O número de óbitos médios anuais, na faixa etária de 10 a 19 anos, é de 155 no Vale do Sinos, ou seja, quase 1 a cada 2 dias. Ainda assim, 68% dos óbitos são por causas externas, como acidentes de trânsito e violência, e 81,01% dos óbitos são do sexo masculino.
O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM a partir da base de dados do Tabnet, que é do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS.
Os dados de mortalidade da população adolescente apontam as causas externas como o principal fator para óbitos na região. Na faixa etária de jovens (15 a 29 anos), o homicídio é a principal causa de morte no Brasil. Estes números apontam um número elevado de óbitos que podem ser evitados.
Para a coleta de dados, utilizou-se a faixa etária de 10 a 19 anos, a qual será denominada de faixa etária adolescente. No entanto, o Estatuto da criança e do adolescente considera adolescentes aqueles entre 12 e 18 anos. Ocorre que na coleta de dados há apenas a opção da coleta de dados por faixas etárias de 10 a 14 e de 15 a 19 anos, e não é possível separá-las. Desta forma, neste caso justifica-se o uso da faixa etária de 10 a 19 anos como a faixa etária de adolescentes.
DADOS
A tabela 01 apresenta o número de óbitos da população de 10 a 19 anos nos municípios do Vale do Sinos de 2001 a 2014. Este número tem apresentado oscilações, mas na média são 155 óbitos por ano.
De 2001 a 2014, o maior destaque deu-se em Novo Hamburgo, onde o número de óbitos passou de 55 em 2001 para 22 em 2013. 2001 foi o único ano, neste período, em que o município registrou mais de 40 óbitos.
Em Dois Irmãos, não foram registrados óbitos desta faixa etária nos últimos dois anos. O município foi o único da região a não registrar óbitos em 2014.
Em São Leopoldo ocorrem, em média, 30 óbitos por ano, sendo o segundo maior município em número de óbitos anuais na região. Quase todos os municípios obtiveram redução de óbitos de 2001 a 2014. Sapucaia do Sul passou de 20 para 18 no período. No entanto, de 2011 a 2014, o número de óbitos no município passou de 9 para 18, ou seja, dobrou.
A tabela 02 apresenta a taxa de óbitos, também conhecida como taxa de mortalidade, da população de 10 a 19 anos nos municípios do Vale do Sinos de 2001 a 2014, a cada 10.000 habitantes. Esta taxa divide o número de óbitos pelo número de habitantes e multiplica por 10.000. Este cálculo facilita a comparação entre municípios com populações muito distintas.
No entanto, esta taxa não é adequada para municípios com poucos habitantes, como é o caso de Araricá, visto que qualquer variação unitária no número de óbitos eleva a taxa drasticamente. Desta forma, a tabela 02 apresenta as taxas para os 14 municípios e para o total da região, mas apenas as taxas dos municípios de Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo, assim como a taxa do Vale do Sinos, estão mais adequadas, visto que estes territórios possuem populações de mais de 30.000 habitantes nesta faixa etária.
De 2001 a 2014, a taxa de óbitos foi reduzida no Vale do Sinos. No entanto, ao comparar 2002 a 2014, destaca-se que esta taxa aumenta. Em média, são 7 óbitos a cada 10.000 habitantes adolescentes na região. Em São Leopoldo e em Canoas, a média anual fica em 8 óbitos. Em Novo Hamburgo, são 7.
ÓBITOS POR SEXO
A tabela 03 apresenta o número de óbitos da população de 10 a 19 anos nos municípios do Vale do Sinos em 2014 por sexo. O número de óbitos masculinos neste ano foi aproximadamente 4 vezes maior.
Em 12 dos 14 municípios, houve mais óbitos de homens do que de mulheres. Apenas em Nova Santa Rita foram registrados mais óbitos femininos do que masculinos, 1 a 0. Em Dois Irmãos, não houve óbitos.
Em São Leopoldo e em Canoas, o número de óbitos masculinos foi quase 6 vezes maior que o de óbitos femininos. Em Novo Hamburgo, ocorreram 3 vezes mais óbitos masculinos que femininos.
CAUSAS DOS ÓBITOS
A concentração de óbitos não se dá apenas quanto ao sexo, mas também quanto à causa do óbito. A tabela 04 apresenta os óbitos da população de 10 a 19 anos nos municípios do Vale do Sinos em 2014 conforme a causa do óbito.
A causa do óbito classifica-se através da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID10. Estas classificações agrupam causas de óbito semelhantes em mesmo grupo, mas na busca não permitem a total desagregação dos dados.
A tabela 04 mostra que o capítulo XX apresenta o maior número de óbitos nesta faixa etária; 107 dos 158, ou seja, 67,72% dos óbitos. Este capítulo engloba as causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98). Inserem-se, por exemplo, neste grupo os óbitos por acidentes de trânsito, outras causas externas de traumatismos acidentais, lesões autoprovocadas intencionalmente e agressões. Portanto, as mortes por acidentes de trânsito, suicídio e através de armas de fogo encontram-se neste grupo.
Apesar de não obter os dados para esta faixa etária populacional específica, sabe-se que 16 (2,32%) dos 691 óbitos de 05 a 19 anos da Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA em 2015 ocorreram via lesões autoprovocadas intencionalmente, segundo o SIM; 69 (10%) ocorreram por acidentes de trânsito e 338 (48,91%) por agressões. Como todos os municípios do Vale do Sinos situam-se na RMPA, estima-se que estes dados não variem muito.
A tabela 05 apresenta o número de óbitos da população masculina de 10 a 19 anos nos municípios do Vale do Sinos em 2014 conforme a causa do óbito. Nesta população, o percentual de óbitos classificados no capítulo XX chega a 77,34%.
Dos 128 óbitos, 99 classificam-se no capítulo XX. Novamente, em relação aos dados da RMPA, sabe-se que, em 2015, 308 dos 691 óbitos que ocorreram na faixa etária de 05 a 19 anos deram-se quanto a agressões.
A tabela 06 apresenta o número de óbitos da população feminina de 10 a 19 anos nos municípios do Vale do Sinos em 2014. Dos 30 óbitos, 8 também deram-se no capítulo XX.
Os capítulos I, VI e XVIII apresentaram, cada, 4 óbitos femininos. O capítulo I refere-se a algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99); o capítulo VI, a doenças do sistema nervoso (G00-G99); e o capítulo XVIII, a sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99).
Destaca-se que a maior parte dos óbitos na faixa etária de 10 a 19 anos dá-se no capítulo XX, ou seja, causas externas ao corpo e que, portanto, podem ser evitadas. Em 2014, a cada um mês, ocorrem aproximadamente 10 óbitos por causas externas, ou sejas, evitáveis na população de 10 a 19 anos.
Por Marilene Maia e Matheus Nienow