08 Julho 2016
Em todo o mundo, parece que a convocação do Papa Francisco para que a Igreja se desculpe com as pessoas LGBTs está gerando reações mistas da própria comunidade LGBT. Enquanto alguns acham que a declaração do papa foi, na melhor das hipóteses, da boca para fora, outros encontraram nele uma grande dose de esperança.
A reportagem é de Bob Shine, do movimento New Ways Ministry, publicada por Bondings 2.0, 29-06-2016. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Críticos têm questionado que tipo de credibilidade o pedido de desculpas pode possuir se não houverem ações, ou mesmo a admissão de problemas implícitos. Jamie Manson, editor de livros da National Catholic Reporter, comentou no Facebook:
"O papa quer que a igreja peça desculpas para os gays por marginalizá-los, ao mesmo tempo que defende os ensinamentos do Catecismo sobre a homossexualidade. Você não pode pedir desculpas às pessoas e ao mesmo tempo reafirmar a doutrina que as prejudica. Isso é justamente disfuncional, se não for descaradamente abusivo".
Dindi Tan, um defensor LGBT nas Filipinas, disse que "a ferida é muito profunda para ser amenizada por palavras tão reconfortantes" assim como nos comentários do Papa Francisco, e as pessoas LGBT esperam por uma "mudança formal da política da Igreja quando se trata de pessoas LGBT, nossos direitos e nosso bem-estar".
Juan Carlos Cruz, um homem gay no Chile, notando que o Vaticano rejeitou o embaixador da França porque ele era um homem gay que havia casado este ano, disse ao Washington Blade:
" 'Toda vez desde que ele se tornou papa, tudo o que ele diz é sim, mas não há nenhum continuidade. . .Tudo o que vemos são lemas vazios'. “
Outros católicos responderam mais positivamente, acolhendo a convocação do Papa Francisco, mas solicitando ações para sustentar suas palavras. Quest, um grupo de católicos LGBTs no Reino Unido, lançou uma declaração chamando as afirmações do papa de "um momento decisivo" sobre qual forma a Igreja trata as pessoas lésbicas e gays. A declaração continua:
"As palavras de desculpas, no entanto, não são suficientes. O Papa Francisco reconheceu o dano produzido pela Igreja no passado. Como o padre James Martin S.J. observou em um post [do Facebook], este dano é real e profundo, e para muitos católicos LGBTs, não é apenas uma questão do passado, mas continua, ainda hoje. Dores e feridas requerem cura. Uma última resolução de 2015, do Sínodo da Família, decidiu que a atenção pastoral especial deve ser dada às famílias com pessoas gays ou lésbicas. Essas famílias, certamente, incluem aquelas chefiadas pelas próprias lésbicas e gays".
A Quest convocou os bispos britânicos para "expandirem e aprimorarem" os cuidados das pastorais existentes para as pessoas LGBTs, e ofereceu sua ajuda. Vale a pena notar que a Quest disse ser lamentável que o Papa Francisco não se desculpasse especificamente para os católicos transgêneros também.
Michael Sean Winters, colunista do National Catholic Reporter, disse que o Papa Francisco havia "feito de novo", o que significa que ele fez "nada mais do que expressar um sentimento decente e honesto, e que não contradiz a doutrina da Igreja." Observando que esses sentimentos não deveriam ser marcantes, Winters oferece três pontos para dizer o contrário. Ele escreveu, em parte:
"Os comentários do Papa Francisco estão em absoluto contraste com aqueles comentários que colocam todos os tipos de qualificações na sua afirmação de dignidade das pessoas homossexuais, inclusive a humanidade. Alguns clérigos, pelo menos os clérigos católicos deste país, estão dispostos a afirmar a dignidade das pessoas homossexuais, e ponto final. Logo, há tempo para discutir os ensinamentos da Igreja sobre as finalidades adequadas para o ato sexual. Normalmente, mesmo aqueles que entendem que a igreja precisa desenvolver sua teologia completamente inadequada sobre a homossexualidade, e mesmo aqueles que orientam claramente sobre as guerras culturais, amarram-se em nós com 'poréns' e 'por outro lados' e 'entretantos'. O Papa Francisco quase nunca profere tais palavras.
"Em segundo lugar, os comentários do Papa contrastam com a relutância de muitos bispos, inclusive os considerados bons, de expressar as palavras" gay "ou" lésbica". . .É quase impossível exagerar o grau em que a obsessão Jansenística com questões sexuais tem distorcido a pregação do Evangelho, especialmente aqui nos EUA. Você pode explorar os trabalhadores, pode degradar o meio ambiente, e você pode subir em uma cama ideológica com os irmãos Koch, mas contanto que você se oponha 'àqueles que experimentam a atração pelo mesmo sexo,' você será marcado como ortodoxo.
"Em terceiro lugar, é claro, os comentários do papa distinguem-no daqueles que realmente são odiosos quando se trata de gays e lésbicas. “
[O Padre Jesuíta Thomas Reese, recentemente nomeado presidente da Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional, destacou a ligação entre a convocação do Papa Francisco e a face da violência LGBT em curso. Ele disse ao The New York Times:
"Há um monte de gente no Vaticano que não gosta que a Igreja nunca admita que nunca fizemos nada de errado. . .Com gays, é especialmente importante porque eles ainda estão sujeitos a perseguição e discriminação em todo o mundo, até mesmo nos Estados Unidos".
O prefeito de Seattle, Ed Murray, que é católico e gay, disse ao SeattlePi que, depois de semanas que o deixaram atordoado, a convocação do Papa Francisco era "verdadeiramente sustentável e profundamente comovente", e apesar dos problemas do mundo, talvez, "haja um caminho para a cura."
Famílias Afortunadas, uma rede de pais católicos de crianças LGBTs, lançou uma declaração agradecendo ao papa por seu comentário, mas também chamando-o para a reforma:
"Sim, os católicos e as outras igrejas cristãs têm marginalizado os nossos filhos, e eles merecem um pedido de desculpas, mas ainda mais, eles merecem o apoio que faz com que se sintam bem-vindos em nossas igrejas. As palavras "objetivamente perturbado" e "intrinsecamente mau intencionado" têm dado munição para aqueles que irão prejudicar os nossos filhos, e quando internalizadas, muitas vezes produzem auto-aversões pouco saudáveis. Uma parte significativa deste pedido de desculpas deve perpassar a interrupção do uso dessa linguagem. Arrepender-se deve resultar em uma mudança na política da Igreja. Os bispos e clérigos chegando a ouvir as experiências de pessoas LGBT+Pessoas, educando-se sobre os problemas de pessoas LGBT+Comunidade , e acolhendo as pessoas LGBT+grupos de suporte em espaços paroquiais, seria um excelente começo para reparar os danos que anos de condenação fizeram".
Deb Word, ex-presidente das Famílias Afortunadas, estava esperançosa sobre as declarações do Papa Francisco. Ouvindo a notícia de desculpas do papa depois de participar de um serviço Episcopal, comemorando o casamento entre pessoas do mesmo sexo, no último domingo, Word escreve, no blog das Famílias Afortunadas o seguinte:
"Minha igreja pode estar mudando lentamente ... Eu acredito que para a maior parte das pessoas nos bancos das Igrejas fizeram as pazes com o fato de que nossos filhos em relacionamentos amorosos não apresentam qualquer ameaça ou dano. Mas a linguagem que a hierarquia usa ainda é picante- continua dolorosa de ouvir ou utilizar, e creio que falsa.
"Estou animado que o Papa Francisco parece ter entendido. Sentei-me na Igreja hoje e me perguntei se alguma vez isso poderia acontecer - voltar para casa e ver isto ... Bem que me faz sorrir"!
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Católicos divididos na valorização da convocação do Papa Francisco por desculpas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU