O Censo 2010 visitou pouco mais de 67,5 milhões de unidades domiciliares, sendo que 56,7 milhões estavam ocupados, no período de realização da pesquisa. Desta forma a pesquisa censitária possibilita o conhecimento da realidade dos domicílios, dos territórios, dos municípios, estados e país. Uma das expressões da realidade dos domicílios investigados apresenta-se através da infraestrutura do saneamento básico. Através deste dado, revelam-se muitas expressões da realidade em relação à saúde, educação e desenvolvimento.
Gigli Testoni, Odontóloga da Prefeitura Municipal de Estância Velha e aluna do Curso de Especialização em Educação e Informação em Saúde com ênfase em Educação Popular, na Escola de Saúde Pública considera que "as condições de vida das pessoas refletem diretamente na sua condição de saúde. Poderíamos começar falando na auto-estima na formação de crianças sem as condições mínimas da higiene. Quem vai escovar os dentes se não tem um banheiro acessível para formar esse hábito?"
Neste contexto, é indispensável analisar a realidade desvelada através do Censo, cujos resultados preliminares revelam que 1.514.930 domicílios não tinham banheiro de uso exclusivo e não possuíam sanitário. Destes, 23.607 domicílios estão no Rio Grande do Sul, sendo 5,8% destes na região do Vale do Rio dos Sinos.
68,8% dos domicílios brasileiros com banheiro ou sanitários têm como tipo de esgotamento a rede geral de esgoto ou pluvial ou fossa séptica. No Rio Grande do Sul 891.923 domicílios são identificados com "outro" tipo de esgotamento. Sendo que, no questionário aplicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, além das opções citadas acima para tipo de esgotamento havia as opções: fossa rudimentar; vala; rio, lago ou mar e outro. Na região do Vale do Sinos 32.421 domicílios são declarados com outro tipo de esgotamento sanitário.
Eis que nestes índices apresentam-se realidades de desigualdade de acesso e garantia do saneamento e, consequentemente, da saúde pelas famílias. Testoni refere que as desigualdades são inaceitáveis, ou seja, as que clamam por justiça social, são chamadas de iniqüidades em saúde. São diferenças que ainda podem ser corrigidas, alteradas, mas que antes de tudo, poderiam ter sido evitadas. E é nessa direção que é realizado o trabalho dos profissionais da área da saúde e da Odontologia em Saúde Coletiva. Os dentistas das unidades de saúde não podem mais ficar "trancados em seus consultórios", esperando pela doença, mas, pelas razões expostas, devem sair para enfrentar a realidade de seus usuários, buscando sempre na promoção de saúde as verdadeiras causas do adoecimento.
Gigli referencia Botazzo que afirma que o risco de adoecer é social e não biológico. Portanto, para Testoni, "somos impelidos, cada vez mais, a ampliar o objeto de nossas práticas enquanto cirurgiões-dentistas. E o nosso principal foco de ação em comunidades com grande vulnerabilidade social é o de combater essas desigualdades inaceitáveis".
Conhecer esta realidade em números e através do vivido pela população é um dos compromissos do ObservaSinos. Debater e aprofundar esta realidade, confrontando-a com as políticas públicas é um dos objetivos perseguidos pelo Projeto do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, que no dia 10 de agosto realizará mais uma Oficina sobre os Indicadores da Saúde, das 14 às 17h, com a assessoria de Veralice Gonçalves – DATASUS.