Estupro e feminícidio contra as mulheres cresceram no Vale do Sinos

  • Quinta, 5 de Abril de 2018

O Rio Grande do Sul registrou, ao longo de 2017, 62.974 casos de violência contra as mulheres. O número de casos registrados é 14,5% menor, quando comparado com o ano de 2012, início da série histórica registrada pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. O Vale do Sinos foi responsável por 12,1% dos casos de violência contra as mulheres do estado no ano de 2017. O número de casos na região é 23,6% menor do que o registrado no ano de 2012. 

InfográficoEvolução da violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul

No mês do Dia Internacional da Mulher, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, analisou os dados de violência contra as mulheres no Vale do Sinos.

Eis o texto.

As estatísticas mostram que o combate à violência contra as mulheres precisa avançar muito, mesmo após quase doze anos de promulgação da Lei Maria da Penha. As ameaças sofridas somaram 60,3% dos casos no Rio Grande do Sul. As denúncias contra esse tipo de violência, embora representando mais da metade dos casos, acabaram reduzindo em 15,6%, assim como as lesões corporais, que diminuíram 15,3%. Os casos de estupro aumentaram 14,2% entre os anos de 2012 e 2017. O feminicídio consumado, que é o crime de ódio baseado no gênero, diminuiu 17,8% no estado. Apesar da diminuição do feminicídio consumado, o feminicídio tentado aumentou 41,5% no Rio Grande do Sul.

InfográficoTipos de violência contra as mulheres no Rio Grande do Sul

A cientista social e diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP, Samira Bueno, diz que é difícil afirmar se houve realmente uma redução de violência contra as mulheres, já que a subnotificação é extremamente elevada no país, principalmente nos casos de estupro. “É o crime que apresenta a maior taxa de subnotificação no mundo. Então é difícil avaliar se houve de fato uma redução da incidência”, declara Bueno.



Arte: João Conceição/Infogram

A socióloga Andreia Soares afirma que “é preciso encorajar as mulheres a reduzir a subnotificação dos casos de estupro. Esses números nos ajudam a fazer pressão e nos permitem argumentar em prol de políticas públicas para combater o problema”.

Soares ainda acrescenta: “O perfil das vítimas não muda e continua reproduzindo padrões culturais machistas. A maioria das mulheres vítimas de violência tem trabalho e renda e grau de instrução, o que derruba a ideia de que só a mulher da favela ou pobre é vítima de violência doméstica”.

A socióloga avalia que endurecer as penas não é, necessariamente, o melhor caminho: “Eu acredito que conscientizar é uma via mais rápida. Muitas dessas mulheres não entendem que tenham sofrido violência, por conta de uma educação que acostuma a esse tipo de hábito. É preciso colocar em debate se essas violações devem ser julgadas de uma forma mais dura. Deve partir da sociedade”.

InfográficoEvolução da violência contra as mulheres no Vale do Sinos

As ameaças sofridas somaram 62,5% dos casos de violência contra as mulheres no Vale do Sinos. As denúncias contra esse tipo de violência reduziram em 24,1% entre 2012 e 2017. As lesões corporais também reduziram em 25,9%. Apesar da diminuição das ameaças e das lesões corporais, os casos de feminicídio consumado aumentaram 90,5% e o feminicídio tentado aumentou 28%. Os estupros aumentaram 25,4% entre 2012 e 2017.

InfográficoTipos de violências contra a mulher no Vale do Sinos



Arte: João Conceição/Infogram

A maior taxa de ameaças contras as mulheres em 2017 aconteceu no município de Sapucaia do Sul (87,7%). Os maiores casos de lesões corporais aconteceram no município de Canoas (44,14%). A maior taxa de estupro foi em Araricá, de feminicídio consumado foi em Nova Hartz (1,1%) e de feminicídio tentado foi em Dois Irmãos (2,2%). As violências contra as mulheres não se resumem a apenas ameaça, lesão corporal, estupro ou feminicídio. As violências contra as mulheres também estão presentes no mercado de trabalho, na menor representação e no envolvimento da vida política.

Os dados por municípios gaúchos podem ser acessados aqui.