A fome é uma das grandes mazelas do mundo e combatê-la é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas - ONU. Em recente relatório conjunto da União Europeia - UE, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO e do Programa Mundial de Alimentos - PAM, foi identificado que dois terços das mais de 113 milhões de pessoas que sofrem com a fome extrema concentram-se em apenas oito países. No Brasil, o histórico da fome é antigo. Ela assola nosso país desde o Brasil Colônia e precisa ser discutida e combatida. É justamente esse o propósito do documentário “Histórias da Fome no Brasil”, que foi debatido no Círculo Cultural da EcoFeira Unisinos, na última quarta-feira (27) de março.
O documentário, dirigido por Camilo Tavares, expõe a fome e a miséria no país em toda a sua história e provoca a discussão de soluções. A roda de conversa aconteceu no corredor em frente ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU e reuniu visitantes e acadêmicos da universidade. A produção apresenta a importância dos programas sociais de políticas públicas para a população vulnerável, além de expor os fatores determinantes para a situação da fome no país, como o desemprego, o desperdício de alimentos e a falta de políticas que garantam a segurança alimentar e nutricional da população.
Impressões do debate
Marina da Rocha, bolsista do Tecnosociais – Unisinos, reforça em sua fala quão necessários são esses programas. Segundo ela, projetos como a merenda escolar e o Fome Zero são fundamentais no desenvolvimento social e cabe à população lutar pela permanência desses programas no país.
Para Carlos Magno Rodrigues, acadêmico de História, um passo importante nessa luta é o apoio à agricultura familiar, descentralizando o poder econômico das grandes empresas do agronegócio. As feiras de produtos orgânicos e de produção local, como a EcoFeira Unisinos, são ótimas opções para isso.
Para Regina Aparecida Lima da Silva, feirante da EcoFeira, há muitos fatores que contribuem para a alarmante situação da fome no Brasil. Regina cita o desemprego e o desperdício como alguns deles. Hoje há 13,1 milhões de brasileiros desempregados, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua.
Anualmente, são desperdiçadas 1,3 bilhão de toneladas de comida no mundo. Enquanto isso, 815 milhões de pessoas passam fome no planeta, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO. A feirante alerta para a urgência de enxergarmos a necessidade do próximo e nos dispormos a ajudá-lo. “Vemos tanta miséria acontecendo em todo lugar e se a gente parar um pouco de pensar só em nós, podemos ajudar quem tem precisado”, afirma ela.
Regina relata o quanto aprendeu com a programação cultural da EcoFeira, como a identificação de Plantas Alimentícias Não convencionais - PANCS e medidas para o aproveitamento total dos alimentos. Esse conhecimento, segundo ela, precisa chegar a outras pessoas.
A troca de saberes entre os participantes do Círculo instigou o debate de soluções para o problema da fome no país e a ideia é levar a discussão aos próximos encontros das atividades da EcoFeira. O Círculo Cultural faz parte da programação cultural da Ecofeira Unisinos e é coordenado pelo prof. Telmo Adams, do PPG de Educação da Unisinos.
Leia mais
- Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo, diz relatório da ONU
- Sem amparo do Estado, mulheres driblam a fome
- O futuro nos reserva a volta da fome a milhões de pessoas
- Famélicos: A fome que o Judiciário não vê
- O capitalismo matará de fome a humanidade até 2050 se não houver mudanças
- A fome não deixou de ser um problema no Brasil. A convivência mútua do desperdício com a insegurança alimentar. Entrevista especial com Gustavo Porpino
- Mercado de trabalho precário eleva número de lares sem renda e com renda muito baixa
- Trabalho e suas interfaces foram o destaque de 2018 no ObservaSinos
- O Papa denuncia o “aumento nocivo de males e misérias” fruto dos maus-tratos infligidos à terra
- Já pobre, Nordeste vive “desastre ocupacional” e avanço da miséria
- ''Um mundo com fome zero é possível.''. Entrevista com Graziano da Silva
- O desperdício nosso de cada dia