego foi o da agropecuária, que passou para 711 postos ativos ao final de 2015, sendo o segundo setor que menos emprega formalmente na região. Além deste setor, a administração pública também apresentou aumento de postos de emprego no período, com avanço de 0,53%, totalizando, assim, 32.259 postos em 2015.
As tabelas 06 e 07 apresentam alguns dos 25 subsetores econômicos que se destacaram através do recuo ou do aumento de postos de emprego formais na região, respectivamente. Destaca-se que, em 2015, o subsetor com a maior queda de postos de emprego foi a indústria do material de transporte, que teve redução de 592 postos de emprego, finalizando o ano com 2.405 postos de emprego ativos.
O subsetor econômico, segundo definição do IBGE, que obteve o maior aumento foi o da agricultura e afins, que expandiu em 5,65% o número de postos de emprego, passando para 711 postos de emprego ativos ao final de 2015. Destaca-se que dos 25 subsetores econômicos, apenas 03 tiveram resultado positivo quanto aos postos de emprego, sendo assim os dois subsetores econômicos com os menores recuos percentuais também foram adicionados à tabela 07 para totalizar os cinco setores com os melhores resultados.
Em suma, o ano de 2015 apresentou redução de postos de emprego formais na região, com redução mais elevada nas pessoas de 50 anos ou mais, nas mulheres, nas faixas salariais mais altas e nos setores econômicos da construção civil, da indústria de transformação e da extrativa mineral.