Ambientalização nos cursos das Ciências Econômicas

  • Quarta, 9 de Março de 2016

A ambientalização e a sustentabilidade: subsídios e compromissos com práticas socioambientais estão inseridas nas metas de qualidade de educação, uma vez que se alerta para a qualidade da formação básica do sujeito quanto à consciência ambiental. Discutir esse tema no meio acadêmico é essencial para a construção de um sujeito quanto à educação ambiental.

Ampliar a análise e o debate sobre as realidades do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre a partir das contribuições de acadêmicos e trabalhadores por meio de sistematizações de pesquisas e/ou experiências de intervenção é o objetivo do edital de Apresentação de trabalhos para publicação pelo ObservaSinos/Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Em 2015, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.

O trabalho “Ambientalização nos cursos das Ciências Econômicas”, realizado pelo professor titular do PPG de Ciências Sociais da Unisinos Aloisio Ruscheinsky e também Coordenador do grupo de pesquisa “Sociedade e ambiente: atores, conflitos e políticas ambientais”, pela acadêmica em Letras – Português pela Unisinos e bolsista UNIBIC Diandra dos Santos de Andrade e pela acadêmica em psicologia pela Unisinos e bolsista PIBIC/CNPq Géssica Carneiro da Rosa, procura apresentar a realidade desta discussão no meio acadêmico.

Eis o artigo.

Este artigo apresenta os resultados parciais de um estudo que busca averiguar como a temática da sustentabilidade ambiental está inserida na grade curricular dos cursos das Ciências Econômicas da Unisinos. O projeto de pesquisa foi desenvolvido no PPG Ciências Sociais, sob o título “Ambientalização e sustentabilidade nas universidades: subsídios e compromissos com práticas socioambientais”. A partir das exigências do MEC, com a Lei 9.795/99 se estabelece que uma discussão acerca de questões ambientais seja inserida também no ensino superior.

No decorrer da investigação, realizou-se um levantamento de dados nas ementas dos cursos e entrevistas semiestruturadas com coordenadores dos cursos. As percepções apresentadas neste texto correspondem, especialmente, às informações obtidas nas entrevistas.

A universidade possui uma tradição nas questões ambientais, acumulando conhecimentos de cuidados com o ambiente em diversos setores, promovendo cursos, pesquisas e atividades (extra)curriculares que contemplam discussões sobre a percepção dos problemas sociais e as questões socioambientais.

Em 1996, alguns funcionários se reuniram para estudar ações ligadas às questões ambientais, tais como biodiversidade, consumo de água e energia elétrica, áreas verdes, coleta de lixo, acessibilidade, segurança, etc. Com a incorporação de professores e pesquisadores da universidade, emergiu o programa institucional “Verde Campus”, responsável pela articulação para o futuro Sistema da Gestão Ambiental (SGA).

Essa iniciativa fomentou ações para traduzir práticas ambientais ao cotidiano como um plano diretor ambiental do campus, cujos mecanismos possuem uma trajetória de apropriação, além de forjar ações que, de alguma maneira, conformam indicadores de sustentabilidade1. O SGA pode ser considerado um exemplo sul-americano (1ª Universidade a receber a certificação de gestão ambiental ISO 14001 da América Latina), tendo como desfecho a preservação e a recuperação da qualidade ambiental, assegurando as condições de segurança do trabalho e a qualificação do espaço da universidade, cuja implantação iniciou-se em 2003.

O agravamento da crise ambiental implica em riscos diversos, entre eles as estiagens, as enchentes, a contaminação alimentar, bem como o aumento das ameaças à sustentabilidade dos ecossistemas. Por isso, os espaços de discussão entre pesquisadores e atores sociais do campo ambiental tornaram-se urgentes e, com certeza, socialmente relevantes.

A situação destacada nas entrevistas remete para a transversalização da questão ambiental no ensino superior, razão pela qual cabe apostar em proposições para a Educação Ambiental2, como um processo dinâmico em permanente construção (RUSCHEINSKY, 2014).

Metas da Educação de Qualidade compreendem a inserção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e, por isso, alerta-se para a temática na formação básica do sujeito: a consciência ambiental. As resoluções nacionais, em especial o que estabelecem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (2012), afetam explicitamente todo o sistema educacional em todas as esferas. Conforme o Art. 2º, “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.”A face da transversalidade aparece no artigo 14, no qual se aposta no desafio da construção de “espaços educadores sustentáveis, integrando proposta curricular, gestão democrática, edificações, tornando-as referências de sustentabilidade socioambiental”.

Para dar conta destas exigências, a Unisinos incorporou três áreas do conhecimento ao eixo de formação humanística que pudessem transversalizar os temas relacionados à sustentabilidade, meio ambiente e educação das relações étnico-raciais nos componentes curriculares da graduação: Antropologia, Ética e América Latina.

A partir das entrevistas realizadas, entendemos que o tema da sustentabilidade é uma demanda na área das Ciências Econômicas, e surge atrelado às questões ambientais do cotidiano ao global. Mesmo que em alguns cursos da graduação, por vezes, a temática não seja contemplada com a mesma ênfase, as coordenações se preocupam com a inserção do tema em atividades curriculares. Na época da construção das disciplinas de formação humanística, as coordenações reconheciam a importância desta discussão, uma vez que, de acordo com elas, “sustentabilidade é um tema de apreço”. Logo, construiu-se uma correção de nomenclaturas para uma discussão sobre sustentabilidade e sobre América Latina, exatamente para adotar um viés da complexidade, responsabilidade e cuidado, em consonância crítica com a noção de desenvolvimento.

Outra questão é discutir o sentido do desenvolvimento e até que ponto o crescimento entra em tensão com outras opções de produção e consumo. A complexidade do tema convida a dar conta de propor outro viés ecológico, ecossistêmico. Nas disciplinas, propõe-se um recorte crítico para pensar a sustentabilidade a partir de uma economia de cuidado, com a ponderação de bens ambientais e direitos. A questão da sustentabilidade em debate tem uma abordagem complexa ou integradora (LEAL, 2014), partindo de pressupostos das relações de poder, de políticas públicas, das vicissitudes do saneamento básico, do reconhecimento da natureza como uma alteridade, dos reiterados discursos ecológicos.

As coordenações sensíveis aos temas relativos à sustentabilidade percebem a relevância de discussões aprimoradas para a formação profissional dos sujeitos. Alguns avanços especiais são alcançados quando, de forma colegiada, esses temas alçam uma certa transversalidade, para além de disciplinas específicas. Nas entrevistas se confirma que há docentes que poderiam avançar muito em termos de adesão, visto que a temática pode ser abordada no plano de ensino, mesmo que não proposto, diretamente, nas ementas. Cabe aos educadores incentivarem a discussão, articulando com os conteúdos específicos da disciplina.

Na Unisinos, atualmente, todas as grades de curso possuem atividades que contemplam o tema da sustentabilidade. Isto é fruto da revisão das ementas ou das caracterizações de disciplinas, com inserção de competências, referências e bibliografias sobre sustentabilidade. Na disciplina de Ética, por exemplo, atividade compartilhada com os diversos cursos, se faz uma discussão transversal sob o enfoque da Ética Ambiental como um tema ou um conhecimento a ministrar ou competência a adquirir.

Ao olhar do pesquisador conforma-se uma complexidade quando se trata dos indicadores de sustentabilidade ambiental. “Observa-se que um dos maiores desafios enfrentados na quantificação ou qualificação da sustentabilidade consiste na elaboração de metodologias adequadas que permitam avaliar a sustentabilidade de realidades locais, regionais ou nacionais, posto existirem diferentes características e peculiaridades inerentes aos aspectos sociais, econômicos, ambientais, culturais e institucionais” (Kemerich; Ritter; Borba, 2014, p. 3726).

2 Particularmente como expresso no preâmbulo do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado no Fórum Global das ONGs, em 1992, reconhecendo o papel central da educação na formação de valores e na ação social em prol de sociedades sustentáveis e equitativas.

Referências

KEMERICH, Pedro D.C.; RITTER, Luciana G.; BORBA, Wilian F. Indicadores de sustentabilidade ambiental: métodos e aplicações. Revista Monografias Ambientais, v. 13/5, 2014, p. 3723-3736.

LEAL F., Walter et al. (ed.). Integrative Approaches to Sustainable Development at University Level: Making the Links. Springer, 2014, 422p.

RUSCHEINSKY, A. et al. (org.). Ambientalização nas instituições de educação Superior no Brasil: caminhos trilhados, desafios e possibilidades. São Carlos: USP/São Carlos, 2014, 349p.