04 Agosto 2016
É incrível nestes dias a leitura, em alguns jornais, de comentários incapazes de compreender a participação nas Igrejas, domingo passado durante a Missa, de delegações muçulmanas. Para diminuir o evento se calcula precisamente a relação percentual entre 23.000 presentes e uma comunidade de um milhão e meio de pessoas, como se o tema fosse a realização de uma religião das religiões. Realmente, extremismo e fundamentalismo cegam, fazendo perder de vista o objetivo fundamental: a unidade contra os terroristas, condição necessária para derrotá-los.
O comentário é de Vannino Chiti, senador italiano - PD, presidente da comissão Política da União Europeia, publicado por Huffington Post, 02-08-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Por certo ocorre também a política, que deve assegurar enquanto coordenações mais estritas entre os serviços secretos, em vista da construção de um FBI europeu; controles severos sobre os sites da internet que difundem ideologias de violência e organizam pistas para atentados; talvez a definição de específicas tipologias de crime; o isolamento dos condenados por atos de terrorismo, como na Itália, com o 41 bis, contra máfia e camorra.
A experiência longa e vitoriosa na Itália, que custou tanto sangue e tantas vidas humanas, da luta contra o terrorismo de extrema direita e de extrema esquerda, nos recorda que essenciais para derrotá-lo foram – e continuam sendo – a unidade do povo, das forças democráticas, das organizações da sociedade civil, do mundo da cultura, das comunidades religiosas. Sem um isolamento duro, profundo, ativo das culturas e práticas dos terroristas, magistratura e forças da ordem não conseguiriam prevalecer.
Quando a esquerda, da indiferença, das subvalorações, de palavras de ordem e comportamentos errados, como o célebre slogan que nem com o Estado, nem com as Brigadas Vermelhas se passou a uma denúncia ativa, como aquela heroica de Guido Rossa, a uma ação consciente e difusa em defesa da democracia e de uma convivência fundada sobre os direitos humanos, sem delegar a outros este dever cívico, começou a aproximar-se a derrota definitiva do terrorismo.
Devemos ter claro que mesmo na diferença das referências ideológicas, máfia, criminalidade organizada, terrorismo têm em comum o desprezo da vida, da pessoa e de sua dignidade, o uso da violência: um mesmo percurso se torna por isso necessário, seja para debelar a grande criminalidade, seja para exterminar o terrorismo de matriz islamista, que desafia a civilização.
No plano militar o Isis está sofrendo golpes no Iraque, na Síria e Líbia: age com atentados impiedosos não só na Europa, mas na África e em nações da Ásia. Golpeia, com massacres de inocentes cristãos, muçulmanos, não crentes. O que pode dar-lhe oxigênio é conseguir afirmar no sentir dos povos as razões de um choque de civilizações, de uma guerra de religião. Ajuda-o o passado, uma nossa confusa mas presente memória histórica, que apela a guerras que foram justificadas e mantidas pelas religiões. Pode alimentar este fogo uma história das relações humanas plasmadas a longo prazo sobre o binômio irredutível amigo/inimigo. É o fim que moveu o horrendo assassínio do Padre Jacques Hamel na Igreja de Rouen: este desígnio foi derrotado domingo.
Devemos ser gratos ao Papa Francisco e aos bispos pela forte mensagem vinda de Cracóvia, na Jornada Mundial da Juventude: não existe, não queremos, não nos prestamos a caracterizar como religiosa a barbárie das guerras, os crimes dos terroristas.
Devemos ser gratos ao Imã de Rouen que refutou o funeral muçulmano ao terrorista assassino: não há paraíso, mas condenação para quem mata. Devemos saudar como uma escolha de enorme alcance a presença, no domingo, nas Igrejas, de delegações de muçulmanos. Não era certamente uma conta de potenciais convertidos: é ridículo somente pensá-lo. Os preconceitos ideológicos sempre aprisionam a razão.
A resposta tem sido clara: as religiões, hoje, querem dialogar, se respeitam e pretendem empenhar-se juntas para derrotar os inimigos da civilização. Isto conta. É um primeiro passo, mas de extraordinário relevo, porque o terrorismo não pode ser derrotado somente pela força militar. Os terroristas agora estão nus diante dos povos: a justificação dos seus crimes, de sua violência são a barbárie e a malvadez, não a fé.
Os cidadãos devem estar em campo em primeira pessoa: vigiar, denunciar, isolar o terrorismo. De novo a política tem tarefas urgentes. Como na França, também junto a nós as mesquitas, os imã, a sua formação não devem depender de financiamentos estrangeiros, mas ser assegurados pelas leis que nos países democráticos garantem as liberdades: aquela da fé, aquela do pensamento, o direito a lugares de culto. O Estado democrático não diferencia as relações com os cidadãos na base da fé religiosa que se pode ter ou não ter e que pode mudar no decurso da vida.
É indispensável intervir para realizar, em coerência com o artigo 8 da Constituição, o entendimento com o islã italiano: as comunidades que aceitem o respeito dos direitos e deveres sancionados na Constituição. Nas mesquitas os imã devem falar italiano. Devem poder assistir nos hospitais ou nos cárceres os cidadãos de fé muçulmana. Os financiamentos devem ser rigorosamente italianos. Não é uma concessão aos islamitas que vivem no nosso país; não é uma pretensão sua. É o bem comum representado por uma convivência fundada sobre os direitos humanos, sobre a responsabilidade e a liberdade, sobre a democracia. Valores estes não de qualquer um, mas que podem tornar mais justa e digna uma sociedade, somente se são sentidos e vividos como pertencentes a todos, a cada cidadão.
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Muçulmanos em Igreja, alguns comentários verdadeiramente incríveis. As religiões querem dialogar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU