A Diversidade Religiosa no município de Portão – RS

  • Segunda, 11 de Novembro de 2013

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos realizou o acesso e sistematização das informações declaradas pela população do município de Portão nos Censos dos anos 2000 e 2010 referentes à religião. Os dados coletados são objeto da análise elaborada pelo pesquisador Inácio José Spohr, coordenador do programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o EcumenismoGDIREC. ObservaSinos e GDIREC são programas do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Eis o artigo.

O presente trabalho visa apresentar uma breve análise dos dados das amostras dos censos de 2000 e 2010 realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, enfocando a diversidade religiosa presente no município de Portão1.

Situado no Vale do Rio dos Sinos, o município localiza-se às margens da RS-240, a 37 km de Porto Alegre. Emancipado de São Sebastião do Caí e São Leopoldo em 1963, Portão apresenta uma economia caracterizada, entre outras, pela indústria cerâmica, pelo setor coureiro-calçadista e pela produção de frutas e hortaliças. As terras que hoje formam o município de Portão pertenciam inicialmente a Real Feitoria (de propriedade da família imperial do Brasil). Posteriormente foram divididas em lotes (minifúndios) para serem distribuídos às famílias de imigrantes alemães recém-chegados a São Leopoldo.

Segundo o censo de 2010, Portão conta com 30.920 habitantes. Identifica-se que esta população, a partir dos dados censitários, revela ser menos cristã, mais sem religião e sem práticas religiosas de matriz africana e indígena.

Religiões cristãs

A cultura religiosa do município de Portão (tabela 01), assim como em outras cidades da região, é eminentemente cristã: 94,01% da população declarou ser partícipe de alguma denominação religiosa do cristianismo. Contudo, as religiões cristãs tiveram uma redução de 3,9% na década 2000-2010. Contribuíram com esta diminuição as perdas da Igreja Católica Apostólica Romana (8,13%) e as das Religiões Evangélicas de Missão (3,74% – tabela 02).

O conjunto das denominações Evangélicas – Evangélicas de Missão (6,96% –  tabela 02), Evangélicas de origem pentecostal (10,79% – tabela 03) e Evangélica não determinada (5,48% – tabela 04) – somam 23,23% da população. Juntas, tiveram um acréscimo de 3,97% no número de adeptos entre 2000 e 2010.

A Igreja Católica Apostólica Brasileira conta com 24 declarantes (0,08%) somente no censo de 2010, enquanto a Igreja Católica Ortodoxa se encontra ausente em ambos os censos. Outras religiosidades cristãs (0,23%), não determinadas pelo censo, completam o quadro das religiões cristãs no Município de Portão.

Igrejas Evangélicas de Missão

O desempenho das denominações Evangélicas de Missão (tabela 02), assim como a Igreja Católica Romana, apresenta uma diminuição no número de seus adeptos. No censo de 2010, comparado ao de 2000, a redução de adeptos neste grupo de igrejas corresponde a 3,74% dos habitantes do município. Contribuíram com o índice negativo as igrejas Evangélica Luterana (4,91%) e Evangélica Congregacional (0,15%).

Em contrapartida, cresceram, ainda que de forma modesta, as igrejas Metodista (0,09%), Batista (0,9%) e Adventista (0,33%). A Igreja Evangélica Presbiteriana (omitida na tabela) não obteve registros em ambos os censos.

Religiões de origem pentecostal

O conjunto das Religiões Evangélicas de origem pentecostal ganha destaque no Vale do Rio dos Sinos devido a seu desempenho na conquista de novos adeptos e pela visibilidade pública que estão tendo nas últimas décadas. No município de Portão, tiveram um incremento de 3,18% no número de seus adeptos. O crescimento pentecostal se deve principalmente às igrejas Assembleia de Deus (1,81%), o Brasil para Cristo (0,03%), Quadrangular (0,33%), Deus é Amor (0,83%) e “outras Evangélicas de origem pentecostal” (2,21%).

A Igreja Universal do Reino de Deus, por sua vez, diminuiu 2,05% no número de aderentes. Já as igrejas Maranata, Congregação Cristã do Brasil, Casa da Benção, Comunidade Evangélica, Vida Nova e Evangélica Renovada não determinada (retiradas do elenco da tabela 03) não apresentaram registros em ambos os censos.

Evangélicas sem vínculo institucional e não determinada

Este grupo de opções religiosas (tabela 04) apresenta declarantes evangélicos sem vínculo institucional (referentes ao censo de 2000), dos quais 0,36% são Evangélicos (sem identificação) e 0,34% são Evangélicos de origem pentecostal.  A opção “outras religiões evangélicas” reúne outros 0,24% de declarantes.

No censo de 2010 a pesquisa na área das religiões muda a nomenclatura das opções “sem vínculo” e “outras” para “Evangélica não determinada”. A nova forma teve melhor aceitação que a anterior: o registro de aderentes sem um credo específico passa de 0,94% para 5,48%. As opções sem vínculo e não determinada – como grupo – cresceram, portanto, 4,54% entre 2000 e 2010.

Religiões Orientais

As religiões orientais (tabela 05), como em outras áreas urbanas do Vale do Rio dos Sinos, encontram pouquíssimos praticantes no município de Portão. Contudo, tiveram um aumento de 0,11% entre 2000 e 2010.

A Igreja Messiânica Mundial, sem participantes em 2000, obteve 11 pessoas (0,04%) em 2010. A opção “Outras religiões orientais”, igualmente sem adeptos em 2000, registra 22 adeptos (0,08%) em 2010. Já o Budismo (0,04%) se manteve estável em ambos os censos.

Testemunhas de Jeová e Doutrina Espírita

Em relação a este pequeno conjunto de religiões (tabela 06) cabe destacar que o desempenho da Doutrina Espírita no município de Portão confirma a tendência de seu crescimento no Vale do Sinos. Passou de 0,58% para 1,07% da população.

A Igreja Testemunhas de Jeová, a exemplo da Doutrina Espírita, cresceu 0,75% no município de Portão. Em outras cidades do Vale do Rio dos Sinos, no entanto, esta expressão religiosa vem perdendo adeptos entre 2000 e 2010.

Não apresentaram declarantes, em ambos os censos, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e a Espiritualista. Também não houve declarantes de múltiplo pertencimento religioso.

tabela6

Sem religião, ateus e agnósticos

No censo de 2000, o IBGE pesquisou o número dos que se declararam “sem religião”, opção que, naquele ano, obteve 240 adesões (0,97%) junto aos moradores da cidade.

Já no censo de 2010, o IBGE ampliou a pesquisa, perguntando sobre as opções “sem religião/sem religião”, “sem religião/ateu” e “sem religião/agnóstico”. Nesta oportunidade, os habitantes de Portão que optaram, então, pela alternativa ateu somam 22 pessoas (0,07%) enquanto a de agnóstico (dado omitido no elenco acima) ficou sem nenhuma adesão. Os que assinalaram a opção sem religião/sem religião (opção mais facilmente aceita pela sociedade do que a de ateu ou agnóstico) alcançou 3,07% da população. O total dos que se declararam sem religião obteve, portanto, um aumento de 2,17% na década 2000-2010.


Alguns aspectos que chamam a atenção

O desenvolvimento da religiosidade no Município de Portão (tabela 8) chama a atenção sobre alguns aspectos relevantes que merecem destaque. O primeiro diz respeito, por um lado, à diminuição (proporcional) do cristianismo e, por outro, ao aumento da diversidade (ou da dispersão) religiosa neste município. Senão, vejamos.

Na tabela acima é possível observar que algumas religiões cristãs vão perdendo espaço na cultura religiosa do município, enquanto outras acrescentam significativo contingente de novos adeptos. No caso, as igrejas “Católica Romana” (que hoje conta com menos 8,13% de praticantes) e “Evangélicas de Missão” deixaram para trás 11,87% da população da cidade entre 2000 e 2010, enquanto as denominações “Evangélicas de origem pentecostal” tiveram um crescimento que alcança 3,18% sobre o total da população do município. Não obstante, não foi este o grupo religioso que registrou o maior crescimento entre os habitantes de Portão. Este papel coube aos evangélicos identificados como “evangélicos sem vínculo institucional” pelo censo de 2000 e como “evangélica não determinada” pelo de 2010. Ambas as formas parecem designar uma opção religiosa desvinculada de compromissos institucionais, sem frequência fixa a um templo ou denominação religiosa. No ano de 2000, os “sem vínculo institucional” somavam tão somente 0,99% dos habitantes de Portão, mas em 2010 atingem 5,71%. Confere, portanto, um acréscimo de 4,72% de aderentes “evangélicos sem igreja” ou “não determinada”.

Um segundo dado que chama a atenção do observador quanto ao desempenho das religiões no Município de Portão é decorrente do primeiro. Se, por um lado, há uma manifesta diminuição de aderentes cristãos, por outro, em quais formas de crer se encaminham os que deixam suas instituições religiosas de origem? Portanto, trata-se de saber como se comporta o trânsito religioso nesse município. A tabela 08 informa que, enquanto diminuem as denominações cristãs (3,9%), crescem todas as outras expressões religiosas presentes na região. Participam deste crescimento as “Religiões Orientais” (0,11%), “Espírita” e “Testemunhas de Jeová” (1,14%) e os identificados com a opção “múltipla pertença” ou “mal definida” (0,41%). Já os declarantes “sem religião” proporcionaram um aumento de 2,17%. Mais que dobrou o número de seus adeptos.

Também é necessário observar que em Portão não há registros na área das religiões de matriz africana e indígena. Nem mesmo a Umbanda, com significativa presença no Vale do Rio dos Sinos, encontra declarantes neste município.

 

Nota:

1 - Para facilitar a compreensão dos dados, cabem as observações:

  • Esta apresentação procura preservar, na medida do possível, a ordem, similitude e nomenclatura das instituições religiosas existentes no município comumente usadas pelo IBGE, fonte única deste estudo;
  • Os cálculos percentuais aqui efetuados (a) tomam como referência o total da população do município e (b) que todos são da lavra do IBGE, exceto os das colunas intituladas “variação %”;
  • Nem sempre as somas parciais das amostras dos censos correspondem exatamente aos números dos dados gerais dos respectivos censos. Estas diferenças, no entanto, que oscilam entre 0,01 e 0,03%, por serem bastante diminutas, não invalidam a análise emanada dos dados das amostras.