O Observatório da realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, em consonância com a realidade da região do Vale, aborda nesta publicação a questão das eleições municipais 2012. A finalidade é buscar o que, para além dos números e indicadores, se apercebe e se vislumbra, seja como limites, seja como possibilidades. De igual forma, a atenção se volta não somente para uma perspectiva institucional: partidos, candidatos, mas também, no sentido de perceber na moldura eleitoral, também os elementos referentes aos eleitores e os indicativos concretos e/ou simbólicos que se pode prospectar desta realidade, que ainda é aprendente da democracia e de seus processos.
O ObservaSinos, para tanto, contactou com o Professor Nadir Lara Junior, Psicólogo social e Professor do PPG Ciências sociais da Unisinos, que colabora na análise dos dados resultantes do processo eleitoral 2012, na região do Vale do Sinos.
Eis a análise
Nos últimos anos percebemos que os partidos políticos estão abdicando de suas ideologias políticas (se é que algum dia tiveram) para se lançarem a uma busca encarniçada pelo poder municipal, estadual e federal. As coligações não se fazem pelos princípios e valores políticos, mas, muitas vezes, por interesses imediatos para a obtenção do poder que está em jogo.
Dessa maneira, fazer uma análise das eleições se atendo aos partidos políticos, é extremamente difícil porque verificamos uma verdadeira bricolagem partidária. Tudo é possível: Alianças entre PT e PPS; PSDB com PC do B. Vejamos o quadro abaixo das coligações feitas nas cidades do Vale dos Sinos.
Esse quadro nos provoca algumas perguntas: todos esses partidos envolvidos nos pleitos eleitorais possuem uma ideologia política que norteia suas ações? Todos esses partidos envolvidos no pleito eleitoral possuem projetos de melhorias dos municípios pautados em um modelo de sociedade e de individuo que o partido julga ser a melhor ou que o prefeito eleito julgue ser a melhor? Essas concepções são reveladas e debatidas nas campanhas políticas?
Evidentemente, que não podemos afirmar que todos os partidos se furtam ao debate político ou que não tenham suas concepções e projetos políticos, no entanto como compreender certas alianças e apertos de mãos em época de campanha? Por que muitos candidatos colocam nas propagandas suas imagens em destaque e a legenda partidária fica quase impossível de ler? O que isso significa?
Talvez, isso signifique aquilo que todos já sabemos: o eleitor se pauta mais pela figura do candidato do que pela plataforma política dos respectivos partidos que eles representam. A campanha fica mais concentrada em criar uma imagem do candidato, do que um debate de ideias e propostas para os municípios.
Sobre os partidos vencedores
No Vale dos Sinos, portanto, olhando o resultado tivemos: 05 prefeituras do PMDB e 05 do PT, 03 do PSDB, 01 do PP, conforme tabela acima. Falava-se em 2008 em um “clarão vermelho” no Vale do Sinos, e agora em 2012, este número de prefeituras diminuiu sensivelmente. Em dois importantes colégios eleitorais (São Leopoldo e Novo Hamburgo), o Partido dos Trabalhadores não conseguiu a reeleição. Qual o significado concreto e simbólico deste fato?
Não se sabe ao certo o que isso significa, pois como nos referimos anteriormente com a ausência das ideologias políticas para regrar a plataforma de governo dos partidos, essas ficam, muitas vezes, determinadas pela mentalidade do Prefeito eleito, por isso a cada eleição temos uma surpresa. Essa afirmação, não era possível de ser feita ao PT, principalmente nos anos 80 e 90, porque tinham claramente uma proposta ideológica de esquerda muito bem estruturada. Principalmente depois do Governo Lula, o PT começa dar sinais de que o mais importante é a busca e manutenção do poder. Acrescentamos a esse enfraquecimento da ideologia de esquerda do PT, o fato dos membros PT estarem sendo acusados de corrupção no cenário nacional e local: “mensalão” em Brasília; em Novo Hamburgo o candidato que venceu as eleições com 53,21% dos votos às eleições está sendo julgado pela Lei da ficha limpa. Em São Leopoldo há graves denúncias de corrupção contra a atual gestão.
Nesse sentido, penso que esse enfraquecimento da proposta política partidária, prejudica a democracia, porque a campanha fica personalizada nas características pessoais do candidato e não em uma plataforma de governo pensada por um coletivo. As fronteiras entre direita e esquerda ficam desgastadas a ponto de não sabermos quem defende o marxismo ou o neoliberalismo. Também os interesses das classes sociais ficam encobertos, com isso não sabemos a que interesses esses partidos defendem.
Considero a democracia, eleições, voto, debate político etc... uma conquista histórica fundamental a qual valorizo muito e que não devemos nos dar o “luxo” de tratá-las com menosprezo ou irresponsabilidades. Por isso penso que os partidos políticos devem ser mais cuidadosos com a frágil democracia brasileira e respeitem a “política” democrática que garante o nosso direito de falar e debater nossas ideias. Se os partidos existirem unicamente para lutar vorazmente pelo poder com estratégias escusas, muitas vezes, poderemos correr o risco de colocar em descrédito popular esses direitos que custaram a vida de tantos brasileiros: A liberdade.