No seminário “Retratos do Brasil” foram apresentadas informações, a partir dos dados censitários, sobre a mudança demográfica do país, a dinâmica do trabalho formal na região do Vale do Rio dos Sinos e algumas expressões sobre a pobreza. A exposição destas informações foi acompanhada pelo Prof. Dr. José Rogério Lopes, que fez, ao final do evento, alguns apontamentos analíticos sobre os retratos apresentados.
José Rogério Lopes é graduado em Pedagogia pela Universidade de Taubaté, mestre e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. É professor titular do PPG em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos.
Eis os destaques
Pobreza e desigualdade: a pobreza implica em um fenômeno que não tem coincidência com o fenômeno da desigualdade, no então, mesmo sendo processos distintos, são complementares. Em âmbito europeu, os processos de urbanização e industrialização no início do século 20, caracterizam o pobre como aquele que é assistido pelo Estado. Para aquele modelo de desenvolvimento, caracterizado pela urbanização, modernização e industrialização, a dimensão da pobreza é uma dimensão residual sob o ponto de vista da capacidade de agir autonomamente na sociedade. Neste contexto, mais que renda a pobreza revela-se através da autonomia e neste modelo, a assistência dimensiona um aspecto de precarização na capacidade de agir e na integração ao modelo de desenvolvimento social.
Pobreza e economia: Hoje em dia, o conceito de pobreza é um conceito economizado, isto é, a inclusão ou exclusão nos processos econômicos demarca a situação da pobreza nos tempos modernos. Se antes, o conceito de pobre estava mais ligado à dimensão política, hoje, tal conceito está mais ligado à parte econômica. Muito embora, a dimensão política não desapareceu por completo, continua sendo uma dimensão importante de análise.
A geografia da desigualdade: ainda que tenha ocorrido o aumento do contingente da classe média e teoricamente uma redução da pobreza não tivemos uma redução significativa no plano da desigualdade. Esta se acentuou entre aqueles que permaneceram fora da linha da pobreza, as pessoas de renda baixa e, sobretudo entre a população negra de baixa escolaridade. Sob o ponto de vista da distribuição nacional, a pobreza revela-se mais no nordeste, centro-oeste e nos grandes centros as periferias metropolitanas.
Desigualdade, raça e etnia: Ainda que o modelo de desenvolvimento sugira pensar a mobilidade entre as classes a partir da renda, tal fenômeno não se caracteriza nos segmentos que são definidos por raça e etnia. A desigualdade continua penalizando a situação de vida da população negra no país.
Pobreza e Políticas públicas: a passagem da classe C para a classe média se operacionalizou sobretudo por decisões políticas de incremento do trabalho e renda no país, configurado no aumento do emprego formal. Mas também há elementos suficientes para perceber que o crescimento da classe média se deu pelo aumento do mercado informal de trabalho, estabilização da renda e inclusão pelo consumo.
Renda per capita familiar e individual: o emprego é preponderantemente remunerado com dois a três salários mínimos e dá a dimensão de uma classe média onde não se toma como referência a renda per capita individual e sim a renda per capita familiar. O que define os padrões orçamentários para o estabelecimento dos critérios formais da classe média é o orçamento familiar. Desta forma, é a família a unidade orçamentária e não o indivíduo. É nesta unidade familiar que vai se renovando o padrão de sustentabilidade e de conforto, delineado pelo orçamento. Um ótimo exemplo desta configuração pode ser percebido quando da redução do IPI para os eletrodomésticos e atualmente, a influência e repercussão que se dá na redução de IPI para os carros populares.
Todos estes elementos apresentam-se como contribuições para a análise e intervenção nas realidades do Brasil. Este é um dos propósitos do ObservaSinos que semanalmente reúne reúne, sistematiza, analisa e publiciza informações sobre o Vale do Sinos.